O poder da amizade nos negócios
Diana Gabanyi e Jackie de Botton contam detalhes da parceria desde o Oscar de 2011 até o marco de 10 anos à frente da The School of Life Brasil
“O momento em que uma coisa se transforma na outra é o momento mais bonito”. Essa foi a fala do artista plástico brasileiro Vik Muniz diante de um quadro de arte feito de lixo e que estava prestes a ser leiloado em uma prestigiosa casa de leilões em Londres. E, hoje, olhando para trás, nós, Jackie e Diana, sabemos que o início da nossa amizade e parceria de trabalho estava prestes a acontecer, exatamente naquele momento.
Vik Muniz é idealizador do documentário Lixo Extraordinário, projeto que uniu nós duas. Uma coprodução entre o Brasil e a Inglaterra, que fez com que eu, Jackie, fosse passar seis meses em Londres à frente da campanha de divulgação do filme. Naquela época, a The School of Life, fundada em 2008 em Londres pelo filósofo suíço Alain de Botton (primo de Jackie), já tinha os brasileiros como um de seus públicos mais cativos. A vida seguia seu curso.
O documentário é, então, indicado para o Oscar de 2011 e, nesse intervalo, fomos apresentadas por um amigo em comum. Nas palavras dele, se eu, Jackie, fosse para o Oscar com o documentário, “precisava da melhor assessora de imprensa que ele conhecia”. E foi assim que nos conhecemos e nos unimos: eu, Diana, jornalista, vinda do mundo dos torneios de tênis e da experiência como assessora durante toda a carreira do tenista Guga Kuerten; e eu, Jackie, empreendedora criativa e produtora do documentário.
Fomos juntas para Los Angeles. No meio de todo o glamour do Oscar e de suas festas, decidimos que iríamos continuar o projeto empreendendo com os catadores. O filme encerrava sua carreira já tendo atingido o topo, a indicação ao Oscar. Mas, no Brasil, o marco da política nacional de resíduos sólidos tinha acabado de ser definido e isso mudava todo o jogo.
Não ganhamos o Oscar, mas sabíamos que queríamos continuar trabalhando juntas. E, assim, dentro destas circunstâncias, durante dois anos estivemos à frente de um grupo de quase 100 catadores, utilizando a história do documentário como pano de fundo para divulgar o trabalho e a competência dos catadores nas empresas. Fomos para Harvard falar sobre empreendedorismo social, conhecemos as lideranças femininas à frente do Movimento Nacional de Catadores do Brasil, colocamos a imagem de um dos protagonistas do filme estampada em latas da Coca-Cola, ajudamos diversas cooperativas a se formarem.
Íamos quatro dias por semana ao lixão de Gramacho, que fica em Duque de Caxias, no caminho para o aeroporto internacional do Rio de Janeiro. Eram quase 40 minutos dirigindo. Hoje, olhando para trás, sabemos que aqueles longos trajetos feitos quase que diariamente foi o que aprofundou o nosso relacionamento e nos fez conhecer a forma como cada uma lidava com a adversidade. Foi inspirador, foi muito difícil e foi fundamental para o que viria pela frente…
A realidade é que, depois de um tempo, entendemos que o projeto não tinha como se sustentar e o sonho de implementar a reciclagem no Brasil com os catadores foi o primeiro teste da nossa amizade nos negócios. Em uma quarta-feira qualquer, no fim de 2011, começaram a ser dados os primeiros passos da fundação da The School of Life Brasil.
No País para lançar o best seller e seu mais recente livro na época “Religião para ateus”, Alain de Botton, com quem eu, Jackie, havia estado em Londres naqueles meses de divulgação do Lixo Extraordinário, me liga e avisa que gostaria de encontrar. Após esse encontro, fomos nós duas as responsáveis pela divulgação da breve passagem dele por aqui e recebemos um convite inusitado para trazer a The School of Life para o Brasil. Uma conversa concluída com a seguinte frase: “Would you like to join me in this life adventure?”
