A Verdadeira História de Abigail Williams e as Bruxas de Salém
De 1692 a 2025, o nome Abigail Williams ainda carrega o peso da dúvida — e o espelho de uma sociedade que repete seus erros
De todas as lendas — ou fatos — que explicam o Dia das Bruxas, celebrado em 31 de outubro, há uma história real, macabra e infinitamente curiosa por trás de uma das obras mais emblemáticas desse período: a verdadeira história de Abigail Williams.
Sim, a protagonista (e antagonista) de The Crucible — traduzida no Brasil como As Bruxas de Salém — existiu, acusou inocentes de bruxaria e, ainda hoje, 333 anos depois, permanece envolta em mistério.
É mais comum lembrar que, em 1953, Arthur Miller usou essa história como alegoria para criticar o macartismo nos Estados Unidos. The Crucible é uma de suas melhores obras — e talvez a mais contundente. Mas o julgamento das Bruxas de Salém foi um evento jurídico real, com documentos preservados até hoje, e faz parte do imaginário coletivo.
Em 1692, vinte pessoas foram condenadas à morte, acusadas de bruxaria sem sequer terem sido investigadas. Todas as vítimas foram apontadas por um grupo de meninas lideradas por uma jovem: Abigail Williams.
De “heroína” a vilã, Abigail surgiu e desapareceu sem deixar rastros, tornando-se um símbolo paradoxal — ora de poder feminino, ora de manipulação. Ela acusou homens e mulheres de crimes sobrenaturais, mas sua figura acabou sendo usada como sinônimo de falsidade, rancor e destruição.
Fake news, interesses escusos, histeria e injustiça moldaram o julgamento. Ironicamente, foi a partir dali que a credibilidade feminina passou a ser questionada — algo que, tristemente, ainda ecoa no século XXI.
A verdadeira Abigail Williams
As acusações de bruxaria em Salém, uma pequena cidade de Massachusetts, começaram com Abigail, então com apenas 12 anos (alguns registros dizem 11).
Nos documentos oficiais do julgamento, seu testemunho aparece em sete dos vinte casos, e ela esteve envolvida em pelo menos dezessete deles.
O relato mais aceito descreve que, em janeiro de 1692, um grupo de meninas foi descoberto realizando consultas esotéricas com Tituba, uma mulher indígena escravizada que trabalhava para o tio de Abigail, o reverendo Samuel Parris.
Entre as curiosas que queriam saber sobre o futuro amoroso estavam Abigail e sua prima Elizabeth (Betty) Parris.
Apavoradas ao serem descobertas, as meninas entraram em ataques de histeria, com convulsões e comportamentos catatônicos. Sem compreender o fenômeno, o pastor chamou o médico da cidade, que diagnosticou os episódios como “aflições demoníacas” — e o pânico começou.
A suspeita de bruxaria dentro da casa do pastor se espalhou rapidamente. Em 29 de fevereiro de 1692, foi registrada a primeira acusação formal: as meninas apontaram Tituba, Sarah Osborne e Sarah Good (ambas parteiras) como bruxas.
Além de Abigail e Betty, Ann Putnam Jr. se juntou ao grupo. Nos tribunais, as jovens se jogavam no chão, gritavam e se contorciam ao ver as acusadas — o que, para a população, era prova de possessão.
Torturada, Tituba acabou “confessando” e elaborando uma lista de nomes de bruxos e bruxas para escapar da forca.
Abigail assumiu a liderança e passou a acusar dezenas de pessoas, incluindo Martha Cory, George Burroughs, Bridget Bishop, Elizabeth e John Proctor, Mary Easty, John Willard, Mary Witheridge e Rebecca Nurse.
Em um dos depoimentos mais absurdos, acusou Elizabeth Proctor de “beber sangue” e afirmou que o marido dela, John Proctor, “lhe aparecia em sonhos tocando-lhe os seios”. Sua palavra bastava — e todos foram condenados.
A motivação real de Abigail nunca foi descoberta. Alguns historiadores sugerem que ela se encantou com a atenção que recebia, quase como uma “santa”.
Pouco se sabe sobre sua origem ou destino: seu último testemunho data de 3 de junho de 1692, e, a partir daí, ela desaparece dos registros.
Versões não confirmadas dizem que fugiu, viveu na prostituição ou morreu atormentada pela culpa em 1697, antes de completar 17 anos.
A única das meninas que confessou ter mentido foi Ann Putnam Jr., 14 anos depois — sem qualquer punição.
A ficção e as novas Abigails
Sem dados históricos suficientes para compreender suas motivações, Arthur Miller decidiu envelhecer a personagem (de 11 para 17 anos) e rejuvenescer John Proctor, transformando o julgamento em uma tragédia moral sobre desejo, culpa e poder.
Na ficção, Abigail é a ex-empregada dos Proctor, apaixonada pelo patrão. Rejeitada, transforma ciúme em vingança e leva inocentes à morte — a personificação da mentira institucionalizada.
Em The Crucible, embora outros se beneficiem de suas acusações, Abigail carrega sozinha o peso do mal. No fim, foge, deixando um rastro de destruição — uma metáfora amarga da forma como a sociedade cria e depois condena as mulheres que ousam desafiar o sistema.
Um rito de passagem para atrizes
A peça é revisitada há décadas.
Em 2002, Liam Neeson e Laura Linney brilharam na Broadway; em 2016, Saoirse Ronan, Ben Whishaw e Sophie Okonedo renovaram o texto para o século XXI.
Em 2023, Milly Alcock (House of the Dragon) estrelou uma elogiada montagem em Londres.
E em 2025, As Bruxas de Salém voltou aos palcos brasileiros sob direção de Renato Carrera, com Vanessa Gerbelli e Elisa Pinheiro nos papéis centrais.
Cada nova encenação reafirma o poder atemporal de Miller: a peça é menos sobre o passado e mais sobre a nossa incapacidade de aprender com ele.
Abigail e os julgamentos de hoje
Quando Arthur Miller escreveu The Crucible, ele não imaginava que, mais de 70 anos depois, a metáfora continuaria atual.
Em 2025, ainda vemos homens poderosos alegando ser vítimas de “caças às bruxas” — uma expressão que, ironicamente, deriva de um episódio real de injustiça comandado por meninas.
Se a verdadeira Abigail viveu em tempos repressores, as mulheres de hoje enfrentam novas formas de perseguição — mas com provas, testemunhos e tecnologia a seu favor.
As histerias de Salém deram lugar às redes sociais e à manipulação digital, mas a lição permanece: nem toda mulher é uma Abigail Williams.
As Bruxas de Salém continua sendo, mais do que um alerta histórico, um espelho moral — um lembrete de que a verdade pode ser queimada em praça pública e de que a chama da dúvida é, às vezes, o fogo mais perigoso de todos.
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