Ainda às voltas com o preconceito contra as grisalhas. Já mencionei que são as mulheres que rejeitam com mais intensidade a minha cabeleira cinza. Tenho uma penca delas que insiste que eu estou mais velha e mais abatida. Juro que gosto. Até porque seria masoquista né!
Cheguei a total cabeleira prateada durante a pandemia. De pijama em casa a transição ficou mais fácil, pois o caminho é longo e feio. Vai abrindo umas frestas amazônicas nas estradas capilares. Parece devastação mesmo. Eles rompem o caminho preto, castanho, ruivo e gritam. O cabelo branco não pede licença. Ele chega chegando. É um fórceps capilar. Mas depois que atinge um certo tamanho você pode podar a juba e seguir em frente em sua versão silver.
Já me disseram para eu abusar da maquiagem, roupas coloridas, arcos e brincões. Não me animo a nada. Gosto deste look ameba, meio feto. Não quero liberdade de ter esse cabelo natural e virar uma japonesa louca pelo make. Tô gostando dessa fase clean, antítese de tempos ainda tão fakes. E sabe que tenho sido paquerada? Acho que os maduros se intrigam de uma mulher com menos de 70 anos deixar a juba toda branca. Como se a gente só pudesse atiçar a libido alheia se tiver cabelos louros Rapunzel ou ébanos de Índia Potira.
Não sei se por ter voltado a viajar pelo Brasil, nesta abertura pós-pandemia, eu estou atenta aos novos olhares masculinos. Também pode ser delírio da minha mente, mas acho que por ser uma mulher extravagante, que usa roupas diferentes, age diferente e pensa diferente, eu chamo a atenção. Ou pode ser início da senilidade. Vai que né? Será que estou cada vez mais invisível aos olhares de testosterona, mas intuo que o meu tico e teco ainda não pediram demissão? Então, grisalhas, pé na estrada e olhos abertos. Não estamos mortas. Só diferentes!