A verdade é que, mesmo depois do projeto com os catadores, quando tivemos um hiato de trabalho, nos falávamos todos os dias dividindo os planos e as histórias que aconteciam ao nosso redor. Torcíamos juntas uma pela outra. Existe uma complementaridade enorme no que fazemos e em como vemos o mundo. De um lado, eu, Jackie, sou sonhadora e criativa. Do outro, eu, Diana, sou uma pessoa muito objetiva, certeira e bem humorada, o que faz com que, juntas, sejamos realmente muito melhores.
Animadas pela possibilidade de voltarmos a trabalhar juntas, agora, à frente da The School of Life Brasil, ingressamos em uma profunda imersão em todos os conteúdos da escola e no modelo de operação do negócio. Mas o que fez a diferença mesmo foram as idas à sede em Londres. Tudo era fascinante: o convívio com as pessoas, o brilho no olhar que vimos, a ideia de ter uma escola que só falasse de desafios modernos e como a cultura pode nos ajudar a viver melhor.
Em abril de 2013, finalmente iniciamos os trabalhos da The School of Life no Brasil. Como profissionais, nosso diferencial nunca foi a experiência na área de educação, mas a disposição generosa para aprender e fazer o que tem que ser feito, mesmo que seja preciso aprender fazendo. Não tínhamos e não temos medo de fracassar, pois já havíamos passado por períodos desafiadores antes e sobrevivemos.
Do convite de Alain de Botton até os dias de hoje, dez anos depois, muitos momentos significativos foram tecendo nossa parceria e nossa amizade. Começamos pequeno, mas com a certeza de que estávamos ajudando pessoas a viver melhor, mais plenamente. Também podemos afirmar que nos tornamos pessoas melhores, melhores amigas, melhores líderes, melhores mães. Isso porque tomamos os “remédios” que prescrevemos na escola e nos cercamos de uma atmosfera de pessoas que respiram boas ideias da psicologia, da filosofia e da cultura para viver mais plenamente.
Somos constantemente inebriadas pela vida. Os momentos mais significativos que marcam nossa história são sempre compartilhados por um time de pessoas extraordinárias que torce pelo trabalho conosco. Uma rede de pessoas e afetos, que faz com que a felicidade seja um acontecimento coletivo.
São marcos que incluem, por exemplo, a inauguração da nossa sede, no coração da Vila Madalena, em 2015; a vinda dos fundadores da escola – Alain de Botton e Roman Krznaric – em 2018; a nossa entrada de fato na área corporativa das empresas, em 2017; e encontrar, engajar e manter um time de professores que carregam nossa metodologia com o maior orgulho. Tudo isso com o desafio de ter atravessado uma pandemia juntas.
Empreender é mesmo a arte de resolver problemas. Você soluciona três e aparecem sete. E é assim todos os dias.
Diana Gabanyi e Jackie de Botton
É uma tarefa que requer um misto de loucura com determinação e sempre com um time impecável. Mas entre tudo, o que tem sido mais fundamental mesmo é nunca termos nos sentido sozinhas nessa jornada. Sempre pudemos contar uma com a outra.
Nossa dinâmica de apoio é uma espécie de gangorra emocional, em que tem dias que você precisa de mais energia e tem dias que você dá mais energia… Temos um orgulho surreal de conduzir uma das unidades da The School of Life, única escola 100% dedicada a desenvolver inteligência emocional desde 2008. Nosso líder, Alain de Botton, é um filósofo genuinamente preocupado com as necessidades da humanidade e do cotidiano dessas pessoas.
Temos orgulho de ser a única da escola nas América, do time de professores e colaboradores que colocamos de pé, de termos produzido mais de 2000 eventos desde 2013, mais de 5 milhões de palavras. Tudo isso com o privilégio de ter o amor de uma grande amizade tecendo os fios da nossa trajetória. Amizade essa que vem sempre antes dos negócios. Que venham os próximos dez anos.
CEO da The School of Life Brasil, Diana Gabanyi, que é paulistana, passou boa parte de sua carreira percorrendo o circuito mundial de tênis, seja como assessora de imprensa internacional do tenista Gustavo Kuerten, fundadora da Revista Tennis View ou head de comunicação de torneios mundiais. Fundadora e Diretora Criativa da escola, Jackie de Botton é carioca, administradora e economista, com atuação na fundação do Instituto Endeavor, no Fórum Econômico de Davos e na produção do primeiro TEDx no Brasil.