Com câncer e a estimativa de 2 anos de vida, ele viveu o amor intensamente
Quando o amor de Nelson e Cláudio encontrou a finitude, em vez de se retrair, transbordou

Tem gente que bate na madeira, muda de assunto, finge que não ouviu. A morte é um tabu. Mas e se, no lugar de fugir dela, a gente aprendesse a encarar de uma forma melhor a sua presença constante?
Foi mais ou menos isso que fizeram Nelson e Cláudio. Os dois se conheceram em Brasília, e Nelson tinha acabado de sair de um relacionamento difícil, daqueles que fazem a gente querer ficar longe de qualquer nova tentativa. Mas Cláudio não quis saber: puxou assunto, insistiu… E venceu.
Quando Nelson se deu conta, já estava dizendo “sim”. Em apenas três meses, os dois estavam morando juntos. O amor entre eles nasceu do improvável, cresceu rapidamente e, por 15 anos, resistiu a tudo. Até àquilo que parece impossível de enfrentar.
Cinco anos após começarem a vida a dois, Cláudio recebeu o diagnóstico de um câncer. A estimativa era cruel: apenas dois anos de vida. Naquele momento, eles poderiam ter se fechado para a tristeza e a angústia ao se darem conta da fragilidade da vida. Mas fizeram o oposto ao firmarem um pacto de viver intensamente. A vida era a única certeza que tinham.
Então, Nelson e Cláudio decidiram viajar, pois queriam conhecer a neve. Também começaram a economizar nos jantares e conseguiram comprar um terreno num pedaço escondido da cidade, rodeado pelo verde, onde imaginaram uma casa cheia de janelas e árvores frutíferas.
Foi lá que Nelson plantou um pé de jabuticaba. Um dia, Cláudio olhou para aquela pequena muda e disse, com um ar melancólico: “Acho que nunca vou comer jabuticabas daqui”. Nelson rapidamente replicou: “Não diga isso, fofuxo. A gente vai chegar lá”. E chegaram!
Meses depois, nove jabuticabas brotaram no jardim. Nelson colheu, emocionado, e levou até Cláudio. A fruta era pequena, mas o gesto virou um marco: os dois tinham vencido mais uma previsão, mais uma barreira. Tinham vivido.
Cláudio era médico pediatra, cuidava da vida dos outros enquanto lidava com o limite da sua. Nelson já havia vencido um câncer aos 15 anos, mas agora o desafio era outro: lidar com a finitude do amor da sua vida. Não foi fácil, mas jamais se deixaram levar pelo relógio da morte.
Algumas madrugadas foram de brigadeiro feito às pressas para acalmar o coração, de espumante aberto às 3h da manhã para aliviar a angústia e também de conversas sussurradas na escuridão da noite. Mas também teve risadas, planos, esperança e rotina.
Os dois foram preenchidos pelo afeto durante todo o tempo que ficaram juntos. Esse prazo, que era de apenas 24 meses, quintuplicou! Foram 10 anos vivendo e amando — e não esperando a morte chegar. Cláudio partiu em 2019, aos 55 anos, deixando memórias que Nelson aprendeu a transformar em ritual.
Todo dia 13 de abril, aniversário de nascimento de Cláudio, amigos e familiares se reúnem para celebrar sua passagem neste plano. Para Nelson, os anos junto de Cláudio foram os melhores de suas vidas. Mesmo com a doença e mesmo com a ferida emocional.
Quando olha para trás, não enxerga derrota, mas, sim, o privilégio de ter vivido um grande amor. Afinal, não adianta empurrar a morte para debaixo do tapete. Fingir que ela não existe só faz com que nos esqueçamos do que realmente importa. Se o tempo é incerto (e é), o amor que plantamos hoje pode florescer e adoçar a vida de quem fica, como a jabuticaba de Nelson.
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