“É tarde demais?”: o direito de TODAS as mulheres de serem “coisas demais”
Devemos reivindicar cada vez mais direitos para precisarmos cada vez menos desistir de partes de nós
Depois da publicação da minha última crônica de mãe, recebi uma série de respostas relatando situações lamentáveis de violências sofridas por mulheres, na maior parte das vezes mães que quiseram ou ousaram see “coisas demais”. O preço social e emocional de suas escolhas foram pedaços de si encharcados de culpa e julgamento. Muitas me disseram que choram dizendo “é tarde demais” para seus projetos e sonhos que hoje mofam nas gavetas de um passado distante.
Uma outra parcela de mulheres me falou que eu estava “romantizando o cansaço” e que desistir é lícito. Eu concordo. Abrir mão de ideias, adiar um projeto, é uma decisão que precisa ser ponderada, e muito bem elaborada, para que seja uma ESCOLHA e não uma imposição social. Quando me mudei do Rio de Janeiro para Goiás, parei de participar da minha companhia de dança. Foi uma decisão difícil, que envolveu muitas lágrimas e a abdicação de uma parte importante da minha carreira e de mim mesma. Embora a dança e as minhas irmãs/amigas sempre tenham estado ao meu lado, deixar de ser – e na época achava que era algo definitivo – a “Hana Akif” teve a aspereza de dias sem movimentos e sons. A vida perdeu grande parte da alegria da dança nos primeiros meses no Cerrado. Mas era muita coisa nova para assimilar, uma vida inteira para reorganizar e o cansaço, naquele momento, deu aquele empurrão tão conhecido das mulheres, sussurrando em meu ouvido “deixe isso de lado, só por agora” e fez suas escolhas para mim.
A questão é que se nós deixarmos, o “agora” do cansaço se torna “para sempre”, como um grande casamento entre as mulheres e as desistências de nossos sonhos. E todas temos uma imensa permissão social, cultural, econômica e política para isso. Afinal, somos, historicamente, apenas uma “coisa” que se possível deve ser bela, recatada e se manter em espaços, como por exemplo, o “lar”. Algumas com muito mais privilégios que outras, mas todas em casa quietas e em silêncio. E se possível, aproveitando que estamos em casa, mantendo-a arrumado, cheirosa e aprazível.
Se somos “coisas”, então somos como sofás incômodos que insistem em andar pela sala, panelas falantes que decidem que hoje não haverá mais um grão de arroz cozido porque estamos ocupadas ou a melhor de todas as imagens: uma grande biblioteca de saberes e, por isso mesmo, nos recusamos a sermos coisas e a desistirmos.
Mulheres que ousam querer ser “coisas demais”, em si, já é uma frase que não deveria ser mais usada: afinal, somos “coisas” para querermos ser demais? Demais em relação a que? A quem? A que parâmetros? Afinal, se alguém, algum dia, com certeza definiu essa régua de escala, já passou da hora dela ser superada por novas definições e termos.
Não estou romantizando o cansaço e muito menos afirmando que mulheres mães devem se esfolar de tanto trabalhar: ao contrário, afirmo que devemos reivindicar CADA VEZ MAIS direitos para termos condições de trabalho SAUDÁVEIS e que cada vez menos precisemos desistir de pedaços de nós, de projetos e de sonhos porque somos mães. E termino perguntando novamente: ATÉ QUANDO? É possível sermos melhores, sempre! Dias Mulheres virão! Vamos conversar?
Vamos conversar?
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