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Diário De Uma Quarentener

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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.

Hablas español?

A escritora Juliana Borges compartilhou que um de seus propósitos para em exercitar na pandemia é ficar cada vez mais próxima desse idioma. E o seu, qual é?

Por Juliana Borges
Atualizado em 23 jul 2020, 23h02 - Publicado em 23 jul 2020, 21h00
 (fizkes/Getty Images)
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São Paulo, 23 de julho de 2020

Sempre amei espanhol. Eu a-ma-va escutar Julio Iglesias com a minha avó e Marc Anthony com minha mãe. Mas, pela fase grunge que mergulhei na adolescência, acabei deixando esse amor um pouco de lado. Bem mais que um pouco. Mesmo quando a Shakira deu uma reviravolta na minha vida com aqueles versos incríveis de Estoy aqui, que quem sabia cantar sem perder o fôlego já entrava na categoria superfã, eu ainda ficava naquela procrastinação (ah! Esse tema não some!) sobre estudar espanhol.

No inglês, sou autodidata e estou pensando em fazer um intensivão só para dar conta de vácuos e de inseguranças que ainda tenho com o idioma. Por uma crendice boba, e bem brasileira, eu achava que daria conta do espanhol. Un poquito acá, otro poquito allá e dale! Ledo, ledo engano. Eu sigo com o autodidatismo – mas se alguém quiser garantir esses estudos, sin problema!  – mas tenho cada vez mais vontade de aprender o espanhol como se deve. Daí, que tenho usado meus amigos latinos como professoras e professores informais. Uma live aqui, outra acolá, leitura de textos e jornais argentinos, chilenos, uruguaios e até artigos, eu já escrevi. De modo geral, as amizades latinas têm sido generosas. Sempre com um “muy bueno”, quando eu me desculpo pelo meu espanhol. Aliás, acho que essa é uma generosidade de diversos, nem todos, os falantes nativos. Quando a gente diz que não sabe muito bem o idioma, pede desculpas, a resposta engatada é a de que está tudo bem, que tudo está sendo entendido, mesmo que não seja muito a verdade. Vai dizer que você não fez muito disso na Copa, por exemplo, tirando dúvida de estrangeiro pelo país? Entonces

Em geral, eu não tenho gostado nada de expressões como “novo normal”, muito menos de mensagens de positividade nessa pandemia. Acho que estamos todos estressados, inseguros sobre o futuro, tendo sonhos e pesadelos sem pé nem cabeça, com dificuldades para dormir, para acordar, cansados, mas buscando coisas. E me impus essa tarefa de, se vou levar algo dessa experiência da quarentena,… hablar español.

Acredito, realmente, que é muito importante que nós brasileiros nos percebamos latino-americanos e nos reconheçamos nesse solo, em que dividimos um passado marcado pelo colonialismo, por imposições e dominações no campo linguístico, cultural, simbólico, espiritual, político e cosmogônico. E precisamos nos aproximar mais. Talvez, nessa minha trajetória de me voltar mais às minhas relações latino-americanas (ou ladino-amefricanas), começar por compreender mais das diversas questões que nos aproximam e nos diferenciam (porque não acredito que afastem) seja importante. E, como eu amo escrita, livros, sotaques, idiomas, culturas… a língua pode ser um bom começo para tentar derrubar algumas barreiras. Já não estou bem em idade de mochilão pela América Latina, mas umas viagenzinhas vão cair bem, depois que tudo isso passar – toda a minha força para as vacinas da China, de Oxford, da Alemanha e de todo o esforço, científico, para nos tirar dessa. Eu até voltei a recobrar minha fé no Carnaval. E dizem que o Carnaval uruguaio dura tanto quanto o nosso. Ojalá la vacuna venga!

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