Simplicidade, conforto e uma vista deslumbrante na casa da montanha
A partir de materiais tradicionais da região, foi erguida a casa de fazenda, localizada na serra da Mantiqueira, em Minas.
O relógio parece correr devagar nesta fazenda de café encravada em meio às montanhas da serra da Mantiqueira, no sul de Minas Gerais. Isso porque os momentos vividos no local são regidos pela natureza, como ocorria no século 19, quando as terras foram compradas pelo avô do arquiteto, que, mais de 100 anos depois, ergueu ali a morada de lazer da família.
Mal o dia começa e o aroma vindo do fogão a lenha denuncia: esta é uma casa mineira. “Há sempre alguma delícia sendo preparada na cozinha. Quando estamos na fazenda, passamos boa parte do tempo ao redor da mesa. E, ao sair para caminhar logo após o almoço, voltamos com alguma verdura fresquinha colhida na horta, já pensando no jantar”, conta, aos risos, o arquiteto Marcelo Ferraz. Além da comida, há outros prazeres a desfrutar no local – deitar na rede para ler um livro, contemplar a vista da serra da Mantiqueira, buscar frutas no pomar e se esquentar ao pé da lareira são alguns deles. Por tudo isso, entende-se por que a família resolveu construir um refúgio nas terras situadas em Dom Viçoso, no sul de Minas Gerais, compradas mais de um século atrás pelo avô materno de Marcelo, Custódio Ribeiro de Carvalho, produtor de gado e de café.
Espaços distintos para relaxar e conviver
Em conversas com a mãe e os irmãos – seu pai já faleceu –, o profissional captou o desejo coletivo por uma morada simples e confortável. A esse anseio respondeu com uma casa de traçado reto, dividida em dois volumes. Num deles, um quadrado de 8 x 8 m, dispôs a cozinha e uma ampla sala, integrada à varanda que se abre para o infinito da serra. O outro, um retângulo de 8 x 12 m, acolhe as três suítes, voltadas para um pátio reservado, delimitado por um muro de pedra. “Pensei nos diferentes momentos vividos na fazenda. Todos temos interesse em ora interagir com as demais pessoas, ora ficar mais introspectivos. Por isso um eixo é expansivo, enquanto o módulo vizinho convida ao sossego”, explica. Em ambos, se valeu de materiais e sistemas construtivos tradicionais da região, como a pintura à base de cal aplicada nas paredes, os pisos de ladrilho hidráulico e as fundações feitas com granito rolado retirado do próprio terreno.
Uma casa sem telhado
Um item causou surpresa aos trabalhadores que executaram a obra, contratados nos arredores: a ausência de telhado. “Esse é um elemento que exige manutenção constante. Como o que menos se quer numa morada de lazer é preocupação, preferi cobrir a casa com uma laje gramada. Sobre o concreto, foram adicionadas camadas de terra e vegetação, e a ideia é deixar o capinzal crescer livremente, mimetizando a construção no verde do entorno”, revela Marcelo. Além de evitar o trabalho de conservação, a cobertura natural suaviza a incidência de sol, garantindo frescor à área interna.
Prazeres simples
Finalizado pouco menos de um ano atrás, o projeto comprovou ter alcançado o propósito de servir unicamente ao lazer. Ao percorrer os 330 km entre São Paulo, onde mora, e Dom Viçoso, Marcelo sempre sabe o que vai encontrar: “Uma vez ali, nos dedicamos a comer bem e a descansar”, afirma. Dona Maria Aparecida, prestes a completar 90 anos, faz doces como ninguém, usando abóboras, laranjas e figos plantados lá mesmo, a poucos passos da casa desenhada pelo filho, e saboreados na companhia de um cafezinho cuja matéria-prima também nasce nas terras da família. “Ao cair da noite, olhamos para o céu coalhado de estrelas e percebemos que a vida ali é diferente, regida exclusivamente pela natureza. Inclusive o tempo passa mais devagar, num ritmo pautado pelo nascer e pelo pôr do sol, como na época do meu avô”, conclui o arquiteto Marcelo Ferraz.