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Roberta D'Albuquerque

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Roberta D'Albuquerque é psicanalista e autora do livro Quem manda aqui sou eu - Verdades inconfessáveis sobre a maternidade
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Guarda-chuva para quê? E para quem?

A maternidade é um banho quente e uma xícara de chá

Por Roberta D'Albuquerque
27 nov 2017, 11h03
 (ThinkStock/ThinkStock)
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Dia desses, vi uma cena que me deixou comovida. Mãe e filha andavam apressadas e riam muito enquanto tentavam escapar de uma tempestade na hora da saída da escola. A mãe, encharcada, ajudava a menina de uns 6 anos (no máximo) a equilibrar o guarda-chuva, que virava as pontinhas com a força do vento, sobre a cabeça.

Ela poderia ter esperado o temporal passar. Essas pancadas, apesar de fortes, costumam durar pouco nesta época do ano em São Paulo. Poderia ter colocado a criança no colo e se protegido da água também, ou ter pedido uma carona, ou ter tomado um táxi. Poderia ter agido de mil maneiras diferentes. Mas optou por emprestar o guarda-chuva quebrado e se molhar. Para além da loucurinha pré-gripe que se desenhou, o que me fez gostar daquela dupla foi a alegria com que a mãe abriu mão do seu conforto e a naturalidade que a filha aceitou o guarda-chuva, como se não houvesse outra alternativa.

Mães se dedicam pelos filhos todos os dias. É o basicão da maternidade. Mas é possível tornar isso um sacrifício, cobrar, reclamar, fazer as coisas sem querer, por obrigação. Essa mãe foi, para mim, uma ilustração de quem faz porque quer. Imaginei que se um dia ela não quisesse ceder o guarda-chuva, diria com o mesmo riso frouxo: “Vai mais prá lá, não é só você que não quer se molhar”. Tenho um apreço especial por quem é honesto consigo.

A filha, por outro lado, aceitou a gentileza com doçura e sem cerimônia. Crianças estão acostumadas a serem cuidadas. Mas é possível receber os cuidados com desdém e, ainda assim, reclamar do desconforto, fingir que não entendeu o esforço do outro, fazer de conta que não vai aceitar para, depois da primeira insistência, pegar o guarda-chuva. Essa menina entendeu que, no fim de tudo, chegariam as duas imprestavelmente molhadas até o destino final e que, ali, o que estava em jogo era a parceria. Tenho um carinho especial por quem topa entrar na brincadeira.

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Foi uma cena curta, mas que, para mim, continha todos os elementos que representam o que é abraçar o desafio da maternidade: o gosto pela aventura, o desprendimento de abrir mão do que antes era prioridade, a sabedoria de fazer isso com leveza, a criação de uma parceria grandiosa, cuidadosa e atemporal, a capacidade de brincar com responsabilidade. E o mais importante: a certeza de saber que nosso guarda-chuva pode até ser grande, mas algumas tempestades também são; de saber que, mesmo assim, ainda que (as vezes) capenga, ele faz uma função importantíssima para quem o segura; de saber que, para criança molhada, tem banho quente, mas para criança que não aprendeu a gostar da chuva…

 

 

 

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