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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

A emoção de Mayara Magri dançar O Lago dos Cisnes em “casa”

A brasileira, primeira bailarina do Royal Ballet em Londres, conversa com CLAUDIA sobre o sonho de finalmente se apresentar no Theatro Municipal do Rio

Por Ana Claudia Paixão
18 Maio 2025, 05h30
Em entrevista à CLAUDIA, Mayara compartilha a sensação de dançar um clássico em "casa".
Em entrevista à CLAUDIA, Mayara compartilha a sensação de dançar um clássico em "casa".  (Carol Lancelotti/Reprodução)
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A carioca Mayara Magri poderia ter seguido muitos caminhos, mas escolheu — ou foi escolhida por — o da dança. Sua técnica refinada e presença cênica logo chamaram atenção além das fronteiras brasileiras. Em 2011, aos 17 anos, depois de vencer o Prix de Lausanne, ela foi aceita na Royal Ballet School de Londres e, pouco tempo depois, ingressou no prestigioso Royal Ballet, onde hoje ocupa o posto de Primeira Bailarina, o mais alto da companhia.

Reconhecida por sua força, musicalidade e elegância em cena, Mayara construiu uma carreira admirada internacionalmente, interpretando papéis clássicos como Kitri (Dom Quixote), Julieta (Romeu e Julieta) e Aurora (A Bela Adormecida), sempre com um frescor e intensidade particulares. Sua interpretação de Odette/Odile, em O Lago dos Cisnes, é uma das mais aguardadas justamente por essa combinação rara de virtuosismo e expressividade.

Agora, ela retorna à sua cidade natal para dançar o mais icônico dos balés, pela primeira vez no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A estreia carioca de O Lago dos Cisnes tem sabor de rito de passagem: um reencontro com as origens, mas também uma consagração diante do público que a viu começar.

Para os jovens estudantes de dança e fãs da arte, ver Mayara Magri no palco será mais do que uma apresentação: será testemunhar o retorno de uma artista que levou consigo a disciplina brasileira e devolve agora, em forma de arte, tudo que aprendeu pelo mundo. 

Em meio à agenda apertada, Mayara conseguiu encaixar um papo exclusivo com CLAUDIA, enquanto se ajustava ao fuso horário e corria para o ensaio.

Em tempo, a temporada estreou no dia 14 de maio no Rio, vai até o dia 24, com Ballet e Orquestra Sinfônica do Theatro sob regência de Javier Logioia Orbe e direção geral de Hélio Bejani. Além de Mayara Magri, Victor Caixeta, Paulo Vitor Rodrigues, Juliana Valadão, Cícero Gomes, Manuela Roçado, Marcella Borges e Rodrigo Hermesmeyer dançam os papéis principais.

Como os ingressos estão esgotados, nos dias 16 e 17 de maio, terá um telão instalado no Boulevard da Avenida Treze de Maio, com 150 senhas por dia, para transmissão gratuita.

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Espetáculo Cisne Negro (Black Swan)
Espetáculo Cisne Negro (Black Swan) (Andre Uspenski/Reprodução)

CLAUDIA: É a sua estreia no Teatro Municipal. E o que representa pra você esse momento, em especial, no Lago dos Cisnes?

MAYARA: Eu era muito pequenininha quando fui no Teatro Municipal pela primeira vez, mas acabei nunca dançando nele porque a maioria dos estudantes que dançam no palco do Teatro Municipal são os da Maria Olenewa, a escola do teatro e eu era aluna da Petit Danse.

Então eu fiquei sempre com esse negócio na cabeça: “Um dia eu vou querer dançar aqui”. Mas o meu caminho foi para um outro lado. Participando de concursos internacionais, eu consegui uma bolsa de estudo para a escola do balé do Royal Ballet e comecei a dançar nos palcos do mundo, muito antes de conseguir dançar no palco de casa.

CLAUDIA: Você fez o caminho inverso. O inverso, depois de 13 anos trabalhando.

