Nasceu mulher, morreu menina
Agora na maturidade eu estou experimentando uma nova adolescência
O genial escritor mineiro Fernando Sabino, já falecido, traz essas palavras na lápide de seu túmulo. Claro que na versão masculina: “nasceu homem, morreu menino”. E eu – do alto das minhas caraminholanças sobre o finito – fico pensando sobre o meu próprio envelhecimento.
Eu estou cada vez mais jovem. Não nas pelancas, claro. Essas não perdoam.
Mas estou menina. Infantil. Muito ingênua. Vai dizer que não é útil ser bobinha, mas dou de ombros. Quero suavizar, e acho que fui pura melancolia na juventude. Nasci velha. Agora na maturidade eu estou experimentando uma nova adolescência. Estou mais leve, menos preocupada com as opiniões e, sobretudo, mais confiante em mim.
Sei o que eu não quero e isso já é muito. O exercício atual tem sido procurar caminhos para um eu verdadeiro, mais repleto de propósito e sobretudo generoso com os meus pares. De que adianta a vitória se você não pode compartilhá-la com os amigos?
E acredito que ver a minha mãe envelhecer na minha frente, já mais esquecida, tem sido uma tremenda alavanca para eu me superar. Se o fim é esse, um desmemoriamento de si, para que tanto controle?
É a cadência da vida. Nascer, viver, reviver e, um dia, morrer. Estou na fase do ressignificar a minha vida. Muitas cicatrizes pelo caminho. Perdas e danos. Mas sigo. Sigo firme. Cambalearei inúmeras vezes, mas a cada tropeço prometo reerguer a fronte, enxugar o suor e rumar.