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Flavia Viana

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Bailarina e jornalista, ou jornalista e bailarina. Tanto faz. A coluna fala sobre métodos, histórias, entrevista pessoas, mostra tendências, espetáculos, entre outros assuntos relacionados, mas colocando em tudo isso o mais importante: seu grande amor pela dança

No Dia Mundial do Ballet, um papo com Claudia Mota

A primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro fala sobre carreira, casamento, sonhos e carnaval

Por Flavia Viana
Atualizado em 23 out 2019, 19h45 - Publicado em 23 out 2019, 16h52
 (Fernando Fernandes/Reprodução)
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Hoje é dia de tripla comemoração! A primeira porque celebramos o World Ballet Day. A segunda porque a partir dessa data vamos falar muito por aqui de uma arte inspiradora e apaixonante que é a dança. Sim, temos uma nova coluna no pedaço! E a terceira porque é o mês de aniversário de CLAUDIA, enfim, estamos realmente em festa!

Sobre a primeira comemoração vou explicar um pouquinho…

O WBD (Dia Mundial do Ballet) é uma celebração anual do ballet realizada desde o ano de 2014 no mês de outubro. É uma colaboração entre as principais companhias de balé do mundo – The Autralian Ballet, Bolshoi Ballet e The Royal Ballet, que transmitem vídeos ao vivo de seus bastidores nos respectivos fusos horários. Outras empresas e escolas realizam celebrações locais. O co-produtor principal é a Royal Opera House, Covent Garden, Londres. Na edição de 2019, que será realizada hoje (23), o World Ballet Day (WBD) contou com a participação da São Paulo Companhia de Dança, primeira participação de uma companhia de dança brasileira no evento. A transmissão via streaming foi veiculada no perfil oficial do World Ballet Day no Facebook, às 15h. Além do WBD, pelos palcos da coluna hoje passará em sua estreia Claudinha, carinhosamente como eu e muitos a chamam.

Ela praticamente nasceu no palco. Claudia Mota, primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro também é Carmen, Kitri, Odile, Giselle e tantas outras personagens de repertórios conhecidos mundialmente no ballet e que de tanto interpretar já fazem parte de sua vida. Nesse mesmo palco que dança desde tão nova, foi em um passado não muito distante cenário de desespero e decepções, mas também de realizações e esperanças. Os palcos também apresentaram a Claudia seu marido, o primeiro solista do Theatro, Edfranc Alves. Contando com Ed, em sua casa forma-se quase um corpo de baile com irmã e o irmão também bailarinos e sua mãe empresária da dança (ela dirige a Mota Designer e confecciona figurinos para todo o Brasil). O carnaval entrou no sangue e a avenida, e se tornou o seu segundo palco da primeira bailarina que hoje é uma das principais do país na ativa dançando papéis principais no Theatro e em outros países como convida especial. Claudinha só agradece, diz estar realizada e feliz. Além disso, começou a empreender na dança de outra forma ainda ainda de maneira tímida, mas acredita que orientação ao bailarino é primordial. “ Sou determinada a enfrentar o que vem pela frente, sou amiga, responsável e perfeccionista, meu nome é trabalho e meu sobrenome é dedicação, tanto que as vezes acho que vou pifar, não saio da sala enquanto não estiver satisfeita”, finaliza.

Edifranc Alves Claudia Motta
(Reprodução/Arquivo pessoal)

Um desejo da bailarina Claudia Mota que ainda não se realizou…
Dançar “Manon”, nossa, é um ballet incrível que eu amaria interpretar. No mais, sou muito agradecida a tudo o que me aconteceu e eu pude fazer, na verdade foi além das minhas expectativas, acho que por eu trabalhar sem pensar muito em coisas que não tem tanta importância ou obrigação meu trabalho flui, até porque em primeiro lugar pra mim é o amor por tudo que eu faço. E no dia que eu não sentir mais esse amor, nada mais fará sentido pra mim.

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Como foi passar por toda a crise exposta ao mundo todo no Theatro Municipal? Como isso influenciou a sua vida e de seus companheiros de trabalho?
Foi muito desgastante e triste! Dessa passagem eu tiro uma lição de amor por tudo que eu faço, amor pelos meus colegas de trabalho e, acima de tudo, amor pelo Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Nunca, em tempo algum estivemos tão unidos em um só pensamento. Conseguir dinheiro através de espetáculos e doações para que todos nós nos mantivéssemos e ao Theatro funcionando de alguma forma, foi a base de muito amor e união. Fizemos tudo que as pessoas pudessem imaginar. Dançamos em todos os lugares que aparecia, fizemos pedidos para toda a mídia que nos aparecia, e quem tinha condições ajudava quem precisava. Perdemos colegas, mas voltávamos a cena, porque era necessário! Íamos para as ruas, pedíamos e implorávamos ajuda, choramos muito, eu chorei muito. Sofremos muito, ninguém faz ideia, mas acordamos desse pesadelo, superamos! Artistas, técnicos e administrativo, atravessamos junto todo aquele horror que parecia não ter fim, a arte venceu! Continuamos na luta, estamos reorganizando tudo para voltarmos a uma programação normal, isso quer dizer as temporadas oficiais de ballet, coro e orquestra, e estamos conseguindo muito felizes e unidos.

