Rumo aos 100: entrevista com a autora Iris K. Bigarella
Autora de 98 anos lança um olhar instigante para o envelhecimento e provoca reflexões sobre o sentido da vida ao contar sua jornada pela vida
Nada de manual para chegar bem aos 100 anos, em Chegando Feliz aos Cem Anos, Iris K. Bigarella, nossa “quase centenária” , pensou em transmitir algo mais profundo que um compilado de dicas de saúde ao escrever o livro que nos faz pensar sobre o envelhecer, como nos enxergamos ao longo do tempo e sobre como queremos ser vistos e tratados pela sociedade.
“Sutilmente presente em todos nós, mas bem escondidinha nas dobras da vida (tão diferentes para cada um) lá está o que os japoneses condensam em uma palavra só: Ikigai – o sentido da vida. Qual é o sentido da vida, o que esperamos bem no fundo deste fluir de acontecimentos e esforços, das ‘coisas boas ou más’ que nos acontecem?”, diz a autora em determinada parte da obra.
O livro, recém-lançado pela Editora Chiado, é fruto das experiências de vida de Iris, hoje com 98 anos, que desde muito jovem questiona os enigmas da existência. Natural de Curitiba, ela cursou faculdade numa época em que poucas mulheres faziam o mesmo. Dentre seus interesses estão poesia, história, geografia, antropologia e psicologia analítica, sendo autodidata em expressões de arte bi e tridimensional intuitiva, com várias exposições coletivas e individuais.
Ao longo da vida, conheceu os grandes pensadores da nossa sociedade e tornou-se uma voz incansável na defesa do meio-ambiente ao lado do marido, João José Bigarella, referência internacional em Geologia e Geociências. Íris é uma mulher encantada pelo mundo da beleza, do amor e da sabedoria que existe em nosso planeta e uma fonte de conhecimento e generosidade, e, claro, topou respondeu ao questionário da coluna sobre a tão esperada chegada aos 100 anos.
Qual foi o maior acontecimento da humanidade nesses quase 100 anos para a senhora?
Íris: Oh! Só podemos dizer que foram 100 anos de um fabuloso despertar da humanidade. Em todos os sentidos! Acendemos a luz da consciência que, como um facho esplendoroso, pode iluminar os mais recônditos cantos desconhecidos – tantos! – de nossa existência. Despertamos para a nossa minúscula posição no Universo, mas também para as imensas potencialidades que esta fase de nossa evolução prenuncia.
Viver tanto tempo é acumular muita sabedoria. O que a senhora recomenda para quem gostaria de chegar à sua idade?
O que se pode recomendar para quem alcança idade avançada – tão mais frequente ultimamente com os avanços da medicina – eu diria que é não se entregar jamais! Ao desânimo, os percalços da fragilidade do corpo físico, a falta de laços mais afetuosos com amigos e familiares. A decadente aparência física…Usando a boa vontade – essa ferramenta mágica- e o bom humor – pode-se alcançar distâncias longínquas e conquistar áreas da vida nunca imaginadas.
O que o mundo ganhou de bom nestas últimas décadas?
É só considerar um pouco os avanços da tecnologia e suas fabulosas conquistas, a crescente conscientização da necessidade de preservação ambiental e os livros, os livros, os vídeos de divulgação, os estudos cada vez mais refinados em todas as áreas da atividade humana…