Nipa Doshi e Jonathan Levien: design que mistura Índia e Escócia
A influência de diferentes culturas e visões de mundo encontra um ponto de convergência nos trabalhos dos designers Nipa Doshi e Jonathan Levien, do estúdio Doshi Levien
*Matéria publicada em Casa Claudia Luxo #31 – Novembro e Dezembro de 2012
Parceiros de vida e de profissão, a indiana Nipa Doshi e o escocês Jonathan Levien se conheceram na Royal College of Art, em Londres. E em 2000 criaram o estúdio Doshi Levien, que assina projetos para marcas como Moroso, Cappelini, Intel e Camper. Dualidades complementares, como o artesanal e a tecnológico, o masculino e o feminino, o natural e o industrial, o racional e o sensual, resultam em móveis, objetos e utilitários carregados de forte expressividade, ricos em detalhes. O versátil trabalho da dupla se ancora na pluralidade de referências e ideias, na união de diferentes culturas, na celebração do híbrido. Leia abaixo a entrevista exclusiva concedida pelo designer Jonathan Levien a CASA CLAUDIA LUXO.
Que qualidades suas criações têm em comum?
Há um forte senso de espaço. Quando desenvolvemos uma peça, estamos atentos à atmosfera que ela cria. Pensamos na maneira como o móvel emoldura uma pessoa. Cor e materialidade são aspectos considerados desde o princípio de cada projeto. Também há leveza, qualidade gráfica, rica materialidade, combinação da produção industrial com a habilidade artesanal, pluralidade de ideias e muita alegria.
Qual é o ponto de partida para a elaboração de um móvel ou um objeto?
Cada projeto tem um ponto de partida único, então não há uma fórmula para encontrar a resposta. Para a cadeira Impossible Wood, a madeira líquida definiu a direção do projeto. Já em relação às cadeiras Paper Planes, criadas para a Moroso, desenhamos o tecido antes do móvel. E por essa razão tudo começou com uma linguagem gráfica, e não com uma ideia formal.
Como vocês começaram a fazer design?
Nipa iniciou seus estudos de design na Índia em uma escola fundada com as recomendações de Charles e Ray Eames e que também seguiu os dogmas da Bauhaus. O caminho racional adotado pela escola contrastava com a vida do lado de fora, onde era mais improvisada, sensual e colorida. Para Nipa, essa contradição semeou um tipo de pluralidade em sua abordagem em que a produção industrial tem sinergia com a narrativa, por exemplo. No meu caso, deixei a escola aos 16 anos para estudar marcenaria e desenvolver um conhecimento tácito de produção com madeira. Costumava finalizar o objeto, a maioria de madeira. Esse fazer é uma parte essencial da criação.
Como é o processo criativo?
Estabelecemos uma direção por meio do diálogo. É como traçar os passos da nossa jornada, mas sem conhecer o destino. Temos nossos instrumentos preferidos, dos quais exploramos as ideias. Nipa se volta muito para suas pinturas e desenhos, a fim de sentir uma ideia. Ela geralmente trabalha em duas dimensões. Meus esboços são mais esquemáticos. Um de nós poderá ter uma ideia, mas ela nunca está completa até que o outro se envolva. O computador é totalmente ignorado no começo. Entretanto, ele é parte essencial para que a ideia aconteça.
O que os inspira atualmente?
Desde 2007, quando lançamos nossa primeira coleção com a Moroso, encontramos na Patrizia Moroso uma grande apoiadora de nosso trabalho. Ela é uma pessoa muito inspiradora em seu firme compromisso com a criatividade.
Que designer ou arquiteto você admira?
Eu amo o trabalho do belga Maarten Van Severen (1956-2005), pela pureza do seu pensamento e comprometimento com sua filosofia. Admiro alguns projetos de Enzo Mari pela habilidade de transformar um produto em objeto. O italiano Achille Castiglioni (1918-2002) é meu herói, pois há muitas camadas em seu trabalho, como humor, inteligência, narrativa, simplicidade e clareza.
O que o bom design significa para vocês?
Não gosto muito da ideia de bom design, pois soa como linguagem de professor. Não olho as coisas e me pergunto se há nelas um bom design, pois isso significaria ter um critério fixo. Gosto de ser surpreendido, e isso significa ter uma mente aberta. Às vezes eu não gosto de uma ideia à primeira vista, mas aprendo a apreciá-la algum tempo depois.
Em países como Brasil e Índia, que impacto o design deve ter na vida das pessoas?
Acho mais importante considerar que, diferentemente da maior parte da Europa e da América do Norte, o Brasil e a Índia têm uma extrema pobreza e uma extrema riqueza e muitos matizes entre esses polos. Por isso, deve haver várias orientações de design. Em áreas mais rurais, a ênfase poderia ser encontrar soluções locais e tecnológicas com pouco impacto ambiental. Nas cidades, o foco poderia estar na educação em design baseada na sensibilização sobre as consequências do consumo ostensivo. Nessas economias em expansão, é importante ser corajoso e original e traçar novos sistemas de moradia, de produzir e usar as coisas.
*Matéria publicada em Casa Claudia Luxo #31 – Novembro e Dezembro de 2012