Quando você escolheu o ballet, Claudinha?
Foi muito, muito cedo. Com quatro anos de idade eu pedi para a minha mãe me matricular na mesma academia de ballet que as minhas amiguinhas da escola dançavam, a Academia Valeria Moreyra. Tenho contato com a “Tia Valeria” até hoje, e sempre que encontramos um tempo estamos juntas. Ela que orientou a minha mãe a me matricular para a prova da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, Escola oficial do Theatro Municipal do RJ aos oito anos. Fui aprovada e ali, comecei a minha formação acadêmica para me tornar uma profissional no ballet e em todas as modalidades dele. Nessa idade eu já sabia que seria bailarina profissional, e se tornou o meu sonho.

Como entrou no Theatro Municipal do RJ?
Depois de uma temporada de intercâmbios pela Europa e de um trabalho como bailarina do Ballet de Camaguey em Cuba, me aperfeiçoei com alguns profissionais até ingressar no Ballet Dalal Achcar, onde me preparei durante um ano para a audição do Corpo de Baile do Theatro Municipal. Na época a direção do Ballet era de Jean Yves Lormeau, Etoile do Ballet da Ópera de Paris. Fui aprovada com nota máxima e lá estou até hoje, com muito orgulho. O Theatro é a minha casa também…

Os Ballets de repertório voltaram para o Theatro Municipal?
As apresentações de “Coppelia” terminaram há alguns dias. Acredito que, depois de dois anos nos apresentando com espetáculos que eram “arranjados” da maneira que podíamos e com o que tínhamos, voltamos às nossas temporadas de ballets oficiais do repertório clássico, o “carro chefe” da nossa Companhia. Estamos nos preparando e voltando com força total por qual lutamos, desejamos e acreditamos!

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Foto Carol Lancellotti – Coppelia- com Rodrigo Negri
(Carol Lancelotti/Reprodução)

 Qual o repertório preferido da Claudia após tantas personagens vividas?
São alguns, mas tenho um carinho especial por “Giselle”, como não amar esse Ballet? Junto com “O Lago dos Cisnes”, foi também o repertório que me lançou como Primeira Bailarina no Theatro, mas não sei explicar meu amor por Giselle. Eu sou apaixonada por cada gesto, cada sentimento, cada passo e cada nota musical. É inexplicável como eu amo, simples assim…

Você terminou a temporada com o Ballet “Coppelia” agora, como foi depois de tantas crises no Municipal?
Foi no mínimo, desafiador. Imagina que depois de dois anos sem apresentar um Ballet completo no Theatro, vir logo uma “Coppelia”. É um repertório extremamente difícil tecnicamente e de uma resistência muito grande. Graças as minhas apresentações como convidada fora do Theatro pude manter a minha forma e não ficar sem dançar ballets completos. Isso foi muito importante pra mim e me ajudou muito.

Saímos do Theatro e chegamos na avenida. É carnaval…
No carnaval comecei como assistente de coreógrafo no ano de 2005. Depois fui convidada pela Escola São Clemente para assumir a comissão de frente no grupo especial em 2012, e no mesmo ano fiz a coreografia da comissão de frente da Boi da Ilha, Escola do grupo de acesso que nos rendeu as quatro notas 10 e alguns prêmios. Dei uma pausa em 2013 e 2014 e retornei no ano seguinte já na Estácio de Sá, em 2016 na Império Serrano, 2017 e 2018 Imperatriz Leopoldinense e 2019 voltei a Império Serrano, onde também serei responsável pela comissão de frente em 2020. Não vou negar que é muito exaustivo, pois fico sem as minhas férias de fim de ano, mas quando entramos na avenida e vejo todo aquele público, energia e mais de milhões de expectadores assistindo ao meu trabalho logo à frente da Escola, todo o reconhecimento e a felicidade de ver mais um trabalho seu sendo realizado, não penso duas vezes em continuar.

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Quais os próximos passos da Claudinha, fora dos palcos e temporadas?
Nossa, eu penso em tanta coisa, queria fazer tanta coisa, ajudar tanta gente! Agora em paralelo estou me introduzindo na área empresarial. Meu objetivo é ajudar novos talentos brasileiros e lança-los no mundo da dança. Acho muito importante o “passar adiante”, porque do que adianta tanta experiência se em algum momento todos iremos parar de dançar? O que faremos com tanta experiência? Eu gosto de dividir, emprestar e doar, isso faz parte da minha personalidade. Para o ano de 2020 já tenho planos para os meus agenciados. É um trabalho de formiguinha, mas que no futuro tenho certeza que renderá frutos.

