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Bodallo Pinheiro: um grande mestre da faiança

A vasta obra de Rafael Bordallo Pinheiro influencia e inspira várias gerações de portugueses. Cada peça expressa a imagem cultural, histórica e social de seu país.

Por Reportagem Luciana Jardim
17 jun 2014, 12h39

 

Ao retratar de maneira crítica, corajosa e bem-humorada a política e a sociedade portuguesas do século 19, Rafael Bordallo Pinheiro (1846-1905) tornou-se um dos artistas mais influentes de seu país. Talentoso e versátil, ele trabalhava incansavelmente em diversas áreas: era jornalista, pintor, desenhista, ilustrador e ceramista. Entre seus feitos está a criação do personagem Zé Povinho, que entrou para a história de Portugal como caricatura de uma população resignada que nada fazia para alterar os problemas sociais de sua época. Mas foi na produção de utilitários, esculturas e objetos de faiança que Bordallo se consagrou como artista genial. Junto ao irmão Feliciano, fundou uma fábrica de cerâmica na cidade de Caldas da Rainha, em 1884, onde havia vasta tradição de olaria. A ideia dos donos era aproveitar o conhecimento técnico dos artesãos da região e elevar as peças ao status de obra de arte com os desenhos de Rafael Bordallo, que se cercou dos melhores modeladores e oleiros, além de apurar técnicas e materiais em busca da perfeição. “Em um primeiro momento, o artista aproveitou as tradições locais e adotou a fauna e a flora regionais como inspiração decorativa. Essa produção teve grande aceitação pública e é a mais conhecida imagem de marca da sua cerâmica até a atualidade, sendo constituída por pratos, jarras e potes ornamentados”, explica Elsa Rebelo, diretora artística da fábrica Bordallo Pinheiro. Com o tempo, a empresa recuperou temas antigos, como as sagas marítimas do país dos séculos 15 e 16, e também mirou personagens célebres e anônimos, valorizando a rica cultura portuguesa. “Ele batalhou por dar um cunho português a sua fábrica e criar uma forma ao que era genuinamente nacional”, diz. Os utilitários com formato de rãs, peixes e couves, por exemplo, levavam à mesa um pouco do frescor, do esplendor da natureza tão admirada por Bordallo. Cada relevo, cada cor, cada detalhe eram bem planejados e executados a fim de chegar à perfeição das peças. O reconhecimento internacional de seu trabalho deu a ele a oportunidade de participar da Exposição Universal de 1889, em Paris. Depois dessa exibição, em que alcançou grande sucesso, o artista produziu algumas obras que desafiavam os limites da olaria pelas dimensões arrojadas, pelo extraordinário trabalho técnico e pela delicadeza das decorações. Uma de suas criações grandiosas – e polêmicas – é a jarra Beethoven, que mede 2,60 m de altura e foi apresentada ao público em 1898, provocando incômodo e também contemplação pelas formas complexas. Eclético, seu estilo passeava por diversos caminhos. Flertava com o renascentismo, com o barroco, mas as cenas surreais e fantasiosas presentes em muitas peças impactavam o público, transcendendo o que se conhecia na época. “O espírito criador de Rafael Bordallo Pinheiro era espontâneo, captando de modo quase inconsciente o que o rodeava. Ele se expressava de forma muito peculiar através do seu humor corrosivo ou das cerâmicas, que transgrediam as ordens tradicionais, seja das matérias, seja das escalas, seja dos significados. Concebia peças de conteúdos alegóricos aplicando elementos decorativos improváveis, que transmitiam estranheza”, conta Elsa. Hoje, a empresa mantém os preceitos do mestre desenvolvendo réplicas de modelos originais de Bordallo e também de seu filho, Manuel Gustavo (1867-1920). A produção da dupla foi batizada de Arte Bordallo e é fruto da laboriosa recuperação de antigos moldes. A aplicação dos elementos de ornamentação das cerâmicas respeita também as técnicas centenárias, assim como as características das cores brilhantes e profundas. Somam-se a essa linha as peças de design atual, que seguem as características dos traços do mestre. O inestimável legado cultural de Rafael Bordallo Pinheiro ultrapassa as fronteiras de tempo e espaço, e reflete a força da criatividade dos portugueses no universo artístico. 

 

 

Bordallianos além-mar

Em 2011, durante a comemoração dos 125 anos da Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, a empresa convidou sete artistas portugueses para reinterpretar uma peça original do mestre ceramista. Joana Vasconcelos, Fernando Brízio, Henrique Cayatte, Susanne Themlitz, Bela Silva, Catarina Pestana e Elsa Rebelo foram os selecionados. Como uma continuidade dessa celebração, a marca estendeu o convite a 20 artistas brasileiros. O projeto Bordallianos do Brasil incluiu nomes como Tunga, Barrão, Vik Muniz, Regina Silveira e Erika Versutti, que mergulharam na história do ceramista português para criar 20 obras individuais de forte expressividade. A exposição passou por Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. As reproduções numeradas estão à venda na loja Firmacasa e nas galerias Fortes Vilaça e Luisa Strina, em São Paulo. Na capital fluminense, a galeria Inox e a loja Poeira comercializam as obras. Em Belo Horizonte, os produtos são encontrados na Galeria Murilo Castro.  

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