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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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O olhar feminino em True Detective: série foca nas mulheres pela 1ª vez

A diretora mexicana Issa López esteve na CCXP e falou sobre a experiência de não apenas liderar uma das franquias mais adoradas da HBO, mas reinventá-la

Por Ana Claudia Paixão
6 dez 2023, 13h00

A diretora Issa López cresceu sonhando com cinema, mas, para uma mulher latina, era algo quase ousado em sua época considerar se aventurar nesse caminho. Chegou a estudar Arqueologia por dois anos até entender que sua vocação de contar histórias era mais do que um sonho.

Depois de formada, escreveu novelas e programas de TV na Televisa (uma das maiores redes de TV mexicanas) até que, em 2003, dirigiu e escreveu Ladies’ Night, o quinto filme mexicano de maior bilheteria do ano. Se já era premiada na TV, passou a ser também no cinema, dirigindo outros sucessos.

O prestígio e a experiência a colocaram diante de um senhor desafio na sua estreia dirigindo em inglês: resgatar o prestígio da franquia True Detective, um sucesso unânime na estreia, mas com duas temporadas seguintes criticadas e marcadas por conflitos de bastidores, incluindo seu criador e showrunner, Nick Pizzolatto, que não faz parte mais da parte criativa da série.

Há muitos desafios para Issa: o universo da franquia foi até aqui essencialmente masculino, salvo a participação de Rachel McAdams na 2ª temporada. Agora, as mulheres estão na frente e atrás das câmeras também. T

rue Detective: Night Country também marca a estreia da estrela Jodie Foster na TV. Ela é a detetive Liz Danvers que, ao lado da boxeadora e atriz Kali Reis, que interpreta a detetive Evangeline Navarro, precisa solucionar o desaparecimento de seis homens que trabalham na Estação de Pesquisa Ártica Tsalal, no Alasca, pouco antes do início dos 30 dias anuais de noite incessante do Alasca.

O elenco esteve na CCXP23 em São Paulo, onde Issa revelou muitas curiosidades sobre a nova série que teve a estreia adiada para janeiro por conta das greves de atores e roteiristas em Hollywood. Mais prêmios à vista? É o que aprece.

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CLAUDIA: Esta é a primeira temporada de True Detective dirigida, produzida e escrita por mais mulheres. Quais as implicações ou impactos na história?

Issa: Você sabe, cresci no México e lá tivemos uma lendária diretora de cinema mexicana nos anos 1940, Matilde Landeta, mas foi isso. Ela é uma lenda. Na década de 1970, tivemos Marcela Fernandez e algumas outras, mas tenho idade suficiente para estar na “vanguarda” da tomada de liderança das mulheres e devo dizer que estamos vendo isso em Hollywood, na América Latina. Muitas obras latino-americanas são dirigidas por mulheres. E é provável que uma voz que não foi ouvida desde sempre tenha coisas realmente interessantes a dizer.

CLAUDIA: Como True Detective: Night Country se difere das temporadas anteriores?

Issa: Quando recebi a ligação sobre True Detective, sentei e assisti novamente [as temporadas anteriores] porque não tinha revisto desde que foram lançadas na TV. Assisti semana após semana e adorei porque foi com olhar clínico, não como público. E eu vi imediatamente muita influência, e não sei se Nick Pizzolatto [criador da franquia e showrunners das temporadas 1 a 3] fez isso conscientemente ou não, mas são muitas referências de Seven [de David Fincher].

Na primeira temporada em especial e eu amo Seven. Acho que todos nós! Mas isso me levou de volta ao filme que deu origem a Seven, a meu ver, acredito ser O Silêncio dos Inocentes. Outro filme que criou todo um gênero e eu decidi viver muito desses dois, tipo muito, muito mesmo [risos porque estava ao lado de Jodie Foster, que ganhou um Oscar por Silêncio dos Inocentes e é a estrela dessa temporada de True Detective], mas eu sabia que era fundamental trazer algo novo e certamente teremos novidades.

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Fora isso, era impossível parar minha ‘geekidade’ pessoal e há muitos elementos de John Carpenter e há homenagens O Iluminado [de Stanley Kubrick], especialmente na forma como filmamos a estação de pesquisa do Ártico. É um pouco por todo lado e muitos sabores diferentes em uma culinária bem mexicana.

Kalia Reis e Jodie Foster na 1ª temporada de 'True Detective – Terra Noturna'
Kalia Reis e Jodie Foster na 1ª temporada de ‘True Detective – Terra Noturna’ (HBO Max/Divulgação)

CLAUDIA: Como foi o processo de escrita para você e seus colegas escritores retratarem uma história que se passa tão longe?

