Novembro: “black is beautiful”
Conceição Evaristo, aos 75 anos, resume o significado de afeto e resistência em sua imagem com a filha Ainá no colo: “É a foto mais bonita do mundo”
Black is beautiful. Uma das vozes mais importantes da história da literatura brasileira, Conceição Evaristo, aos 75 anos, ainda precisa repetir essa ideia. “Essa afirmação da negritude na sociedade brasileira não está completa”, disse a grande escritora para a editora Joana Oliveira durante a entrevista realizada em sua casa, no Morro da Conceição, no Rio.
Que o óbvio ainda precise ser reforçado é um sintoma da nossa época. Que a beleza das suas palavras transcenda o tempo é um sinal inequívoco da imortalidade da sua escrevivência.
Para um dos retratos, a artista Juh Almeida propôs a confecção de um manto com retratos. Amigos e parentes queridos presentes no seu livro Becos da Memória aparecem ao lado de figuras de semblante altivo clicadas por Juh. Gravados em preto e branco sobre quadrados de algodão alinhavados à mão com linha vermelha, costuram ali um painel ancestral onde brilha a vencedora do Prêmio Jabuti por Olhos D’Água.
Em nenhuma outra imagem, porém, os olhos de dona Conceição Evaristo brilharam tanto como quando sua filha, Ainá, sentou-se em seu colo. “É a foto mais bonita do mundo”, sentenciou. Eis a nossa capa de novembro.
A beleza também está no protagonismo do audiovisual, na ancestralidade das tranças, uma sabedoria que passa de geração para geração, e na força do projeto Potencializadoras, uma parceria de CLAUDIA, PretaHub e Meta que destaca e incentiva ações empreendedoras de mulheres negras que mudaram as suas vidas, e a de todo seu entorno, com negócios voltados para a valorização da cultura, da educação e da diversidade.
Da “vida que se escreve na vivência de cada pessoa, assim como cada um escreve o mundo em que vive”, como generosamente nos ensina Conceição, nasce um poema-diário, escrito em cada decisão sobre como vamos cuidar do mundo e cultivar um espaço onde todos possam ser, por inteiro.
Errata: Ao contrário do que foi publicado na edição impressa 734, a proposta de criação de um manto com retratos para a realização do retrato de Conceição Evaristo foi da artista Juh Almeida, não da diretora de arte Kareen Sayuri, que ficou responsável apenas pela confecção do mesmo.