Clubhouse para os maduros
"Me apaixonei por vozes, justo agora nesta época imagética e de textos, a isca master da Clubhouse é a voz", escreve Kika Gama Lobo
Sim, há nova vida inteligente na palma da mão. Isso se você tiver um iPhone porque a nova brincadeirinha intelectual-baboseira-incrível é a rede social Clubhouse, espécie de rádio contemporânea com acesso imediato dos ouvintes à algum bate-papo que esteja em curso.
Entrei faz uma semana e já viciei. Ouvi querelas interessantíssimas e outras super bobas, igualmente sedutoras. Me apaixonei por vozes, justo agora nesta época imagética e de textos, a isca master da Clubhouse é a voz. Se sai da sua boca aquele som de motel, de aeroporto ou de programa zen, você está feito. Se você tem voz esganiçada, estridente, gaga, melhor ir atrás de uma fono. Brincadeirinha. Chega de modelos perfeitos.
Aliás, depois que virei cota, sim as balzacas 50+ se igualam a negros, deficientes e indígenas em sua invisibilidade que – juntando-se ao gênero feminino somos nulas – eu decidi que sou mesmo pelas minorias. Adoro um looser, uma pessoa fora da caixa, aquela que não se encaixa.
Se eu já era livre para pensar de forma avessa, injetei ainda mais cores neste meu arco-íris irreverente. Acho chato, me dá sono aquela pessoa feliz. Sempre desconfiei de pessoas extremante felizes. Sei não… devem ter um reboco de verniz em cima da realidade ou um arsenal de ansiolíticos para viverem sempre sorrindo, postando que a vida é sempre bela.
Mas deixemos de lado meu jeitão gauche na vida e voltemos ao clubinho da escuta, logo eu que sou do tempo do Clube da Esquina. Piada infame né, sem graça. Mas o fato é que já estou me organizando para criar salas de conversas. Fico pensando nos temas: “Masturbação na idade madura?” “Pindaíba para pagar os boletos?” “Organizando seu funeral?”
Salvo o primeiro assunto, acho que preciso ser mais popular nos temas para angariar ouvintes. Do jeito que minha cabeça pensa e minha língua profere, só os melancólicos, depressivos e desajustados virão. Aproveita e me acha lá. Quem sabe não batemos um papo-cabeça?