Libido além do sexo
Apesar da sociedade nos dizer que não, a sexualidade está conectada com todos os aspectos da nossa vida
Mark Twain disse certa vez: “De um bom elogio posso viver dois meses”. Eu reescreveria essa frase trocando “elogio” por “orgasmo”. De um bom orgasmo posso viver dois meses. Exageros e brincadeiras à parte, a verdade é que um bom sexo é uma injeção de energia e alegria em nossa vida. O efeito dessa potência ultrapassa em muito o ato em si. Libido é fogo de vida, potente e criativa, essencial para muito mais coisas do que uma boa noite de sexo. Porém, para a maioria das pessoas, é a vida sexual que acaba sendo um termômetro da libido. Essa energia vital pode ser usada para muitas coisas, mas é sobre o direcionamento dela para o sexo que quero falar.
Uma sexualidade saudável é essencial para uma vida feliz, para a autoestima, para a saúde. Mas o que seria uma vida sexual saudável? Em nossa sociedade capitalista-patriarcal, pautada pela histeria da produtividade (no trabalho, no lazer e até na cama), o ideal é algo que dificilmente conseguimos alcançar: sexo várias vezes por semana, uma libido inabalável — não importa se você está estressada, se recém teve filho, se está sobrecarregada — e orgasmos rápidos como no pornô mainstream.
Saindo dessa ilusão e ascendendo para uma visão mais holística & tântrica, uma sexualidade equilibrada é uma que é consciente. Transar muito ou pouco não é a questão, mas, sim, estar conectada com seu desejo. Saber o que quer (mais difícil do que parece para as mulheres que foram criadas para suprir desejos alheios), agir de acordo com seu desejo (sem a preocupação excessiva com a expectativa do outro) e saber ouvir seu corpo para saber quando ele quer ser ativado com esse fogo ou quando ele quer descanso. E respeitar, sempre se respeitar.
Diferente das pessoas que realmente não se interessam por sexo, existem as que estão com baixa libido mas gostariam de estar mais empolgadas para a energia sexual. Dia desses, uma aluna veio me dizer que estava sem tesão nenhum por nada. Investigando mais, fazendo as perguntas certas, descobri que o desejo que ela não estava tendo era pelo parceiro de tantos anos de casamento. E, como acontece com frequência com as mulheres, ela não estava conseguindo admitir para ela mesma que sua libido ainda existia — só que para os outros. Indo mais fundo no papo, percebemos que a fonte da falta de tesão pelo parceiro vinha de mágoas acumuladas, a falta de cuidado que ele vinha tendo com coisas importantes para ela etc. Ou seja, nada diretamente ligado ao sexo.
É exatamente isso que precisamos compreender quando se trata de libido: sexualidade é uma construção. O tesão pelo outro vem de atos e sutilezas que envolvem todo o comporta- mento, as trocas, os climas. Nem o melhor vibrador do mundo resolve isso. Você precisa fazer o trabalho, muitas vezes dolorido, de buscar as causas no seu emocional. Acredite: tirando questões médicas (que, claro, sempre precisam ser investigadas), em boa parte dos casos, as causas da baixa libido são emocionais e não têm nada a ver com questões puramente sexuais. Investigar essas causas é um autoconhecimento que você merece.