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Sebastian Herkner: o queridinho do design alemão

Considerado um dos grandes talentos do design alemão atual, Sebastian Herkner fala sobre suas criações em entrevista concedida a editora de CASA CLAUDIA, Regina Galvão.

Por Por Regina Galvão
Atualizado em 25 Maio 2022, 19h03 - Publicado em 12 mar 2015, 13h12

Aos 34 anos, Sebastian Herkner é considerado um dos grandes talentos de seu país. Ganhou fama internacional ao lançar móveis, a partir de 2012, para marcas renomadas, como Moroso, Gervasoni e ClassiCon, durante a Semana de Design de Milão. Em fevereiro, chamou mais uma vez atenção ao apresentar uma irreverente linha de objetos coloridos para a Rosenthal, tradicional fábrica alemã de porcelanas, na feira Ambiente, em Frankfurt. O designer também mostrou a versatilidade de seu trabalho na exposição de cestos feitos em parceria com artesãs de uma comunidade africana.

Casa Claudia – Qual a história desta coleção de cestaria?

Sebastian Herkner – Fui convidado a viajar a Binga, uma pequena vila no norte do Zimbábue, para trabalhar com artesãs de cestos. Muitas delas sustentam suas famílias com esse artesanato. Matali Crasset, a designer francesa, e eu aceitamos o convite de uma organização internacional para participar do projeto “Basket Case”, que promove esse intercâmbio entre arte e design, e europeus e africanos.

CC – Como transcorreu o trabalho?

SH – Existem cinco grandes centros de cestaria no país e cada um tem seu estilo e sua técnica. Matali foi para uma área em que os cestos têm formas mais orgânicas. Eu fui para Binga, onde os cestos, feitos com fibras naturais, têm padrões bicolores: branco e preto. Potes de barro também são populares nessa região. Visitei um pequeno museu, em Tonga, a fim de conhecer mais sobre a cultura deles. Isso me levou a propor o uso de mais cores na cestaria para ampliar as opções de venda ao mercado europeu. Como não havia lojas na região que vendessem pigmentos, decidi, então, usar os tons presentes nos sacos de arroz e milho, que eram queimados ou jogados no lixo. Misturamos o material com as fibras naturais e criamos essa coleção, que também combinou potes de argila aos cestos. A comercialização dessas peças rende dinheiro às mulheres para mandar as crianças à escola, cuidar dos animais, comprar comida e passagens para se locomover. Elas precisam vender quatro cestos na feira local para adquirir uma passagem até a cidade mais próxima.

CC – Quando vocês começaram o projeto?

SH – Em maio do ano passado. São mais de mil mulheres trabalhando para o centro de artesanato, em Binga. Confeccionar cestos é uma herança secular e uma importante atividade para a cultura deles. Nas semanas que estive no Zimbábue, trabalhei com cerca de 20 mulheres, entre 17 e 70 anos, que vinham de uma área de 100 quilômetros de extensão para participar dos workshops.

CC – Algo mudou na sua vida depois dessa experiência?

SH – Sim. Veja a Feira de Milão com seus aperitivos, seus drinques servidos de graça e seus móveis caros… Uma experiência como a que tive na África faz você enxergar outros valores. A situação lá não está nada boa. Nos anos 1980, a região era conhecida pelo turismo, mas hoje os hotéis entraram em colapso. Não há mais turistas. Comecei a perceber que nós, europeus, reclamamos demais: do trem que não chega no horário, do excesso de trabalho….Convivi com mulheres que trabalham do raiar ao pôr do sol e nem por isso deixam de exibir um sorriso no rosto. Por esse motivo a coleção se chama Fare, que significa felicidade.

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CC – Você usa bastante o artesanato em suas produções…

SH – É verdade. Aprecio os materiais verdadeiros, que têm um valor específico, além de gostar de trabalhar em grupo. Na Moroso, a maior parte de minha produção envolve o artesanal.

CC – Vi que você lançou uma coleção colorida para a Rosenthal. Qual foi a inspiração?

SH – Este é o segundo ano que trabalho para a empresa e, desta vez, decidi ir para uma nova direção, apostando numa linha mais jovem e colorida. Foi um grande desafio e tivemos muitas discussões já que é uma marca de porcelana bastante tradicional na Alemanha. Achei, entretanto, que era hora de buscar novos mercados e eles concordaram. Investi nas cores e, durante o processo, descobri que você precisa trabalhar a queima em outra temperatura quando as adiciona à massa. A coleção é composta de relógios, penduradores de parede e vasos. Quando estou envolvido num projeto, não quero apenas ficar trocando e-mails com a fábrica, quero participar de todo o desenvolvimento do produto.

CC – Sua carreira se consolidou com bastante rapidez, não acha?

SH – Sim. Fundei meu estúdio em 2006, logo após terminar a faculdade. Minha primeira aparição como designer foi nesta feira, a Ambiente. Fui convidado três vezes para fazer parte dos jovens talentos do Salão Satellite, em Milão. Dessa maneira, consegui muita divulgação em revistas e contatos com empresas como a Moroso e a ClassiCon. Muita coisa mudou em dois, três anos, antes tinha de bater nas portas dos outros, agora, as empresas começaram a bater na minha. Tenho paixão por esse trabalho, mas não é fácil como pensam alguns. Preciso acordar muitas vezes às 5 da manhã para pegar o voo que me levará à Itália, onde acompanharei a execução de uma peça. Saio cedo e volto exausto no final do dia para casa.

CC – Você poderia antecipar alguns de seus lançamentos em Milão?

SH – Sim. Lançarei uma luminária para a Fontana Arte, móveis para La Cividina, Pulpo e Moroso, embora os de área externa dessa última marca tenham sido adiados para o outono, entre setembro e outubro.

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CC – O que você conhece do design brasileiro?

SH – Sergio Rodrigues e Oscar Niemeyer. Conheci também Jader Almeida na ClassiCon. E os Campanas, que são os designers brasileiros mais famosos de vocês, certo?

CC – Certo!

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