Issa:  Quando decidi, por razões que desconheço, ambientar a temporada no Ártico – sou mexicana e odeio o frio – pensei: ‘Não entendo o que há de errado comigo e acho que preciso de terapia’ [risos], mas tudo isso aconteceu durante a pandemia, então no contexto eu teria imediatamente feito as malas, mudado para lá e desenvolvido tudo lá, mas o Alasca tinha números muito elevados dentro da situação da Covid-19 então apenas quando a situação do COVID permitiu, entrei no avião e fui.

O que fiz foi escrever cada palavra ouvindo as rádios dessas pequenas cidades e acompanhando as mídias sociais. Isso porque as pessoas nessas cidades, especialmente durante o inverno, ficam entediadas e o que fazem é registrar suas vidas: se gravam indo ao supermercado, indo buscar a correspondência, indo comprar bebida. Há horas intermináveis no Tiktok, no YouTube com essas pessoas, suas vozes, suas pequenas lojas e a maneira como bebem juntos. Ficou tão marcado no meu cérebro que quando cheguei no Alasca foi uma sensação muito estranha porque eu sabia exatamente onde virar para chegar a um lugar. Tudo era muito familiar. A tecnologia ajudou. A pandemia não. [risos]

CLAUDIA: Como você define a essência da série True Detective e como isso se aplica aos dias atuais?

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Issa: São sempre dois personagens principais tentando solucionar um crime, sem entender que o que estão tentando resolver são suas próprias almas e seus próprios segredos no lugar onde estão. Isso e um elenco brilhante, como aconteceu especialmente na primeira temporada que foi tão bem.

CLAUDIA: E o maior desafio de resgatar o prestígio da franquia?

Issa: A maior parte do desafio, além de um bom enredo, é encontrar as pessoas para interpretar as personagens e que exista química entre elas no momento em que você as vê juntas.  Honestamente, eu encontrei [riso].

CLAUDIA: Há alguma distinção na forma ou estilo de produção de True Detective?

Issa: Aqui está o problema de entrar em um determinado gênero. Tem regras. Infelizmente, tive que escrever muitas comédias românticas na minha vida, não assista a elas! [risos]. Você conhece as regras da comédia romântica e só cito porque aparentemente sei o que fazer.

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Comparando a True Detective: é uma história de amor de amizade verdadeira entre duas mulheres que se odeiam, mas que se amam e ficam juntas. Para descobrir como isso acontece entra a regra da comédia romântica que é praticamente a mesma.

CLAUDIA: E a parte policial?

Issa: A parte policial é um mistério insolúvel que na verdade é solucionável. Também tem fórmulas: algo parece, que ninguém viu antes e parece ser complicado. Então você pensa, ‘ah, vamos ter o detetive desencantado em uma cidade pequena’. Já foi feito. ‘Teremos o durão que realmente tem um coração enorme’. Já foi feito. Então, como vamos transformar isso em algo que você nunca viu antes?

Está tudo nos detalhes. Tudo depende de como você filma, onde você filma, como você constrói, quais são essas camadas, como você lida com seu trabalho, com seus atores, com o trabalho no roteiro. Portanto, é semelhante a muitas séries. Também é diferente de muitas séries.  Também tem suas regras. A HBO lindamente me deu liberdade absoluta sobre quais regras queria manter. Por exemplo, decidi continuar em alguns momentos a tradição de True Detective na qual elas estão em um carro discutindo a natureza do universo e da vida.

CLAUDIA: A história se passa no Alasca e tem atores americanos, onde entra a sensibilidade latino-americana em True Detective?

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Issa: Em tudo. Foi a coisa mais mexicana que já fiz e é tão mexicano da maneira mais estranha e os latino-americanos de todo o mundo vão sentir. Não importa onde a ação se passe, o que importa é o espírito de onde vem. Há a personagem de Kaile Torres, Navarro, que é uma fuzileira naval latina e algo comum no Alasca. Muitos dos soldados americanos têm ascendência latina, o que é interessante e profundo. E na série, especialmente as coisas pelas quais as personagens passam, são incrivelmente pessoais para mim, ambas. E isso vem do lugar onde cresci e da comida que comia e do jeito que eles falam. Elas podem falar em inglês, mas no fundo é mexicano.

CLAUDIA: E o que constitui o universo da franquia True Detective?

Issa:  Há temas que eu acho que são tristemente universais na série, que lidam com mulheres desaparecidas e seus destinos horríveis. Isso acontece em todo o mundo e na América Latina, estamos muito familiarizados com isso. Dos quatro filmes que dirigi, dois tratam disso. Portanto são um componente importante do que é True Detective: comunidades que perderam seu ambiente por causa do capitalismo selvagem, enterrando segredos. Nessa temporada é um solo de gelo que está congelado e é inquebrável até derreter ou quebrar para termos acesso, mas o tema é universal.

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