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Fora da zona de conforto

Gabriela Onofre trabalhou em multinacionais durante anos até aceitar a proposta de uma mudar de emprego para uma startup de tecnologia

Por Gabriela Onofre
Atualizado em 28 set 2019, 08h00 - Publicado em 28 set 2019, 08h00
 (Hero Images/Getty Images)
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Quando esta página for publicada, já terei feito a maior mudança profissional da minha vida. Depois de 20 anos trabalhando em multinacionais de bens de consumo como executiva de marketing, aceitei a proposta de montar a área de marketing e comunicação da Acesso Digital, startup de tecnologia com soluções para identificação pessoal.

Não foi um processo simples. Ouvi de muitas pessoas que seria um risco. É verdade que as mudanças são significativas. Deixo uma corporação multinacional com mais de 100 anos e 100 mil funcionários por uma empresa brasileira jovem, cujo quadro reúne algumas centenas de colaboradores (mas que sonha em ser gigante). Troco um trabalho dirigido ao consumidor por um focado no cliente. Em vez de vender produtos como absorventes femininos, falo de tecnologia.

Tomadas de decisões e transformações são parte do dia a dia. O importante é saber por que estamos fazendo isso e se permanecemos alinhadas com quem somos e com o que acreditamos. Esse processo de reflexão profissional começou há pouco mais de dois anos, quando uma chefe querida saiu da Johnson & Johnson depois de mais de 20 anos para tocar o próprio negócio. Ela havia se preparado para seguir esse caminho e estava feliz. Passei a me perguntar o que eu gostaria de estar fazendo dali a alguns anos. Percebi que a gente pensa nisso poucas vezes – pelo menos eu não tinha dado muita atenção ao tema antes. Entramos no ciclo de trabalho e aprendizado, assumimos responsabilidades e, enquanto tudo está dando certo, o barco segue sem ponderações. De repente, cai a ficha, e o incômodo que surge faz questionar se aquilo é o suficiente, se traz felicidade.

Aí não tem jeito. Precisa arrumar tempo para se conhecer melhor. Tive uma coach que me ajudou a resgatar quem sou, a entender o que faz com que me sinta realizada e a redescobrir minhas forças. Sempre disse a meus filhos que vamos melhor na escola em matérias de que gostamos, mas eu mesma não estava ouvindo esse conselho. Adoro conectar pessoas e falar sobre futuro. Entendi que precisaria de um ambiente com mais autonomia e de um ritmo mais rápido. Comecei do zero me apresentando a pessoas de startups e outras empresas do ramo. Fui a reuniões, cafés e almoços para trocar ideias e tomei muitos nãos. Achavam que eu era sênior demais, que não me adaptaria a pequenas estruturas. Até que conheci o Diego Martins, sócio-fundador da Acesso Digital. Tivemos conversas encantadoras sobre desburocratizar o mundo por meio da identificação pessoal.

O apetite para se adaptar rapidamente às mudanças e a vontade de transformar o negócio em algo grande e relevante já eram reais e a empresa estava crescendo em ritmo acelerado. Senti que queria estar com aquelas pessoas naquele projeto. A energia era boa. A proposta veio em pouco tempo. Antes que eu estivesse preparada, na verdade. Decidi propor a mim mesma mais reflexões. Quis entender mais da cultura da empresa. Voltei à Acesso Digital e conversei com funcionários para descobrir mais do ambiente. Perguntei sobre visão, planos, quis saber das dores pelas quais estavam passando, qual seria meu papel e quanta autonomia teria. Tive certeza de que poderia contribuir. Também fiz uma boa diligência e falei com muita gente que conhecia a Acesso Digital para analisar a integridade da companhia. A cada um desses passos, eu ganhava confiança. As conversas me energizavam. Também sentei para debater a decisão com meu marido e meus filhos.

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O mundo das corporações pode parecer menos arriscado, mas está sendo chacoalhado pelas transformações culturais e digitais. Minha nova incursão pode dar errado? Sim. Há risco? Claro. Mas, como me disse um dos conselheiros da Acesso Digital: “Se der errado, já deu certo”. Pelo menos terei me desafiado e aprendido lições. Com mais de 20 anos de carreira, se precisar procurar emprego daqui a algum tempo, não será a primeira vez. Só que terei mais autoconhecimento e a vivência de ter saído da zona de conforto e ganhado novas perspectivas.

Gabriela Onofre é vice-presidente de marketing e comunicação da Acesso Digital. Trabalhou 17 anos na Procter & Gamble e três anos na Johnson & Johnson

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