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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.
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Metamorfose preciosa: Celebrando um dos ícones da Bulgari

Criada no final dos anos 1940, a Serpenti só melhora com o tempo

Por Renata Brosina
18 jul 2023, 08h24
Metamorfose preciosa: Celebrando um dos ícones da Bulgari
Metamorfose preciosa: Celebrando um dos ícones da Bulgari (Bulgari/Colagens: Catarina Moura/Divulgação)
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Feche os olhos e pense em Elizabeth Taylor no filme Cleópatra (1963). Aposto que a imagem opulenta, repleta de ouro e joias, virá à mente sem muita dificuldade. Para além do figurino impecável, assinado pela vencedora do Oscar Renié Conley, outra peça chamou a atenção da imprensa: um relógio-bracelete em formato de serpente, de ouro e diamantes incrustados. A peça foi usada no backstage, quando Liz, já na sua própria pele, a exibiu em um look casual, mostrando a facilidade de levar algo tão marcante para fora do contexto do filme — o famoso “do escritório ao red carpet”. Mal sabia ela que aquele momento faria parte da história da Bulgari e da celebração de um dos seus maiores ícones: a Serpenti. Em 2023, ela faz seu 75º aniversário como um dos maiores símbolos de atemporalidade e desejo do universo do luxo.

Metamorfose preciosa: Celebrando um dos ícones da Bulgari
Metamorfose preciosa: Celebrando um dos ícones da Bulgari (Bulgari/Colagens: Catarina Moura/Divulgação)

Nas palavras de Lucia Silvestri, nome por trás das criações de joalheria da grife, reinterpretar a Serpenti, sem alterar a sua identidade, é um desafio inspirador. Se a energia universal em constante renovação é representada pelo ouroboros, a cobra mordendo sua cauda em um ciclo infinito, no histórico da maison italiana, há uma prioridade em provar as inúmeras possibilidades de sua evolução. Dos relógios à Alta Joalheria, as coleções, ao longo do tempo, trouxeram a ideia de mudança na combinação de pedras, possibilidades de shapes e metais, e a expansão nos segmentos. Tudo ao encontro dos conceitos-base da Bulgari, como a mitologia grega, origem do fundador Sotirio Bulgari, e romana, berço da grife. Na antiguidade, acreditava-se que o animal possuía poderes regenerativos pela sua capacidade de trocar de pele — e estar mais forte.

No final dos anos 1940, a primeira Serpenti foi criada pelos herdeiros do sobrenome Constantino e Giorgio Bulgari, com a proposta de conectar a joalheria e a relojoaria de maneira inédita. A pulseira, apelidada de Tubogas, foi uma inovação naquele período e a responsável por garantir o futuro da serpente. Para chegar na estrutura flexível, a construção foi baseada em tiras de ouro que envolvem o interior de aço, sem solda e com perfeição no quesito maleabilidade.

Tal investimento na técnica com ar industrial foi uma das principais razões pela grande visibilidade (também no sentido literal) da peça nos pulsos de mulheres com olhar de vanguarda. Afinal, o modelo, à distância, era reconhecível por apresentar seu formato de cauda subindo pelo braço em direção à mão. A caixa do mostrador, por sua vez, localizada na cabeça do animal, já carregava gemas preciosas, mas sem os contrastes de cores que vemos hoje. Mesmo trabalhando com ousadia em tempos pós-Guerra, a casa italiana só investiu na apresentação decorativa do relógio nos anos 1950, quando rubis, esmeraldas e diamantes eram usados para sinalizar os olhos do réptil. E a prova do sabor por explorar novos materiais e técnicas abriu espaço para uma revolução estética cerca de dez anos mais tarde.

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Metamorfose preciosa: Celebrando um dos ícones da Bulgari
Metamorfose preciosa: Celebrando um dos ícones da Bulgari (Bulgari/Divulgação)

O olhar para o design foi direcionado às escamas da serpente, quando propostas compostas por relevos, pedras preciosas (aplicadas manualmente, diga-se) e esmaltes coloridos passaram a vibrar nas pulseiras. Aqui, a Bulgari soube brincar com a maneira como a caixa do mostrador do relógio se escondia na boca da serpente. Ar lúdico que conquistou espaço na joalheria e não deixou de ser trabalhado pela maison.

Por exemplo, na coleção de Alta Joalheria de 2022, batizada “Éden, The Garden of Wonders”. Nela, um colar é composto por duas serpentes em corpos de platina entrelaçados e cobertos por diamantes, com cabeças em direção à safira em forma de gota de 61,30ct do Sri-Lanka. Nas mãos dos artesãos da marca, a peça demanda 1.700 horas de trabalho. Fora dos ateliês de Alta Joalheria, a serpente rasteja facilmente entre ocasiões, por ter conquistado interpretações versáteis e minimalistas. Além da tradicional linha Serpenti, com sua cabeça arredondada e que segue o design charmoso do primeiro relógio, há a variação Serpenti Viper, construída a partir de traços geométricos para dar um tom de modernidade ao grande ícone. Nos acessórios, por sua vez, bolsas, pequenos itens de couro, óculos e pulseiras celebram o réptil como alternativa para se manter presente no dia a dia das mulheres que, assim como a serpente, vivem um ritmo de mudanças eternas. Uma troca perpétua de pele, que exige força, ousadia e elegância — tudo na mesma medida.

Se Elizabeth Taylor foi uma das primeiras que relacionei ao pensar na Serpenti, também podemos pensar nela quando falamos sobre independência feminina. Afinal, a musa do cinema é conhecida por ser a primeira atriz a receber um salário milionário por causa de um filme (o da rainha egípcia). Uma liberdade que, aliás, transcende o poder financeiro: ela decidiu se divorciar do seu então marido, Eddie Fisher, para ficar com o colega de filmagem, Richard Burton. Se o relógio Serpenti, presente do ator, tem algo a ver com o movimento, não sabemos. Mas parece que a criação da Bulgari está envolvida com histórias felizes e de encanto sem fim.

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