Maior Festival de Dança do Mundo destaca dançarinos de 60+ a 80+
Com apresentações de companhias mundiais, palcos por toda a cidade e grupos de dança, Festival de Joinville comemora mais uma edição e emociona o público
Com um pouco de atraso e após alguns longos anos sem visitar o evento, estive no maior Festival de Dança do Mundo sediado em Joinville (SC), e confesso que me emocionei muito. Para quem é apaixonado pela dança como eu, estar por 13 dias em um lugar que se respira a arte 24h por dia é realmente especial.
Quando o Festival de Dança de Joinville encerrou esta edição, o resultado realmente surpreendeu, pois teve um recorde em número de participantes: mais de 15.300 inscritos na 41ª edição. O evento é considerado o maior do mundo e conta com registro no Guinness Book.
Em 2002, quando foi citado pela primeira vez como maior do mundo, havia recebido 4 mil participantes. Em 2024, quando a 41ª edição começou, no dia 15 de julho, as inscrições já chegavam a 14.100, e cresceram em mais de 1 mil durante o evento diante do interesse dos participantes em ingressarem na programação didática oferecida.
Nestes 13 dias foram realizadas mais de 4 mil apresentações de dança, com mais de 500 horas de apresentações gratuitas em espaços públicos. Parece inacreditável, não? Também foram oferecidas mais de 200 opções de programação didática, além de diversas atrações para todos os públicos, como aulas gratuitas de dança, exposições e jam sessions (era muito divertido!).
“Este é mais um Festival de Dança que nós terminamos com a certeza de que tudo ocorreu conforme o planejado. Estamos extremamente satisfeitos com os resultados alcançados neste ano e já pensando no próximo, que terá que ser ainda melhor do que este”, afirma o presidente do Instituto Festival de Dança de Joinville, Ely Diniz.
Grandes performances puderam ser assistidas, tanto nos espetáculos de companhias profissionais convidadas, como o Ballet Estable del Teatro Colón, que eu tive a oportunidade não só de assistir no grande palco do Festival, mas de acompanhar todos os bastidores de aulas e ensaios, e da São Paulo Companhia de Dança; quanto nas atrações competitivas, que evidenciaram o grau de evolução dos bailarinos e suas escolas.
“Eu venho no Festival de Dança de Joinville há mais de 30 anos, e todos os anos em que estou aqui é uma emoção diferente. Já ganhei como melhor bailarina, medalha de ouro, já fui jurada, dei aulas e hoje sou expositora na Feira da Sapatilha, então o que posso dizer é que o Festival faz parte da minha vida desde sempre, e tenho muito orgulho disso”, se emociona a bailarina brasileira e empresária da dança Priscilla Yokoi, que já foi vencedora do Festival no ano de 1999.
“O Festival de Joinville tem crescido e se desenvolvido muito em relação à qualidade dos grupos que têm se apresentado. Isso se comprova, primeiro, pela quantidade de inscrições, que vêm aumentando de forma concreta, e o índice para chegar à Mostra Competitiva tem subido cada vez mais”, analisa o consultor artístico do evento, Marcelo Misailidis, recordando a seletiva para solos femininos de Balé Clássico de Repertório, para a qual 265 bailarinas concorreram pelas cinco vagas para participar da competição.
Importante ressaltar que nesta edição, pelo terceiro ano consecutivo, todos os lugares no pódio foram ocupados (na minha época não era comum), com algumas categorias registrando empates em segundo e terceiro lugar.
Até o ano de 2021, havia categorias em que nenhuma coreografia alcançava média para ocupar a primeira colocação. O Festival teve pontos altos e inesquecíveis, como o lançamento da coleção da primeira bailarina do Theatro Municipal do RJ, Ana Botafogo, em parceria com a também bailarina Priscilla Yokoi, que parou a Feira e o Festival.