O palco…
O palco, principalmente o meu no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, é a minha segunda casa. Nele me sinto extremamente à vontade. A sensação que tenho quando estou ali é de que o mundo parou e eu continuo, mas dançando. É uma liberdade e uma paixão que me faz sentir viva. O cheiro do Theatro me faz lembrar de quando eu era pequena e sonhava em estar ali, e há anos estou como Primeira Bailarina, a sensação é exatamente igual, porque todos os dias é um sonho, não me canso, então continuo sonhando, todos os dias. Sou muito grata!

Foto Carol Lancellotti (3)
(Carol Lancelotti/Reprodução)


Como é a sua preparação?
Não tenho uma preparação especial, ritual ou algo assim, mas gosto de ficar um pouco sozinha, me arrumar cedo, fazer minha maquiagem e cabelo, fazer minha aula, andar pelo palco, deitar nele e me alongar. Depois gosto de pensar no Ballet que vou dançar, cada detalhe dele, enfim, minha forma de me concentrar é essa, desde sempre. Se um dia eu não fizer uma dessas coisas, tudo bem, se não der tempo, não tenho superstições. Eu penso que trabalhei, ensaiei duro e confio em mim. Claro que as vezes você não está nos melhores dias, mas eu não culpo nada nem a ninguém, assumo meus erros e gosto de corrigi-los. Amo desafios e enfrentá-los, não sou de desistir, afinal pra que tantos anos de estudo, de cena e de experiência? É para entrar no palco e fazer o espetáculo, desfrutar de tanto esforço. É assim que eu penso e tento colocar sempre em prática.

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Sua história com seu marido também começou nos palcos…
É uma história um pouco diferente das outras convencionais. Brincamos que não somos nada parecidos com os casais “tradicionais”. Somos muito felizes do nosso jeito e com nossas escolhas. Já éramos colegas de trabalho, já tínhamos contracenado, mas dançamos pouco juntos Ele era muito amigo da minha irmã e do meu cunhado, (são até hoje), mas eu e ele nunca tivemos uma relação de amizade muito profunda. Eu tinha o meu círculo de amizade e ele o dele. Até que, viajamos juntos para dançar e o cupido foi junto, mas só depois de algum tempo, começamos a nos relacionar. Descobrimos que somos muito parecidos e que temos muito em comum. Somos caseiros e adoramos ver filmes e vídeos de ballets juntos. Ficamos horas vendo nossos bailarinos preferidos (que são os mesmos) e nossas Cias preferidas (que são as mesmas). Além disso, amamos nossos animais e apreciamos uma boa xícara de café. (risos).

Sei que é muito reservada e não fala muito de sua vida pessoal, mas você pensa em ter filhos?
Já pensei, mas nunca planejei. Acho que não aconteceu ainda porque não era para ser, porém penso em adotar um dia, quem sabe? Mas estou amando desempenhar o papel de titia, meu afilhado (filho da minha irmã) é lindo!

Quais os planos da Claudia na dança?
Eu nunca planejei a minha carreira e não “planejo” até hoje, ela sempre aconteceu de forma natural e com muito trabalho. Acredito que bailarino tem que dançar e se manter ocupado com isso. Trabalhar dentro de sala, seja na de aula ou nos ensaios, porque só assim, com muito trabalho, se consegue êxitos e “sucesso”. Se o bailarino não está focado dentro de sala e no que tem que fazer, com certeza ele terá sérios problemas. Isso é uma certeza para mim, porque o palco é o maior “raio x” de um bailarino. Quem trabalha tem retorno, ao contrário disso são frustrações. Sempre fui tranquila com o meu futuro, porque sempre soube que o que era pra ser meu, seria, e se não fosse era sinal de que eu teria que trabalhar mais. Quem me conhece e já trabalhou comigo no Theatro ou fora dele sabe disso, sempre foi assim e sempre será até os meus últimos dias como bailarina atuante e em qualquer outra área que eu me aventurar. Trabalho e honestidade caminham juntos sempre.

E quem é a Claudinha?
Sou determinada a enfrentar o que vem pela frente, sou amiga, responsável e perfeccionista, meu nome é trabalho e meu sobrenome é dedicação, tanto que as vezes acho que vou pifar, não saio da sala enquanto não estiver satisfeita. Tenho que me sentir artisticamente de verdade no papel, fico buscando o sentido da personagem até me sentir nela. Sou chata mesmo, termino uma apresentação e logo vou atrás das correções, elogios são bons mas não me alimentam. Não me vejo fazendo outra coisa que não seja relacionado a dança, nasci para isso. Será assim até o fim dos meus dias.

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Leia também: Dança como forma de superação

 

 

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