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Memorial em homenagem às vitimas da caça às bruxas na Noruega

O arquiteto Peter Zumthor e a artista plástica Louise Bourgeois criaram o The Steilneset Memorial para honrar as vítimas da Inquisição durante o século 17

Por Reportagem Luisa Cella I Fotos Jarle Wæhler
Atualizado em 26 Maio 2022, 15h53 - Publicado em 20 mar 2012, 18h29
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Com auge no século 17, a onda de perseguições a pessoas supostamente ligadas à feitiçaria causou cerca de 50 mil mortes por toda a Europa. Na Noruega, a maioria das execuções aconteceu em Vardo, uma das primeiras cidades a se formar no país. Incapazes de reunir provas concretas, os oficiais do Tribunal do Santo Ofício interrogavam e torturavam centenas de acusados e, como teste final, os atiravam ao mar. Se o corpo boiasse, era prova de culpa, e a pessoa seguia para a fogueira. Documentos resgatados apontam que nenhum corpo jamais afundara. Constam nos registros a condenação de 91 pessoas. Nesse mesmo local, foi inaugurado, em junho de 2011, o Steilneset Memorial, espaço dedicado à memória das vítimas projetado por Peter Zumthor.

Saiba como Peter Zumthor desenvolveu este projeto

 

Em 2006, o recluso arquiteto deixou a Suíça para viajar pela primeira vez à quase deserta Vardo, cidade localizada no extremo leste da Noruega. “Em minha primeira caminhada noturna pelo lugar, me emocionei com as casasescuras onde apenas as luzes das janelas indicavam a existência humana. Também me chamou a atenção as muitas redes e outros artigos de pesca e levei tempo contemplando o horizonte. Considerei a horizontalidade da paisagem extremamente importante. E, então, quando acordei pela manhã, eu já tinha a ideia”, contou Zumthor à revista Icon Eye. Zumthor sempre defendeu a arquitetura como algo experimental que se inicia das emoções, e aponta características do ofício de um escultor em seu trabalho. Talvez por isso, as carcaças de bacalhau espetadas fora das casas para secar inspiraram o desenho do memorial: um casulo têxtil preso por meio de cabos de aço à estruturade pinho, referência ao corpo estirado de um animal. Essa resistente estrutura de lona costurada a mão foi pensada de maneira a suportar as fortes tempestades que atingem a região. No interior, a escuridão e o teto cheio de nervuras, imitando o palato de uma boca, causam estranhamento por todo o trajeto de 120 m de comprimento e 1,50 m de largura. Pelas paredes, estão distribuídas 91 janelas iluminadas por lâmpadas penduradas, uma para cada suposto bruxo queimado na fogueira, e documentos expostos anunciam as mortes. Quando os ventos fortes sopram na costa, toda a estrutura balança. O visitante é o único a se manter estável, já que o chão do estreito corredor está preso a uma estrutura independente da membrana têxtil, mas as paredes e as luzes se movimentam de maneira inesperada e surpreendente. Como se apenas o memorial não fosse motivo suficiente para atrair olhares para a remota eesquecida Vardo – onde vivem pouco mais de 2 mil habitantes e apenas duas árvores sobreviventes dos invernos rigorosos –, foi construído, ao lado, o pavilhão que abriga uma das últimas criações da artista francesa radicada nos Estados Unidos Louise Bourgeois (1911- 2010), a obra The Damned, the Possessed and the Beloved (O Condenado, o Possuído e o Adorado). Ao passar pelos 17 painéis de vidro, sete grandes espelhos posicionados no alto da sala refletem chamas saídas de aberturas no assento de uma cadeira.

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As imagens formadas no espelho mostram uma distorção daquilo que realmente existe no espaço. Ali o visitante é convidado a repensar a relação entre o real e o inventado, e a reinterpretar os fatos que nos cercam. Uma sugestão direta de volta ao passado para buscar a memória dos crimes cometidos na fogueira há 400 anos, que atingiram as pessoas acusadas de feitiçaria. A saúde debilitada de Louise não permitiu que viajasse para conhecer o lugar. Como solução, ela trocou desenhos com o arquiteto via fax até chegarem à proposta ideal. “Eu tive a responsabilidade de construir a concha para a obra de Louise, fiquei muito honrado”, revela Zumthor. A reunião em um mesmo lugardas obras de duas personalidades tão intensas e inventivas faz parte do programa para atrair visitantes, promovido pelo governo norueguês, que prevê, para os próximos anos, a construção de outros projetos arquitetônicose obras de infraestrutura pelo país.

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