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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Paloma Bernardi fala sobre a peça Terremotos e a intensidade do presente

Intensa e atual, peça traz um cataclismo na Terra refletido de maneira diferente por três irmãs

Por Ana Claudia Paixão
18 mar 2022, 11h07
Paloma Bernardi
 (Sergio Baia/Divulgação)
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Os ensaios da peça Terretomos foram particularmente difíceis para a atriz Paloma Bernardi. Com a certeza de que a maternidade é um desejo próximo, teve que lidar com uma personagem que – diante de um futuro incerto do Planeta – rejeita a gravidez e a vontade de viver. “A paranoia da personagem mexeu comigo pessoalmente”, ela reconheceu em um papo exclusivo com CLAUDIA, por telefone, em um intervalo da apresentação da peça, em São Paulo. O dramaturgo Mike Bartlett escreveu e montou o espetáculo em Londres, em 2010, ou seja, pelo menos uma década antes da pandemia que “mudou tudo”. Na época, se inspirou em um tremor que houve na capital inglesa, em 2008. A peça fala de um cataclismo na Terra, previsto por um cientista ainda nos anos 1960, mas refletido de formas diferentes por suas três filhas. A montagem original foi um sucesso e a versão brasileira era para ter sido montada em março de 2020, justamente quando o “mundo parou”. 

Dois anos depois, o espetáculo gratuito, que é uma mescla de musical, cinema, teatro e até ópera, chegou aos palcos do Teatro SESI-SP, com um elenco de 30 artistas e com as atrizes Bruna Guerin, Paloma Bernardi e Virgínia Cavendish como as três irmãs. Em meio a um intervalo de almoço e corrido, Paloma se sentou para conversar sobre maternidade, saúde mental, cinema, teatro e futuro. 

CLAUDIA: Como Terremotos entrou nesse cenário de pandemia? A peça tem uns 12 anos, não? Escrita bem antes de que todos pudessem se identificar de tão perto com o que a peça discute.

Paloma: Isso, esse texto foi escrito pelo Mike (Bartlett), que é inglês, e encenado em vários países, e chegou a hora do Brasil trazer essa história pra refletirmos. Porque apesar de ter sido escrita lá atrás, os temas que a gente aborda são extremamente importantes para o dia de hoje, são contemporâneos. É uma peça que fala sobre assuntos como o caos ambiental que está acontecendo. Como o vimos em Petrópolis, né? As grandes tempestades. Além de caos ambiental, também fala sobre política, sobre a Terra, sobre guerra, da luta da sociedade sobre economia, sobre a humanidade… assuntos que merecem atenção porque são sobre nosso futuro. Quais são as nossas ações de hoje pra preservar e manter principalmente o meio ambiente pro nosso futuro? Que é um dia depois de amanhã. Quais são as nossas ações negativas hoje que podem prejudicar o futuro das nossas gerações futuras? 

CLAUDIA: Como o filme “Don’t Look Up” mostra tão bem. Paloma: Exatamente e que dialoga muito com a nossa peça. Existem coisas acontecendo no meio ambiente, a nossa natureza está se manifestando. Ainda estamos vivendo a pandemia, né? A nossa casa, que é o planeta Terra, tem gritado dizendo “olha presta atenção porque pode se autodestruir”. A narrativa de Terremotos traz três irmãs com diferentes perspectivas sobre a catástrofe que as espera…

Paloma: Exato. A gente traz assuntos pertinentes para serem refletidos de maneira corretiva através do olhar das três irmãs. A minha personagem, Maia, é uma mulher que está grávida e vivendo um grande conflito interno enquanto acontece esse terremoto lá fora. Como se fosse um terremoto interno, porque ela não se sente segura para dar vida a uma criança em um mundo que está se autodestruindo. Por isso entra em depressão pré-parto.

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CLAUDIA: Certamente um momento particularmente difícil para pensar em futuro!

Paloma: Através da minha personagem fazemos uma reflexão da mulher, da maternidade, que não é um mar de rosas, um assunto em pauta na nossa sociedade agora. Eu acredito que a maternidade é um momento sagrado, um milagre da vida, porém, a mulher passa por diversos conflitos internos, e a minha personagem vive sozinha, precisa de uma rede de apoio porque entra em colapso e contempla até o suicídio.

CLAUDIA: Saúde Mental tem recebido mais atenção e prioridade também, algo que tem grande importância.

