Qual a melhor resposta quando seu filho pergunta se Papai Noel existe?
A colunista Ana Carolina Coelho propõe uma conversa franca entre pais e filhos que promete não acabar com a fantasia do Natal para as crianças
Há alguns dias atrás, li uma reportagem sobre um pai muito chateado porque um colega de turma de seu filho contou que o “Papai Noel” não existia e ele, ao chegar em casa, compartilhou a novidade com seus irmãos. A história ganhou grande proporções e repercussão em tempos de mídias sociais e, com tanta coisa realmente mais relevante acontecendo no mundo, essa pode ser considerada uma querela bem pequena e insignificante. No entanto, uma questão me chamou a atenção com bastante intensidade e eu observei o debate pensando na ação que originou toda essa comoção: a conversa.
É exatamente a falta de conversa entre crianças e pessoas adultas a causa de tantos ruídos em nossas relações. O “pai ofendido” não sabia o que dizer ao filho e a “mãe” do outro menino estava procurando ajuda com OUTROS pais e mães para saber como lidar com a situação de constrangimento que seu filho estava sendo acusado de ter causado ao “destruir” a fantasia de seu colega sobre o velhinho presenteador, mesmo sem ter tido nenhuma intenção de fazê-lo. Só que em momento algum as crianças estavam sendo ouvidas. A conversa passou para o círculo dos adultos e a partir daí qualquer pensamento, ideia ou vontade dos pequenos foram desconsiderados.
Crianças são pessoas e a curiosidade é uma marca de nossa existência. Gostamos de boas histórias, de notícias, de fofocas e de conhecimentos. Elas estabelecem comunicação, em qualquer idade ou até sem falar a mesma língua – com gestos, expressões e sorrisos – e, em pouco tempo, estão brincando, correndo e rindo juntas. Desmontam brinquedos para ver como a roda funciona e misturam cores nos desenhos, fascinadas com os “poderes” de transformar azul com verde em marrom e, vermelho com branco em rosa. Crianças são magia encarnada que, em geral, falam o tempo todo. O. Tempo. Todo. Elas narram suas descobertas e conquistas com a mesma alegria com que as pessoas adultas celebram um prêmio. Elas dividem seus saberes, anunciam para o mundo que agora sabem colocar uma blusa ou mostram suas pinturas com um orgulho artístico genuíno. Por isso, é completamente natural que o menino que “descobriu a verdade” sobre o velhinho do Natal tenha conversado com seus amigos, para compartilhar sua grande conquista.
Eu me recordo como a minha luz da noite mais velha, curiosa como um esquilo, veio me questionar com uma postura bem desafiadora de “não minta para mim”, se o Papai Noel existia. Eu estava sentada na rede da varanda e disse: “Sim e Não”. E contei a história que ouvi de meus pais, quando eu era criança, de um senhor chamado Noel que viveu há muitos anos atrás e adorava presentear toda a vila no final de dezembro com brinquedos. Depois de sua morte, a pequena cidade continuou a tradição colocando os presentes no sapato das crianças, honrando a memória do bondoso homem.
Eu sou historiadora e confesso que nunca quis verificar a veracidade desta lenda ou suas origens. A Ana Carolina criança lembra de estar com um presente nas mãos no colo do pai e recebendo abraços. O Noel que nasceu dentro de mim esteve para sempre ligado à ideia de que tradições devem ser honrarias feitas às boas pessoas e suas ações coletivas de generosidade. Em uma conversa honesta e carinhosa para saber sobre a existência do Papai Noel, eu pude ser capaz de recriar significados únicos para essa data. O Natal ainda é uma das datas que eu mais gosto de comemorar e, conforme “Cronos” arranca folhas da árvore da vida, eu entendo cada vez mais a força de honrar as boas histórias.
Minha pequena Rosa, no auge de seus oito anos, ouviu a minha explicação e simplesmente disse: “se eu quiser, mesmo sabendo de tudo, posso continuar acreditando no Papai Noel?”, e eu respondi: “Durante o tempo que você quiser.” E ela saiu pulando pela casa feliz, sua marca registrada.
Imagino que cada família tenha seus próprios significados sobre a data e muitas formas de celebrá-la. E assim, com uma história sobre generosidade e tradição e uma boa conversa, duas gerações souberam a “verdade” e continuaram a amar a magia das luzes, do encontro, da força de honrar as pessoas que viveram antes de nós e a nunca desconsiderar o poder mágico do diálogo. Crianças sabem disso e eu me pergunto: por que as pessoas adultas esqueceram que o melhor caminho para viver é aquele em que, de alguma forma, estabelecemos comunicação? É possível sermos melhores, sempre! Dias Mulheres virão! Vamos conversar?
Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para:
ana.cronicasdemae@gmail.com Instagram: @anacarolinacoelho79
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