Foi um apelo. Um convite à luta armada, organizada. Contra um inimigo conhecido, pequeno, porém poderoso, insistente.
Mais do que um apelo, foi uma aposta. A maioria de nós, em algum momento, pensou em fazer o mesmo, mas deixou escapar. Fomos contidas, vaidosas, discretas demais.
Ela disse. Disse com todas as letras:
– Aqui em casa, estamos todos com piolho. Proponho uma ação conjunta. Acho importante dar uma olhada geral na criançada. Precisamos interromper esse ciclo.
O apoio foi imediato e irrestrito. Tratamos de nos organizar para um tratamento coletivo, um mutirão. Discutimos possibilidades, trocamos informações. Decidimos juntas como atacaríamos a questão. Finalmente, todos da sala estão livres do piolho.
Parece uma besteira. Mas não é. Para mim, esse episódio, que se deu no grupo de WhatsApp das mães da escola, foi muito significativo. É nesse tipo de coletivo que eu acredito. É esse tipo de atitude que me inspira. Não o pente fino, claro. Mas a conversa sem filtros sobre um problema que é, sim, de todos, a disponibilidade para ouvir a reação do grupo sem medo, o compartilhamento do que se sabe e do que não se sabe com generosidade e sem imposição de ideais.
Essa microssociedade que montamos no aplicativo me comove. Nas últimas semanas, passamos dos cabelos para a gripe. Nossas crianças foram atacadas por uma virose danada de forte. As mães, mais uma vez coletivamente, avisaram como estavam todos, cuidaram para que a doença não se alastrasse. Além de pensar nos seus, pensaram no grupo.
Renova minhas esperanças saber que podemos ser mais fortes juntos. Que o discurso funciona na prática. Mesmo que se comece miúdo, miudinho como um piolho, um vírus, o poder do coletivo é gigante e lindo de ver. Se brincar, a gente contamina um tanto de gente. Se brincar ja, já, a gente atravessa esse tempo esquisito e consegue acordar e dizer sem medo de ser otimista demais: “Bom dia, grupo!”.