A tão aguardada seletiva da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil e também a apresentação da Cia Jovem com o repertório de Carmen no Centro deEventos toram marcantes, assim como a apresentação dos bailarinos que já venceram nos palcos de Joinville, Luciana Sagioro e João Pedro dos Santos Silva.
Os dois apresentaram o Grand Pas de Deux de Don Quixote, ensaiado por Marcelo Misailidis, bailarino e consultor do Festival. Com 18 anos, Luciana, que foi eleita Melhor Bailarina do Festival em 2022, é uma das estrelas do Ballet da Ópera de Paris, uma das mais importantes companhias de dança do mundo.
Já João Pedro, de 15 anos, foi o vencedor do Prêmio Daniel Camargo em 2023 e inicia os estudos na Escola do Ballet da Ópera de Paris neste ano. Nesta edição do Festival, ele também conquistou o primeiro lugar na categoria Balé Neoclássico Solo Júnior pela Cia Jovem Basileu França, de Goiás.
O lançamento do livro sobre os bastidores do Festival de Dança de Joinville, a apresentação do famoso Grupo Dança de Rua do Brasil e o Dance Parede também foram marcos na edição 41 do maior Festival de Dança do mundo.
“O Dance Parede foi um encontro que mostrou a diversidade presente no evento, e a inclusão que o Festival proporciona em seus mais de 3 mil participantes”, destaca Jay Alan coordenador do Dance Parade.
E para fechar, as emocionantes apresentações com os bailarinos com mais de 60 anos, inclusive com a participação de octogenários, no Festival 40+. Ao todo, 17 coreografias foram apresentadas no palco do Teatro Juarez Machado: oito na categoria Dança Coreográfica Livre Conjunto 60+, sete na categoria Dança Popular Folclórica Conjunto 60+ e duas na categoria Dança de Salão Duo 40+.
E muitos aplausos para a Dona Delorme Nascimento, de 83 anos, que dançou ao lado do marido, de 85, e para a Dona Albina Sartori, de 87, da Cia Vovós Sim, Velhas Jamais. Sem dúvida foi uma das coisas mais inspiradoras que vivenciei no Festival.
Para a coluna, conversei com exclusividade com o Ely Diniz, presidente do Instituto Festival de Dança de Joinville, que nos conta mais sobre o maior Festival do mundo:
CLAUDIA: Como é chegar a 41 edições do maior Festival de Dança do Mundo?
Ely Diniz: Chegamos a 41 edições do Festival de Dança de Joinville com a certeza de que estamos conseguindo realizar o projeto proposto para este evento, que é muito mais do que ser uma grande competição de dança. Promovemos uma grande festividade para esta arte, com o objetivo de divertir, emocionar e, principalmente, incentivar o desenvolvimento da dança, e também o desenvolvimento por meio dela, pelo papel transformador que a arte possui.
São 11 meses dedicados a preparar todas as atrações que compõem o Festival, para que estas duas semanas de julho sejam excepcionais para os participantes e para o público, e penso que mais uma vez atingimos este objetivo. Já estamos com metas definidas para a próxima edição, porque sempre há o que aprimorar, e uma característica importante do Festival de Joinville é estar sempre se reinventando.
CLAUDIA: Fale pra gente sobre o 40+ e suas categorias. É algo novo no Festival?
Ely Diniz: Em 2024 chegamos à terceira edição do Festival 40+, que surgiu por uma tendência natural. Há cada vez mais cursos e academias voltados para este público que passou dos 40, 50, 60 anos, e não teve a oportunidade de fazer aulas de dança na infância ou na adolescência – ou até fez, mas parou por alguma situação da vida e precisa recomeçar do zero após muitos anos. A concepção de idade na nossa sociedade também mudou muito, as pessoas estão mais ativas e preocupadas com a qualidade de vida, e a dança é uma das atividades físicas que mais proporcionam benefícios.
