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Coluna da Fernanda D'Umbra

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Coluna da atriz, bailarina, diretora, roteirista, compositora, poeta, cozinheira madrasta e vocalista da banda Fábrica de Animais Fernanda D'Umbra
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Sentir prazer é fundamental para que a vida valha a pena

Não precisamos largar tudo para sermos felizes. Temos é que nos agarrar ao que gostamos, e isso é bem diferente de jogar tudo para o alto

Por Fernanda D'Umbra Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
26 jun 2017, 17h05
 (Satyrenko/ThinkStock)
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Sou exemplo de tudo o que não pode, porque o prazer rege minha vida. Esse é um terreno perigoso, às vezes atrelado a outros substantivos abstratos: egoísmo, indiferença e vaidade, por exemplo. Vivemos num mundo louco, onde o sacrifício é a grande estrela da festa. Tem algo errado aí. A coisa deveria ser bem mais simples: o prazer está ligado à satisfação de uma vontade, a fazer algo que te enlouqueça de amor, que tenha sua assinatura e seja único.

Sei que grito no deserto. Mas há gente morando lá; meus gritos não são solitários. Muitas pessoas são guiadas pelo prazer no trabalho. E pagam por isso, porque a vida custa caro. O pão tem o mesmo preço na padaria, seja qual for seu ofício. Portanto, não adianta passar a vida toda trabalhando com o que você não gosta. Se essa é a regra, alguém está roubando nesse jogo.

É evidente que ninguém aqui é ingênuo. Não estou falando de encontrar deleite em tudo, isso é impossível. Estou falando em lutar para que ele seja o parâmetro.

É difícil escrever, atuar, cantar, compor, dirigir, mas eu não preciso que seja fácil. Só quero que seja bom, e não um fardo que me deixe triste, doente, raivosa, quieta e cabisbaixa. Todos sofremos, temos problemas gigantescos no trabalho, com a família, os amigos. Isso não quer dizer que eu tenha que viver em sacrifício. Eu posso sofrer só quando for a hora, e não o tempo todo.

Levar uma vida que você não deseja e esperar pela morte física não tem justificativa. É muito cruel e devasta qualquer possibilidade de prazer. Então, tudo começa a ruir: seu trabalho, seu amor, seu corpo, enfim, você. Até mesmo as pessoas por quem você se sacrifica não pediram que fosse assim. Padecer em excesso é uma armadilha. Fuja dela.

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É importante lembrar que a vida é a única coisa que temos de fato. As pessoas que te amam ou odeiam não são você. Não estão aí dentro sofrendo todo dia. Só nós sabemos a verdade sobre nossos desejos. Assim, um bom negócio é fazer o que se quer. Mas esqueça essa conversa de que temos que largar tudo para sermos felizes. Temos é que nos agarrar ao que gostamos, e isso é bem diferente de jogar tudo para o alto.

Conheci esses dias uma especialista que atende no mesmo hospital há 30 anos. Ela é  apaixonada por medicina. Sua consulta foi excelente, séria, doce. É um fato: uma pessoa é infinitamente melhor em seu trabalho quando o realiza com prazer.

Então, é preciso descobrir onde ele está. E correr em sua direção. Fazer planos, dedicar-se com afinco, se divertir, sofrer quando algo não sai a contento e terminar exausto, mas satisfeito. Sentir prazer é o mínimo que se espera desta vida.

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O trabalho é nossa transformação pessoal e nosso legado. Todas as escolhas profissionais são importantes e constroem a sociedade. Mas, para além disso, elas nos representam, nos descrevem e dizem quem somos neste planeta.

O mundo não pode nos empurrar para uma existência infeliz sem que lutemos à unha para evitar o precipício. Não podemos morrer todo dia. Não é bonito, não é justo e não nascemos para isso. Viemos aqui para viver. Deixemos a morte para o fim.

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