Paloma: É um assunto também muito atual diante da pandemia. Temos falado sobre depressão, sobre crise de pânico, de ansiedade. A peça também traz esse assunto através da minha personagem.

CLAUDIA: Como foi que o texto chegou até você?

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Paloma: A loucura é que o texto chegou nas minhas mãos há dois anos, e era para ter sido realizado antes da pandemia. Então foi parado como tudo no mundo e só veio a ser realizado agora. O que eu acho que acabou sendo a hora certa, porque com a pandemia e o cenário atual a nossa peça está tocando bastante as pessoas que estão indo assistir. Faço questão de cumprimentar as pessoas no final do espetáculo. 

CLAUDIA: Como foram os ensaios em plena pandemia?

Paloma: Foi diferenciado. Nós passamos por todos os protocolos de segurança, fazendo teste de Covid-19 semanalmente, usando máscara. Só fui ver o rosto real oficial dos atores – somos trinta pessoas no palco – há pouco! Toda essa segurança pra gente poder trabalhar e as pessoas que estão vindo, antes de entrar no teatro, fazem uma avaliação se tem algum sintoma, apresenta comprovante de vacinação, usa máscara, álcool gel, todas as medidas possíveis pra que esse momento seja um momento seguro.

CLAUDIA: Como você fez pra preservar a sua saúde mental durante a pandemia?

Paloma: Comecei fazer terapia para justamente lidar com as minhas questões particulares íntimas, trabalhar o meu interno para poder viver o meu externo. E muita oração. A oração sempre esteve muito presente na minha vida e nesse período se intensificou mais para justamente me blindar de qualquer turbulência que o mundo pudesse estar está trazendo. Minha oração, a minha meditação e a terapia me ajudaram a manter a saúde mental mais ativa. E, de alguma maneira, respirar arte nesse período também.

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paloma bernardi
(Adriana Lima/Divulgação)

CLAUDIA: Como você lida com o peso de sua personagem?

Paloma: Ela está literalmente no lado oposto do que quero na minha vida. Eu desejo ser mãe e vejo a maternidade como de fato algo sagrado. Um milagre de vida, é uma realidade que quero ter.

CLAUDIA: Nossa, pensar em ser mãe e fazer uma personagem rejeitando a maternidade?

Paloma: Então, passei por momentos muito emotivos nos ensaios porque o texto é muito duro de rejeição. A paranoia da personagem mexeu comigo pessoalmente. Chorei muito durante o processo porque estava indo contra aquilo que eu, Paloma, quero um dia viver. Porém, nós atores temos que virar essa chavinha e deixar a personagem lá na sala de ensaio, respirar fundo e viver a vida de uma maneira mais leve.

CLAUDIA: Você está na TV, no streaming, no cinema, no teatro… como é transitar em todos os meios?

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Paloma: O que me importa é contar boas histórias. Mergulho de cabeça em todas as personagens que eu tenho para viver. Sinto que o teatro traz um retorno imediato, o público reage, a gente lida com o improviso, com ao vivo onde tudo pode acontecer. Uma adrenalina. É maravilhoso viver essa experiência. A televisão é uma fábrica de sonhos onde a gente tem que manter essa verdade artística ativa dentro do turbilhão de gravações e o cinema é uma obra eternizada, né? É uma obra que tem começo, meio e fim. Então a gente já sabe toda trajetória da personagem, é um estudo minucioso de altos e baixos até o fim.

CLAUDIA: E gravado fora de ordem…

Paloma: Gravação fora de ordem acontece tanto no cinema, quanto na televisão. A diferença é que na televisão a gente não tem o fim do personagem porque depende muito da audiência, do público, do assunto. No cinema, a gente sabe qual é o fim da personagem, mas você está chorando numa hora depois você está dando risada. É puxado.

CLAUDIA: E fazendo uma peça que questiona tanto o nosso futuro, como você vê o seu futuro?

Paloma: Acho que estamos quebrando padrões, paradigmas, para poder fazer diferente e ter um futuro melhor, em todos os segmentos da nossa sociedade. Um futuro onde as pessoas possam ser transformadas e possam olhar pra o mundo de uma forma mais humana, mais coletiva, não tanto individual. A gente tem que manter essa esperança.

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CLAUDIA: E projetos futuros?

Paloma: Tenho vivido muito presente assim, sabe? Meu presente tem sido tão intenso! Mas quero ter minha família, quero ser mãe. Também quero consolidar cada vez mais a minha carreira artística.

 

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