Na 5ª temporada de “Impuros”, as mulheres são o motor das surpresas
Num papo exclusivo com Claudia, as atrizes Karize Brum e Cyria Coentro comentam sobre a evolução de suas personagens em um dos maiores sucessos da Disney+
Venho acompanhando o sucesso de Impuros desde seu lançamento, no Star+ (hoje Disney+), em 2018, conversando em diversas oportunidades com o elenco feminino. A série, que chega à 5ª temporada, comprova que está num patamar acima da concorrência pois nem no exterior tem sido comum que uma história chegue tão longe. E, se puder, tem toda a chance de ir muito mais.
No universo violento das favelas do Rio de Janeiro nos anos 1990, os homens podem estar no comando, mas são as mulheres que conduzem o drama. Seguimos acompanhando a jornada ao mundo do crime de Evandro (Raphael Logam), que entrou por uma série de infelizes fatos, e nos encontramos com ele dominando o tráfico do Dendê, ainda com problemas com a esposa, Geise (Lorena Comparato) e perseguido pelo policial Morello (Rui Ricardo
Diaz). A filha dele, Inês (Karize Brum), após o assassinato de sua mãe, entrou numa espiral de dependência química e quer vingança, que só pode vir com a morte de Evandro. Inesperadamente, a mãe dele Arlete (Cyria Coentro), também conclui que talvez Evandro não tenha mais salvação.
Evitando ao máximo os spoilers, só comento que Inês e Arlete, com jornadas opostas, têm mais em comum do que pode parecer a princípio. E representam as vidas de tantas mulheres brasileiras que são vítimas do universo do crime.
CLAUDIA: Vou tentar ao máximo comentar e conversar sem virar a grande surpresa da temporada, mas queria começar perguntando como tem sido a jornada de vocês e de suas personagens agora que Impuros chega à 5ª temporada?
CYRIA: O roteiro surpreende muito. Nós, como atores, nos surpreendemos com os caminhos que os personagens tomam a cada temporada e elas vão nessa espiral, a meu ver, descendente. Tem beleza, mas o negócio só vai pesando cada vez mais. São caminhos sem volta, então são atitudes extremas que essas personagens tomam. Estão cada uma nos seus limites de suportabilidade, de condição mesmo de suportar essa situação. Então elas vão explodindo as situações e se explodindo internamente por isso, como atriz, vibro.
KARIZE: A cada temporada que chega, eu comemoro, porque essa personagem é um grande presente na minha vida. É uma personagem que me exige muito, mas me dá o trabalho que eu gosto de ter, que são as emoções, né?
CYRIA: A Arlete não decepciona nesse sentido, porque a Arlete vai emburacando mesmo, em situações absurdas e eu vou tendo que dar conta internamente daquilo. É muito instigante, é muito excitante. E o set é bem leve, então tem isso de bacana nessa série – é tensa, violenta, dinâmica, mas o set é leve. A trajetória tem sido uma delícia e tem o nosso amadurecimento impresso na tela, tanto dos atores quanto das personagens, fisicamente e de todas as formas. Quando eu pego a primeira temporada pra ver, eu falo, “nossa! Éramos jovens!” [risos].
KARIZE: Afinal, são sete anos em curso, temos cinco temporadas, mas são sete anos de projeto, sete anos vivendo esse universo, vivendo esses personagens. E em sete anos, muita coisa na sua vida pessoal também acontece! A gente também vai vendo as nossas histórias se cruzarem com as histórias dos personagens. Eu me casei na segunda temporada, a Inês casou na quarta. Então, a gente vai cruzando os nossos caminhos de acordo também com esses anos que vão passando.
CLAUDIA: A jornada de Inês tem sido intensa…
KARIZE: Eu brinco que ela é uma caixinha de surpresas a cada temporada. Sempre pergunto: “Qual é a Inês que vem aí?” Agora estou loira! [risos], tipo uma Avril Lavigne. E me exige muito por causa das cenas de drogas, sendo bandida… a Inês chora muito! Às vezes, eu fico drenada de tanto que eu chorei o dia inteiro. Ela chora, ela cheira e aí, do nada, ela beija, se casa, chora de novo. Esse misto de emoções, às vezes, no mesmo dia. O que acho incrível.
CLAUDIA: E o curioso é que a Arlete e a Inês têm uma ligação com Evandro, mas de caminhos opostos. A Inês que perdeu a mãe assassinada pelos homens dele, por querer vingança. E Arlete, uma mãe que perde os filhos para o tráfico. Há uma angústia e desesperança, um lado meio realista. Em Impuros, um caminho trágico. Como é que é isso para vocês?
CYRIA: É, eu também não vejo esperança e não vejo vitórias. São caminhos sem volta, são personagens com curvas trágicas e que vão obsessivamente em busca da sua destruição, pagando qualquer preço, porque estão dentro de um contexto que já chegaram num lugar que de fato não tem volta, não tem esperança. A gente só pode esperar o pior pra cada um desses personagens. Pra Arlete, o maior bem da vida dela são os filhos e ela viveu a vida para cria-los. Até caberia um spin-off da vida da Arlete para ver como ela os criou até os 18 anos. É uma mulher de caráter, guerreira, com muito amor no coração por esses filhos
.CLAUDIA: Por isso seu gesto radical é ainda mais surpreendente, não é?
CYRIA: Sim, um gesto de desespero, exatamente. De uma pessoa que já perdeu uma guerra, mas não consegue desistir. E vai ter que arcar com as consequências desse amor trágico dela.
KARIZE: Já a Inês acredita que tem esperança, que vai resolver os seus problemas. Por ela ser muito viciada em adrenalina, ser inconsequente, sabe que o papai e o amor dela vão resolver a vida dela se ela fizer alguma coisa muito errada. Quantas vezes ela não se meteu em coisas bizarras e o Morello e o Afonso tiveram que tirar a Inês da situação? Por isso ela acredita, sim, que tem esperança.
CLAUDIA: Como tem sido a resposta e como preparam o público para essa temporada?
CYRIA: É incrível porque Impuros é um fenômeno. Aonde quer que eu esteja me chamam de Arlete, a mãe de Evandro. As pessoas odeiam a Arlete, mas amam a série. [risos] Uma vez esqueci o meu celular no Uber, na praia, lá em Salvador, e só quando eu cheguei na praia percebi. O motorista que devolveu ficou orgulhosíssimo e riu: “meu Deus, tô com o celular da Arlete!” [risos].
KARIZE: Impuros não tem telespectadores, tem fãs. Só tinha visto isso uma vez na minha vida, que foi quando eu fiz Rebelde, com uma geração de adolescentes. A nossa base de fãs também é o que faz a gente chegar até aqui, porque são eles que maratonam 50 vezes a mesma temporada. [risos] Então, a gente agradece, porque é um público lindo, incrível, e é muito maneiro sentir o carinho deles.