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“A carreira acadêmica não é amigável com as mulheres”

Resultados de pesquisadoras durante a pandemia mostram que a área acadêmica é desigual, especialmente para as mães

Por Ana Carolina Coelho
24 set 2020, 16h00

“Você é uma guerreira!” Essa frase costuma ser dita em tom elogioso para as mães, consideradas super-heroínas contemporâneas.

A imagem da guerreira é profundamente enraizada quando o assunto é maternidade, em especial se a mulher também investe em sua carreira. Ela passa a ser vista como uma pessoa forte, que supera obstáculos. Mães acadêmicas sofrem uma pressão imensa para se manter produtivas.

Também é comum ouvir que ser mãe foi uma escolha. Ou que a mulher vai conseguir avançar e superar; afinal, ela é uma lutadora. Em outros termos, se ela escolheu a maternidade e insistiu em continuar no espaço público científico-acadêmico, já sabe que viverá uma guerra cheia de armadilhas. Vamos conversar sobre essas armadilhas.

Existe uma verdadeira disputa desigual nas batalhas da qualificação acadêmica. A expressiva queda na produção das mulheres nos anos iniciais da maternidade tem impacto direto em nossos currículos e, consequentemente, em nossas carreiras.

Conforme mostram os diversos coletivos e grupos pelo Brasil todo – com pesquisas, relatos, debates e cada vez mais dados quantitativos e qualitativos sobre os impactos da maternidade na capacitação e permanência das mães no ambiente acadêmico –, as mulheres até conseguem mais bolsas de pesquisa na graduação, mas avançam menos nos números de bolsas de pós-graduação e demais fomentos de apoio à pesquisa, expressivamente mais concedidos aos homens, a despeito de serem ou não pais.

Enquanto toda a carga de cuidados recair sobre os braços das mães e todas as formas de rede de apoio forem oriundas de recursos majoritariamente particulares, estaremos na mesma arena, mas com armas desiguais, ou seja, fadadas a morrermos entrincheiradas e exaustas.

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A luta das mulheres mães no ambiente acadêmico é uma história de existências, resistências e desistências. E as soluções devem ser uma resposta coletiva, institucional e empática nos primeiros anos de vida da criança com suas famílias.

É preciso que sejam criados editais específicos para mães; creches em tempo integral e noturnas; flexibilidade nas atribuições, na carga de trabalho e nos prazos em esferas administrativas; apoio financeiro para participação em eventos com previsão de inclusão da criança; espaços para amamentação; contagem do tempo de licença nos currículos Lattes e na pontuação proporcional na concorrência de bolsas e cargos; instalação de fraldário em TODOS os banheiros e espaços recreativos nos eventos acadêmico-científicos. Esses são apenas alguns dos inúmeros exemplos de políticas que podem ser implementadas pelas universidades e órgãos de fomento para que a luta comece a ganhar alguma equidade.

Guerreiras precisam de armas e recursos, ou seja, de condições materiais concretas. Aliás, dizer que somos guerreiras é também uma armadilha. Sob o manto da super-heroína se escondem falsas escolhas – feitas por quem, às vezes, desistiu, dada a absoluta sobrecarga física, emocional e psicológica – e muito sangue das que conseguiram prosseguir – o custo é o adoecimento e, sobretudo, muita culpa.

Em vez de cansadas, poderíamos estar investindo todas as energias em nossas carreiras, pesquisas e em maternidades leves, felizes e plenas. E, se já nos sobressaímos apesar das armadilhas, imaginem o que poderemos alcançar com os recursos e suportes adequados. Dias mulheres virão!

(Foto/Acervo pessoal)

Ana Carolina Coelho é mãe, feminista, escritora, poeta, plantadora de árvores, doutora em história política, professora associada da Universidade Federal de Goiás, coordenadora do Grupo de Trabalho de Gênero
da seção regional de Goiás da Associação Nacional de História

 

 

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