Por isso, o Festival 40+ é um sucesso: ele tem categorias e regras que se assemelham às da Mostra Competitiva, com algumas adaptações para este público. Um exemplo são os gêneros: Dança Coreográfica Livre, Dança Folclórica e Dança de Salão, porque abrem mais possibilidades para os grupos com bailarinos desta faixa etária.
É uma competição saudável, em que bailarinos de 40 a 59 anos competem entre eles, e aqueles com mais de 60 anos disputam os primeiros lugares entre si. Em 2024, chegamos a ter participantes com 87 e 90 anos de idade, que com certeza estão alcançando a longevidade com saúde também por estarem em atividade, socializando e aprendendo.
CLAUDIA: O documentário é algo emocionante, como é olhar pra trás e ver o evento agora?
Ely Diniz: É emocionante, sim. O Instituto Festival de Dança de Joinville foi criado em 1998, estou na presidência desde 2007, mas acompanhando o evento praticamente desde seu início. O Festival de Dança de Joinville é um repositório imensurável de histórias, e estamos sempre buscando formas de registrá-las.
Já foram escritos dois livros, nos 15 anos e nos 30 anos, e também um livro sobre o Festival de Joinville como case de gestão da cultura, lançado em 2024. O documentário é mais uma obra para tentar mostrar, agora por meio de imagens, o que este evento significa. Temos grandes talentos da dança brasileira que têm sua história entrelaçada com o Festival de Dança, como Ana Botafogo, Cecilia Kerche e Marcelo Misailidis. Ele, por exemplo, foi participante com experiência de dormir em alojamentos em escolas nos anos 1980, em uma época em que a rede hoteleira da cidade não conseguia atender a alta demanda de visitantes no período do evento. Com o documentário, conseguimos ter uma visão ainda mais clara dos avanços destes 40 anos, no evento, na economia, na arte, ou seja, em todos os aspectos que o Festival de Dança impacta.
CLAUDIA: Quais os grandes diferenciais hoje no Festival?
Ely Diniz: Realizamos um trabalho muito sério no que diz respeito às atrações competitivas. Os regulamentos são minuciosamente avaliados, assim como a banca de jurados é selecionada para ser formada por especialistas que estão acompanhando as discussões e mudanças na dança, na arte em geral. Sabemos que outros eventos com competições de dança no Brasil se espelham e se baseiam no que é realizado em Joinville, então esta é uma grande preocupação.
Além disso, acho que o grande diferencial é, como falei anteriormente, não estar resumido em uma grande competição em dança. Em 2024 nossa programação didática tinha mais de 100 opções entre cursos, workshops, masterclasses e showcases, que iam de balé clássico para iniciantes à anatomia e preparação física com foco em dança.
Foram mais de 500 horas de apresentações gratuitas em locais públicos. Tivemos dezenas de atrações paralelas para entreter o público no período do evento. Não é exagero dizer que Joinville se transforma no lugar dos sonhos dos bailarinos no mês de julho.
CLAUDIA: Quais as expectativas para a edição 42?
Ely Diniz: Nossa expectativa é sempre realizar um evento melhor do que o anterior, e para a 42ª edição queremos que o planejamento seja antecipado, para que tudo o que irá acontecer em julho de 2025 esteja mapeado até dezembro de 2024. Além disso, o Instituto Festival de Dança de Joinville está cumprindo um papel de, além de organizar o evento, desenvolver outros projetos voltados para a dança.
Desde agosto de 2023 temos uma parceria com a Prefeitura de Joinville para que 1700 alunos da Rede Municipal de Ensino tenham aulas de dança no contraturno, por exemplo. Também temos projetos com aulas de dança para idosos, programa de iniciação profissional em parceria com a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, entre outros, e queremos continuar reforçando esse trabalho de incentivador da dança no país. Para 2025, a sede do Museu da Dança estará pronta. Ele será o único no país, e um dos poucos no mundo, com um acervo voltado para esta arte.