Lar de decoração brasileira aposta no aconchego dos tons terrosos
Donos de olhares talentosos, o fotógrafo Lucas Silvestre e o estilista Andre Betio aprofundaram suas raízes num lar em São Paulo cheio de preciosidades manuais
Para muitos, a casa é espelho das fases da vida. É num habitat de conforto que encontramos refúgio para viver nossas diferentes eras, sejam elas de folia ou introspecção. Antes mesmo de se mudarem para o novo lar, um apartamento com jeito de casa no centro de São Paulo, Lucas Silvestre e Andre Betio já sabiam bem que o lar seria reflexo de uma fase de aterramento.
Juntos há cinco anos, os dois já passaram pelo surpreendente número de cinco mudanças — sim, uma por ano. Isso porque são fascinados pela ideia de transformação. Essa vontade nasceu com Andre. Inquieto, o estilista está sempre caçando algo para ocupar a mente: às vezes é adubar as plantas, que cultiva com afinco; em outros momentos, procura alguma nova reforma para se aventurar.
De tanto observar a disposição do namorado, Lucas acabou se acostumando e até tomou gosto pela coisa. Aos pouquinhos, também foi construindo seu próprio olhar para a decoração, e hoje embarca nas loucuras do companheiro.
Lucas, que é fotógrafo e diretor criativo, saiu da casa dos pais para viver com Andre, e foi a partir de então que começou a abrir os olhos para as possibilidades de um lar com sua personalidade. O jeito observador traz equilíbrio para a agitação do namorado, mas quando o assunto é cozinha, ele logo se anima: é ali que encontra paz no dia a dia.
“Eu não tinha essa relação com a casa, então descobri um novo universo. Hoje, tenho criado o que é meu. Antes, ia na onda das coisas, mas agora tenho entendido o que gosto e não gosto”, conta o criador de conteúdo, que inclusive se empolgou numa viagem recente ao trazer enormes panelas de barro na mala.
As viagens, aliás, são um capítulo à parte na decoração da casa. Por todos os cantos é possível encontrar quadros, esculturas e móveis que representam a arte manual de diferentes regiões do Brasil: de Trancoso à Ilha do Ferro.
Neste lar, a vontade de ajustar a casa para o dia a dia é maior do que o medo de encarar o quebra-quebra, e assim surge a determinação para enfrentar uma nova obra: “Eu sou uma pessoa que gosta de mudar; adoro mexer na casa. O Lucas só fala: ‘Lá vem o Andre de novo’”, brinca com o companheiro. “Em toda casa em que moramos, mexemos em alguma coisa. Porque você precisa adequar, e eu sempre gostei que a casa funcionasse bem. Já tenho 37 anos, estou desde os meus 17 em São Paulo. Então não dá mais para ficar passando perrengue”, conta o estilista nascido em Votuporanga, no interior paulista.
“Eu não tinha essa relação com a casa, então descobri um novo universo. Tenho entendido o que gosto e não gosto”
Lucas Silvestre, fotógrafo e criador de conteúdo
Os dois se mudaram para o novo lar em junho deste ano. Localizado numa área extremamente movimentada da capital, a moradia chamou a atenção do casal pela possibilidade de viver num espaço tão aberto: são 104 metros quadrados de casa, sendo 65 de área interna e o restante é reservado para este lugar com muitas espécies de plantas e um chuveirão, que faz sucesso entre moradores e visitas nos dias de calor.
O processo de reestruturação levou oito meses, e a inspiração veio da idealização de uma casa brasileira de praia dos anos 1970 e 1980. Esse resgate do passado é muito característico do olhar de ambos para suas funções: Andre na confecção de vestidos, e Lucas na criação de cenários.
O primor com que levam seus trabalhos é visto também nos espaços do apartamento, já que o segredo de uma casa de tanta personalidade, aqui, não está em móveis assinados por designers famosos ou investimentos caríssimos. A beleza habita justamente na criatividade e bom gosto dos moradores.
“Eu detesto coisas óbvias, trabalho num mercado que já é muito clássico, e tento o tempo todo desconstruir isso. Então a gente vai inventando, não tem regra. Acho que o legal de uma casa é isso. As pessoas enfaixam muito e querem dar nome às coisas. Para nós, o vaso um dia é porta-maquiagem, no outro coloco uma planta, e no outro ele vai virar bebedouro de água dos cachorros. Cada hora é uma história, porque a casa tem que ser viva”, reflete o estilista.
Quando foram morar juntos, Andre, empolgadíssimo, levou Lucas para uma verdadeira imersão no universo de interiores, a fim de treinar seus olhares. “A primeira coisa que a gente tem que fazer é conhecer o que é bom. Eu o levava na Alameda Gabriel Monteiro da Silva [rua em São Paulo famosa pelas lojas de decoração] para ver sofás italianos. Ele ficava receoso de entrar, mas eu falava que a gente tinha que olhar o que tem nesses lugares que é legal, e o que também não era —nem tudo que é caro é lindo”, relembra.
“Não viemos dessa realidade, e não podemos comprar um sofá de 90 mil reais, mas podemos mandar fazer um de 5 mil.” E assim foi feito, não apenas o sofá, mas diversas banquetas, pufes, almofadas e outras peças da casa vêm da confecção de um tapeceiro de confiança do casal. “Tudo que você está vendo aqui foi caçado”, conta sobre os garimpos do lar.
DÉCOR BRASILEIRA
O lar de Lucas e Andre foi planejado desde antes da mudança — e não se refere apenas aos revestimentos ou mobiliário. “Nossas casas sempre têm temas. A primeira se chamava ‘fazenda brasileira’, era solar e colorida”, detalha Andre sobre os conceitos criados.
“A gente vai inventando, não tem regra. Cada hora é uma história, porque a casa tem que ser viva”
Andre Betio, estilista
“Depois, moramos num espaço com inspiração dos anos 1950, era uma casa muito viva e onde fazíamos cenários. Inclusive, Liniker, nossa cantora favorita, gravou um videoclipe nela. Nossas moradias sempre têm uma desconexão com São Paulo”, explica Lucas.
Para o lar atual, a inspiração veio dos tons terrosos, fazendo justamente referência ao momento do casal. Se nos finais de semana a ideia é viver a cidade intensamente, a casa foi concebida pela vontade de servir de concha, sendo contraponto.
“Aqui é nosso espaço de relaxamento, dormimos às 10h da noite durante a semana”, diz Lucas. “Estamos num momento de aterrar, na vida e na nossa relação. Queremos ter os pés no chão, sentir firmeza”, completa Andre, indicando também a escolha pelas cerâmicas na decoração da casa, que é o primeiro imóvel próprio do casal.
Contudo, a vontade de aterrar está mais conectada ao espírito, porque no espaço físico a história é bem diferente — pelo menos se depender de Andre. “Não quero viver aqui por muito tempo. Só de falar isso, ele já quer me matar”, brinca Andre, olhando para Lucas.
“Sabemos que este não é um apartamento para sempre. O que eu mais gosto é de ficar fuçando casas. Teve um ano que chamei um amigo, que também ama fazer isso, para ficar fazendo visitas aleatórias, sem nem querer me mudar, mas eu amo um desafio! Meu sonho, mesmo, é viver numa casinha de vila, pelo preço que a gente pode pagar, né?” Ao ouvir isso, Lucas solta um sorriso largo, pronto para embarcar em mais uma aventura com seu parceiro de vida.
CRÉDITOS DE PRODUÇÃO
TEXTO Marina Marques
FOTOS Wesley Diego Emes
EDIÇÃO DE ARTE Catarina Moura
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