Estudei sozinho e passei num concurso público!
Eu estudava no ônibus, nas minhas folgas e nas madrugadas. Valeu a pena!

No trabalho, carregava a apostila escondido. Toda brecha que dava eu estudava.
Foto: arquivo pessoal
Eu trabalhava de segunda a sexta, aos finais de semana, feriados e dava plantão toda noite. ”Vai ficar rico, hein?!”, zombavam de mim. Ah! E ainda ganhava uma miséria. Pra piorar, a empresa onde eu era eletricista demitia gente todo ano pra reduzir custos. Isso me chateava ainda mais…
Mas não dava pra abandonar o barco. Eu estava noivo. Desempregado, não dá pra casar, né? Depois, vieram os filhos… Conclusão: me matava pra que não faltasse nada a eles. Em compensação, eu era um pai totalmente ausente. Já não ficava mais com a minha família.
Minha salvação: o concurso público
Certo dia, vi uma reportagem na televisão: ”Abertas as inscrições do concurso público da Polícia Federal”. Concurso público… Como não pensei nisso antes? Mas eu não tinha feito faculdade, só um curso técnico em eletrotécnica. Então, recorri à internet pra buscar mais informações. Descobri que também existem vagas concursadas que pedem apenas o ensino médio! Me inscrevi e fiz a prova, só pra saber como era. Quando o resultado saiu, meu Deus! ”Será que alguém conseguiu ir pior do que eu?”, me perguntei.
Não desisti
Na segunda tentativa fui melhor. Aí, decidi levar a sério. Busquei saber sobre todas as áreas, pra decidir qual tinha mais a ver comigo. Li vários editais, documentos que divulgam os concursos abertos, pra conhecer as vagas e o que teria que estudar pra cada uma. Escolhi a área da justiça. Porém, como a grana estava curta, precisei esperar.
”Juliano, quero que alguém dê um jeito na minha instalação elétrica”, me disse uma tia. Fiz o serviço para ela. Como forma de pagamento, ela comprou minhas primeiras apostilas e me inscreveu no concurso. E assim a jornada começou.
Estudei pra valer
Eu estava enferrujado e trabalhava demais. O único tempo que tinha era na ida e volta do trabalho, dentro do ônibus. Mas quem disse que eu conseguia? Não me concentrava, me dava um baita sono. Pra mim, era humanamente impossível conseguir ler aqueles textos!
Minha mulher, então, me deu um livro sobre foco e determinação: O Poder da Mente, do Lauro Trevisan. Me desenferrujei e passei a intercalar os estudos: lia um pouco do livro e, no embalo, pegava a apostila. Não deu outra. Quando vi, estava obcecado: estudava no ônibus, nas folgas, nas madrugadas…
No trabalho, carregava a apostila escondido. Toda brecha que dava… pimba! Dava uma estudadinha. ”Ah, Juliano! Deixe disso! Você vai se acabar e ainda não vai conseguir passar!”, me diziam. Eu não retrucava, mas pensava: ”Vou, sim!”. Conseguia estudar umas quatro horas por dia. Meu objetivo era passar no concurso público e sair daquele sufoco na empresa.
13 anos de carreira pública
Quando a gente estuda bastante, acha que na primeira oportunidade já vai conseguir. Mas não é bem assim. Eu prestei nove concursos, todos na mesma área. Só em 1996, dois anos depois, é que me classifiquei em 12o lugar pra vaga de técnico judiciário no Tribunal Regional do Trabalho de Pernambuco. Foi uma das maiores emoções da minha vida. Tomei posse no dia 31 de outubro de 1996 e estou lá até hoje.
Eu entrei com o salário de R$ 1 300. Treze anos depois, recebo bem mais, fora a estabilidade e a segurança. Trabalho com uma carga horária digna e tenho tempo pra desfrutar dessa felicidade com minha família.