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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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A mulher negra e a eterna construção do amor-próprio

Ou porque ser uma mulher negra feliz é um ato revolucionário

Por Juliana Borges
Atualizado em 20 nov 2019, 09h00 - Publicado em 20 nov 2019, 08h00

Há cinco anos, escrevi sobre autoestima e o significado de amor-próprio para mulheres negras. O ponto de partida foi uma frase dita por uma amiga à época, quando conversávamos sobre um relacionamento meu de muitas idas e vindas. Ela dizia que eu devia seguir em frente e, principalmente, buscar a felicidade em mim mesma. “Uma mulher negra feliz é um ato revolucionário”, exclamou. Foi tão marcante que, como consequência, se tornou o título do texto que escrevi então – e que ganha uma segunda parte agora.

Muita gente não entendeu naquele momento, inclusive mulheres negras. Mas, quando pedem para você imaginar uma mulher bonita, o que lhe vem à cabeça? Tempos atrás, ativistas e organizações negras questionaram o Google por seu banco de imagens. Quando se digitava na busca “mulher bonita”, aparecia um tipo de beleza: branca e loira. Para encontrar uma morena, mulher branca de cabelo escuro, era preciso descer bastante a barra de rolagem. Eu resolvi refazer a busca enquanto escrevia este texto para não ser injusta. Mais mulheres morenas apareceram. Só na sétima fileira de imagens tinha uma mulher negra. A segunda mulher negra apareceu na 11ª fileira de imagens e era ninguém mais ninguém menos do que Beyoncé.

As imagens de controle são, como aponta a intelectual Patricia Hill Collins, estereótipos, que têm como objetivo não a representação do real, mas uma mistificação de sujeitos. Ou seja, são instrumentos de controle e dominação para fazer com que “injustiças sociais pareçam naturais, normais e inevitáveis na vida cotidiana”. E as imagens de controle de mulheres negras são construídas em representações como de serviçais, trabalhadoras braçais, domésticas – no pior sentido de domesticação; ou como matriarcas agressivas, retirando nossa feminilidade; como dependentes do Estado; ou ainda com uma imagem hipersexualizada, como se elas fossem “sexualmente agressivas”. Ao falar sobre isso, como afirmei, não estou me referindo somente a mulheres negras, mas também a uma organização de representações que impactam todas as mulheres, já que para as brancas serão construídas representações de docilidade, de ideal de corpo e feminilidade que do mesmo modo as aprisionam sob a dominação patriarcal.

A despeito dessas imagens de controle, mulheres negras têm historicamente se visto de outra forma, construído outras possibilidades de ser e viver. Sobre isso, gosto do que diz Bell Hooks, que o processo de ser e viver como mulher negra é lidar com uma reconstrução diária sobre como nos vemos, sobre retomarmos o amor. Ou seja, a capacidade de construção do amor por nós mesmas para que tenhamos capacidade de dar o amor sem que para tanto nos anulemos.

A potência revolucionária dessa reconstrução se estabelece porque amar a nós mesmas significa uma ação de completa subversão. Significa que não aceitaremos mais qualquer coisa que nos seja apresentada. Ser bonita, portanto, não pressupõe seguir essa série de padrões inalcançáveis. Pelo contrário. Pressupõe buscar essa felicidade de modo que mantenhamos nossa integridade, nos vejamos como sujeitas e protagonistas das nossas histórias.

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Assim, afirmar que “uma mulher negra feliz é um ato revolucionário” tem imensa força. Porque estamos falando de um processo potente de reconhecimento e de transformação. É por isso que nada assusta mais do que mulheres felizes. A felicidade transborda, abre espaço e ilumina. E a gente só precisa de caminhos iluminados para desbravar o mundo.

Juliana Borges é feminista negra e autora do livro Encarceramento em Massa, da coleção Feminismos Plurais (Pólen Livros)

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