MAYARA: Sim, como bailarina profissional na companhia do Royal Ballet. Consegui permissão do meu diretor [Kevin O’Hare, no Royal] para aceitar o convite do diretor Helio Bejani, com o patrocínio da Petrobras, pra conseguir fazer que isso aconteça [a estreia]. Só depois desse tempo todo que consegui e é realmente uma emoção muito grande. É uma realização de um sonho.

CLAUDIA: Como ajustar em pouco tempo dançar num palco diferente e ainda se ajustar a uma outra coreografia?

MAYARA: Sim, é a mesma música, mas a coreografia é diferente. Às vezes é melhor você fazer um balé completamente diferente do que um balé parecido. Porque eu fico muito confusa ainda com a versão daqui. Então por isso que eu cheguei dez dias mais cedo pra poder conseguir me adaptar, me familiarizar com tudo. E vamos ver. Hoje é o meu segundo dia de ensaio. Tenho até terça-feira pra conseguir entrar no eixo! [risos]

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CLAUDIA: Você lembra qual foi o primeiro balé do Teatro Municipal que você viu? Quem que você viu no palco?

MAYARA: Don Quixote com Marcelo Gomes e Dorothée Gilbert. Agora somos amigos e é muito engraçado. Lá fora participamos de muitas Galas então os principais bailarinos convidados sempre se encontram. Quando a encontro falo pra ela: “Cara, lembro a primeira vez que eu te vi dançar no Teatro Municipal” e eu estava fazendo um double shot com o Marcelo. [risos]

CLAUDIA: Assim, o mundo dá muitas voltas, né?

MAYARA: É muito pequenininho.

CLAUDIA: Odete/Odile é um dos papéis duplos mais icônicos da dança. Quais são as suas referências e como é a leitura que você traz para essa dualidade desse papel?

MAYARA: Então, cada vez que eu danço esse balé, recebo coaching de uma pessoa diferente. Claro que é um balé que você cresce assistindo, que você tem aquela ideia do que tem que ser desde pequena. Porque você vê as russas fazendo, você vê um monte de gente fazendo e você acha que tem que ser de um jeito. Mas quando você tenta fazer com o seu corpo próprio, aí que você começa a descobrir qual que vai ser a sua versão.

Porque assim, você tem que tirar da cabeça um pouco dessa imagem que você “tem que ter que ser”, e tentar deixar sair naturalmente, né? Claro que eu estou entendendo a coreografia e as dificuldades dela, ao mesmo tempo tentar deixar o seu corpo encontrar as linhas, saber expressar o movimento que a música está pedindo. 

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Conhecendo agora um pouco mais da minha própria personalidade, Odile – o cisne negro – é muito mais fácil pra mim, mas Odette – o cisne branco – é mais complexo. É preciso ser mais suave porque você não pode mostrar que é difícil, mas, na verdade, os atos brancos são bem mais difíceis. 

Odette em O Lago dos Cisnes.
Odette em O Lago dos Cisnes. (Andre Uspenski/Reprodução)

CLAUDIA: E O Lago dos Cisnes é um favorito?

MAYARA: Sim. Eu curto muito, e acho que a música já ajuda a metade do caminho. Se você realmente entender a música, os nuances da música, conseguir tentar expressar um movimento que é uma coreografia de muito tempo, já foi feita por tantas bailarinas, é perfeito. Já vi tudo que é versão, mas tento me distrair um pouco dessa imagem que eu tenho e tentar focar na minha versão, na minha interpretação do balé.

CLAUDIA: E você tem alguma Odete ou Odile preferida?

MAYARA: A Natalia Makarova é o meu cisne branco favorito. Eu assisto ela o tempo inteiro.

CLAUDIA: É incrível. Sim, a versão dela com Anthony Dowell pra mim é insuperável.

