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Crônicas de Mãe

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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Assédio materno

Precisamos entender, enquanto sociedade, como as nossas ações e falas prejudicam a relação das mães com a própria maternidade

Por Ana Carolina Coelho
16 ago 2023, 08h21
Assédio materno, por Ana Carolina Coelho
"A maternidade não é uma doença, mas algo que pode contribuir para o adoecimento de mulheres. amaternar a vida é um movimento coletivo que implica cuidado e acolhimento" (Pexels/Pexels)
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E​​stamos no final das férias de meio de ano e os memes de mães colocando as crianças na escola e comemorando, bebendo vinho e dormindo transbordaram. A frase “mãe descansa trabalhando” é comum, mas, a despeito do tom humorístico, escamoteia uma mensagem preocupante na sociedade atual: o adoecimento materno em larga escala.

Dias atrás, li um comentário que dizia “parece que querem transformar a maternidade em uma doença. Onde estão as noções de doação e sacrifício?” Toda mãe sabe que precisa se doar para que a cria sobreviva, a questão é que algumas de nós estamos tornando consciente os custos desse trabalho, individual e socialmente.

A maternidade não é uma doença, mas algo que pode contribuir como fator para o adoecimento de mulheres. Amaternar a vida é um movimento coletivo que compreende os cuidados e o acolhimento de mães e crianças. Assim, todas/todos somos responsáveis juntas/juntos por cada uma/um no mundo. 

Esse estado de bem viver coletivo só é possível se enfrentarmos as causas do adoecimento: os assédios; a sobrecarga dos cuidados domésticos; a manutenção de um sistema competitivo; a culpa como controle social das mães; um regime sócio-histórico que no discurso atual prega uma “igualdade” entre mulheres e homens, mas, na prática, exige os comportamentos de esposa/mãe exemplares, gerando rotinas extenuantes para as mulheres. 

E nesse caminho diário, cada vez mais insalubre, elas se deparam com comentários depreciativos, “o exército de palpites” e os julgamentos sobre suas capacidades. Ao longo dos anos, perdi as contas de quantas vezes fui abordada por colegas de trabalho em viagens querendo saber “onde/com quem deixei minhas crianças”.

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Tenho absoluta certeza de que a preocupação não era comigo. Era controle. Se fosse preocupação, teriam ligado para oferecer ajuda ou dividir alguma tarefa.

Esse tipo de pessoa produz algo ainda pior: o assédio materno. Ele se manifesta como uma continuidade do exercício do poder dos palpites, roubando-lhes chances preciosas de crescimento e aprimoramento.

Essa forma de assédio se alimenta da culpa, da insegurança e de ambientes hostis naturalizados em discursos que sacralizam a figura mãe para impedirem as mulheres de conseguirem igualdades de direitos e possibilidades de realizações pessoais e profissionais.  

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Fico pensando como uma mãe poderá adquirir consciência de si, sobriedade e serenidade para criar vidas humanas em meio a uma sociedade que insiste em dizer: “tenha filhos!!!” E no momento em que decidimos tê-los, nos diz: “agora, se vira! E estaremos aqui para te lembrar a todo instante do peso da sua escolha”. Ser mãe é se doar, sim — e a maior parte o faz de bom grado —, mas não precisa significar viver em eterno sacrifício.    

As férias das crianças na minha casa, por exemplo, foram cheias de cineminha, risadas, tédio, passeios, arrumação, sonecas, leituras e brincadeiras. Planejamos uma viagem que não aconteceu, inventamos receitas e queimamos uma fornada de biscoitos. Aqui, “mãe descansa descansando”, é feliz trabalhando e ficando em casa. 

Agosto é um mês saudoso, pois ficamos à noite relembrando desses dias de folga. Obviamente eu tive muito mais trabalho doméstico para realizar e todas as pessoas da casa igualmente. Minha flor mais velha veio até mim e disparou: “É tanta coisa para fazer no mundo e para pensar… Como dar conta de tudo?”

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E eu, sem querer interromper essa epifania adolescente, respondi: “Realizando uma coisa de cada vez e nunca ficando sozinha. Eu te amo e sempre estarei aqui ao seu lado, para te lembrar, ser ajudada e ajudar. É muita coisa mesmo para uma pessoa só.”

Ela sorriu, me abraçou e saiu pulando como quando era pequena. Eu vi o passado, o presente e o futuro da efetiva força do amaternar a vida. É possível sermos melhores sempre.

Vamos conversar?

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