Filha fotografa amorosamente processo de despedida da mãe com demência
Ao perceber que perderia sua mãe para a demência, Cheryle St. Onge criou um projeto fotográfico que é poesia pura
Essa não é a história de uma vozinha com a qual tive o prazer de bater um papo descontraído numa quarta-feira qualquer (embora eu bem que quisesse). Essa é a história de uma avó ilustrada amorosamente por sua filha, já que a personagem principal não se comunica mais por palavras.
Tudo começou mais ou menos assim. Era o ano de 2017, e Cheryle St. Onge trabalhava como professora de artes, quando a mãe, Carole, foi diagnosticada com demência vascular. Vivendo em Durghan, New Hampshire, com o marido e três filhos, e tendo a matriarca como vizinha, ela percebeu rapidamente o impacto da doença e como isso afetaria a vida de todos definitivamente.
Fotografar o processo não foi sua primeira opção. Parecia muito estranho para ela clicar alguém que estava aparentemente se despedindo da vida e não autorizou as imagens, mas foi assim, com resistência e muito receio, que, em abril de 2018, nasceu o projeto “Calling the Birds Home”. O nome não poderia ser mais adequado, já que Carole era artista e observadora de pássaros, antes de a demência se apresentar.
Desde então, Cheryle compartilha fotos e vídeos da mãe em seu Instagram (@cherylestonge). A maioria são retratos de Carole cuidando de seu o cavalo Ellie, cortando o cabelo ou apenas curtindo o calorzinho do sol no rosto, já que o inverno por ali é bastante severo.
As reações ao projeto foram surpreendentes já que Cheryle não havia comunicado aos amigos e colegas sobre a saúde da mãe e as lutas que vinha encarando desde então. Mas a coisa foi muito além da admiração e “Calling the Birds Home” ganhou as páginas da The New York, em maio de 2019, numa reportagem fotográfica de Dia das Mães que rodou o mundo e colocou em pauta as dores e delícias de cuidar de quem um dia cuidou da gente. Cada um faz o que pode com as voltas que a vida dá e Cheryle fez, no mínimo, uma linda poesia.
*Para ver mais histórias com esta e acompanhar minha “curadoria de avós e avós”, acesse nataliadornellas.com.br ou @nataliadornellas, no Instagram. Ah, e se conhecer personagens que mereçam ter suas contadas, me deixe saber, por favor.
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