MAYARA: O corpo dela é tão expressivo e não são só os braços. É como você sobe na ponta. A energia que você dá ao pescoço, tipo os movimentos de cabeça, são tantos detalhes! É o tipo de balé que você precisa de muito tempo ensaiando, porque a cada ensaio você consegue adicionar uma camada de detalhe. Não vai sair no primeiro dia. Vai sair depois de muitos dias, uma vez que a técnica estiver forte, você vai conseguir mexer no braço.

Uma vez que o braço estiver suave, você vai conseguir mexer no pescoço, mexer no olhar. Por isso é um balé tão desafiador em todos os sentidos. Mas, se conseguir fazer num teatro maravilhoso, com orquestra, com uma companhia te ajudando a contar a história, é muito incrível. Depois de 13 anos esperando pra vir pra cá, não poderia ter sido algo menos do que O Lago dos Cisnes pra ser tão especial.

CLAUDIA: O que você espera ao dançar diante do público brasileiro?

MAYARA: Certeza, será bem mais barulhento do que lá fora onde as pessoas só batem a palma. [risos]   

CLAUDIA: Como é sua rotina no Royal Ballet?

MAYARA: É muito puxado porque são tantas, tantas, tantas apresentações. Começo 10h30 da manhã com a aula, e a gente vai até 6h30 da noite, às vezes, trabalhando em duas, três produções diferentes, e dançando à noite, e ainda tentando fazer, projetos como esse, de viajar, dançar com outras companhias.

Mas o interessante é que o pessoal realmente gosta e valoriza o ballet lá fora. Estou feliz de que com a patrocínio da Petrobras seja possível trazer os bailarinos brasileiros para se apresentar aqui. Estarei dançando com o Victor Caixeta, que dançou no Mairinsky na Rússia por três anos e nunca tinha dançado também no Brasil.

CLAUDIA: Vocês já tinham dançado juntos, não? No exterior?

MAYARA: Sim, já tinha lançado com ele na Alemanha e outros países.

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CLAUDIA: Isso ajuda nos ensaios que foram curtos, né?

MAYARA: Sim, sim, sim. É menos uma coisa pra se preocupar. Seriam cinco dias pra trabalhar com uma pessoa que eu nunca dancei. Mas deu tudo certo no final e ele é um amor de pessoa. Ele é bem mais jovem do que eu, mas também é, como falei, um bailarino principal que trabalhou na Rússia – que saiu por causa da guerra – depois foi para Amsterdam e agora está indo pra Viena, trabalhar com a Alessandra Ferri

CLAUDIA: Tenho acompanhando essas mudanças. Como é pra você, sendo brasileira e com uma carreira de grande destaque, como é que você vê essa “responsabilidade” e ser a inspiração pra outros bailarinos?

MAYARA: É uma pressãozinha, sabe? Mas é uma pressãozinha só de estar lá no Royal Ballet. É um teatro que tem muita tradição. Quando você estuda a história da dança, você estuda Nureyev, Fonteyn, pessoas que dançaram naquele palco por isso é um peso muito grande pra cada apresentação lá.

Divido a sala de aula com a Marianela [Nuñez], a minha professora é a Darcey Bussell. A Alessandra Ferri trabalhou comigo em Romeu e Julieta e ela trabalhou diretamente com o Kenneth MacMillan, o coreógrafo que criou o ballet. Ela me passa a informação e tudo que ela aprendeu com ele. Não tem como a gente esquecer que é tudo muito grandioso, mas se eu focar fico paralisada. [risos]

CLAUDIA: E como é que é dançar quando a Família Real está plateia? [Rei Charles III e a Rainha Camilla viram Mayara em Romeu e Julieta]

MAYARA: [risos] Pra falar a verdade pra mim, não significa muita coisa, mas o pessoal parece achar que tem que fazer uma apresentação dez vezes melhor. Pra mim é uma pessoa normal, mas depois eles vêm nos ver, apertam a nossa mão, elogiam a performance, perguntam de onde a gente é. Quando falei para o Rei que sou brasileira e que consigo conquistar todos os meus sonhos na companhia [o Royal Ballet], porque é a melhor companhia do mundo, ele ficou todo orgulhoso. 

