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Kika Gama Lobo

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Focada na maturidade como plataforma pessoal, a jornalista Kika Gama Lobo escreve sobre as sensações e barreiras que as mulheres 50+ vivenciam
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“Eu não consigo respirar”

O que eu imaginava que eram apenas lembranças de um tempo odioso, continuam sendo a realidade de muitos

Por Kika Gama Lobo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 jun 2020, 16h00 - Publicado em 3 jun 2020, 16h00
 (Barcroft Media/Getty Images)
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Diante desta frase, mantra mundial contra a violência racista, coloco na berlinda minhas lembranças de um jeito de conviver com o preconceito que desde menina me rondou.

Sou branca azeda. Classe média carioca, nascida no auge do Golpe Militar. Família padrão, careta, do psiu-psiu, que colocava tudo de conflitante debaixo do tapete. Confesso que sempre convivi com xingamentos aos negros. Difícil admitir isso, mas precisamos passar uma borracha no passado e ter pena daqueles brancos que dividiram o mundo em castas imaginárias. Dei uma retrocedida no túnel da vida e resgatei várias passagens racistas. Vocês lembram que em seus prédios, as pessoas “de cor” só subiam nos elevadores de serviço? Quando havia duas pessoas esperando no hall, a branca passava na frente enquanto a “de cor” aguardava? E aquela sua amiguinha “de cor” que sempre brincava com você na praia e, ao ir ao seu apartamento, na hora do jantar, comia com os empregados na cozinha?

No calçadão aqui no Rio, todos iguais. Mas na festinha, nos embalos de sábado à noite, as meninas brancas faziam seus grupinhos e, invariavelmente, os “de cor” eram preteridos ao “boy magia” de olhos azuis e cachinhos dourados? E nas conversas de adultos, tomando seus drinks, a matriarca, ao se referir a uma determinada mulher “de cor”, tentava achar algum defeito (inexistente) apenas por ela ser negra? “Pele morena”, “Escurinha”, “Nigrinha”.

São lembranças odiosas, de um tempo não tão longínquo, perdido entre o fim dos anos 60 e meados dos 70. Empregadas domésticas uniformizadas. Babás engomadas. Motoristas trajados. Os cabelos presos bem pra trás, sempre com um lenço, para domar os fios. Os cortes masculinos sempre baixinhos e nunca “Black Power”. Unhas aparadas. Desodorante em dia. Lembro-me dos comentários sobre o “cêcê” que a pele negra exalava. E neste ir e vir de nojentas lembranças familiares eu peço perdão à humanidade negra. Acho que os brancos trazem em si um olhar de preconceito que em algum momento grita. Quem nunca atravessou a rua por que um moleque negro parecia vir em sua direção? Segurou mais fortemente sua bolsa no mercado porque viu uma pessoa preta,  suspeita,  no corredor da frente?

Hoje, lendo o livro Escravidão do Laurentino Gomes me pego marejada. Tanta opressão. Tanta dor. Negros moídos em seus passados apenas pela cor da pele. E olho aqui do meu apartamento em Ipanema para a favela na minha frente. Empilhados, agrupados, amontoados eles continuam resistindo. Só que dessa vez falam cada vez mais alto. E posso pressentir que um novo tempo está chegando. Os “de cor” vão fazer um barulho tão grande que iremos respirar juntos, afinal #vidasnegrasebrancasimportam.

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Todas as mulheres podem (e devem) assumir postura antirracista

 

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