CLAUDIA: São histórias incríveis, né?

MAYARA: E é importante manter a disciplina e não deixar nada subir à cabeça, manter a disciplina com o trabalho, praticar, ensaiar todo dia. Não é fácil trabalhar com o corpo, porque sente uma dor aqui, tem uma lesão ali, mas a gente tem que tentar se adaptar, escutar o corpo pra trabalhar de uma maneira consciente. Ser uma bailarina é um estilo de vida, você não pode fazer tudo que você quer na sua vida porque tem que estar bem pra manter essa constância de apresentação, de ensaio, tem que estar com a cabeça descansada, tem que tomar suas vitaminas, não pode beber muito.

CLAUDIA: Não pode dormir muito tarde, tipo assim.

MAYARA: Tem que ter disciplina melhor. É o estilo de vida, não tem jeito. Mas eu amo, eu amo muito e também o meu namorado, que é inglês e primeiro bailarino do Royal [Matthew Ball], me ajuda muito. Ele realmente entende, me dá o suporte necessário e quando entro nessas fases de muita apresentação, a gente consegue criar uma rotina dentro de casa, com alimentação, com atividades, com descanso, que funciona muito pros dois.

Então, acho que a gente se ajuda muito. Acho que se eu tivesse um namorado, de “vida normal”, ele ia ficar muito chateado comigo, porque as escolhas que a gente faz de não poder ficar até tarde, de não viajar numa época de espetáculo, de não comer certas coisas, não ia funcionar. Funciona pra mim porque eu transformei isso no meu estilo de vida, essa vida de bailarina no meu estilo de vida. Maravilhoso, eu ia perguntar exatamente dele, eu tava meio na dúvida se eu ia poder perguntar, mas você colocou.

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CLAUDIA: Ia perguntar se ele não te acompanharia nessa estreia.

MAYARA: Ele queria muito e eu também, mas nosso diretor falou, “Mayara, não dá, já estou te liberando por quase 20 dias” e ele tem uma apresentação que vai passar no cinema então não pode vir. Além disso, o suporte da Petrobras é para brasileiros que estão fazendo carreira internacional. Mas um dia vai acontecer. De alguma forma, se Deus quiser, vai acontecer.

CLAUDIA: E como é a história que foi em um café da manhã no programa da Ana Maria Braga tem a ver com realizar esse sonho também?

MAYARA: Estive no programa dela, ela quis saber um pouco da minha história, onde comecei, o que fiz, o que está acontecendo em Londres. No programa alguns bailarinos deram depoimentos, como o Thiago Soares e o Hélio Bejani, que é o Diretor do Ballet do Teatro Municipal. Falei do meu sonho de dançar aqui, ele respondeu que seria um prazer e então lancei “agora que ele falou em rede nacional…” [risos] “vai ter que cumprir”. E ele cumpriu. Um ano depois estamos aqui. E vai ser muito legal. 

CLAUDIA: Será uma estreia muito especial!

MAYARA: Também terei o prazer de ter alunos da escola de dança Petit Danse vendo o ensaio geral. Venho de um projeto social onde comecei a dançar e teremos meus ex-professores, funcionários, a diretora da escola, minha família e alunos. Vai ser um ensaio muito especial por causa disso, sabe? 

CLAUDIA: E depois da passagem pelo Brasil, o que mais vem por aí?

MAYARA: Apresentações pela Europa e pela Ásia. Estou indo trabalhar com a companhia de Hong Kong, na China e também no Japão durante o mês de julho, começo de agosto.  Também estou fazendo duas coreografias para a competição internacional do Royal Academy of Danse, chamada Fonteyn 2025 que é para crianças e jovens.

Me pediram para eu coreografar dois solos, porque pela primeira vez eles estão trazendo essa competição para São Paulo e queriam ter uma brasileira coreografando para os brasileiros. Isso tem sido um projeto bem especial e um novo link com o Brasil.  

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