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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Chorar: verbo que transita

Após ser questionada por chorar em frente suas filhas, a colunista Ana Carolina Coelho reflete sobre como expressar emoções em família compõe o "amaternar"

Por Ana Carolina Coelho
1 abr 2021, 18h00

Eu recebi muitos relatos e comentários sobre a minha última crônica. Talvez porque a solidão esteja nos afetando demais, talvez porque a tristeza esteja sendo a refeição mais servida em nosso cardápio nos dias atuais. Foram tantas as mensagens que eu me emocionei e, se deixei de responder a alguém, já faço um mea culpa público: eu li todas as mensagens e fui respondendo, na maioria das vezes, de madrugada, cansada e feliz por poder conversar com tantas pessoas.

Uma pessoa próxima me mandou a seguinte mensagem: “porque você chora na frente da sua filha? Isso vai deixá-la traumatizada!”. Eu confesso que, naquele segundo, eu deixei a tristeza e abracei a minha raiva interna. Não respondi. O silêncio, quem sabe, talvez tenha sido a resposta possível diante de uma indagação evidentemente inquisitória na escala da “mãe suficientemente boa”. Eu, certamente, para essa pessoa – que me conhece – cometi um delito digno de uma mãe má e cruel, simplesmente porque chorei JUNTO com a minha filha diante de um cenário de mortes diárias e sofrimento do isolamento social. 

Em qual manual da mãe perfeita está escrito que não podemos demonstrar nossas emoções? O que eu estou ensinando de errado para ela? Que as pessoas tem sentimentos? Que chorar faz parte do viver? Que não há problema em ser vulnerável perto de pessoas que vão nos acolher? Que ninguém é forte o tempo todo e as MÃES choram e, pasmem, são HUMANAS?

Eu hoje, por exemplo, acordei às cinco horas da manhã e dentre as várias outras coisas que fiz, posso citar que: corrigi trabalhos, fiz comidas, limpei cômodos, limpei bumbuns, arrumei algumas coisas, lavei louça, tentei ler um texto, terminei um outro na marra, participei de uma banca, respondi a dezenas de mensagens, participei parcialmente de uma reunião online na escola de uma das crianças, auxiliei no dever de casa de outra, molhei plantas e lembrei de comer, embora não me recorde do sabor de nada.

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E eu pergunto: meu dia foi relativamente tranquilo em comparação com tantos relatos de mães na pandemia, mas não foi um dia intenso e exaustivo? Dias assim, com mais tarefas que horas para viver, tem sido a minha rotina há mais de 365 dias, sem direito a tomar fôlego. É a maior maratona náutica vivida, com cada uma de nós em um oceano e embarcação diferentes, regados de lágrimas doloridas e pequenas alegrias tecidas na costura do sol, que insiste em aparecer a cada rotação terrestre. 

Em uma das tarefas, tínhamos que entrevistar a minha flor menor com algumas questões. Uma delas era: “O que você quer ser quando crescer?” e a resposta foi “Eu quero ser alta”. No auge dos 3 anos de idade essa é uma resposta justa e adequada para quem está vivendo com “gente grande” há tanto tempo. Minha mais velha, que sempre teve respostas para tudo, e até pouco tempo atrás afirmava que queria exercer as profissões de cantora/atriz/professora falou: “eu ainda não decidi”.

Ambas as respostas me fizeram sorrir de maneira amarga, pois são fruto da mesma árvore: o peso desse último ano e de todas as notícias mergulhando as crianças em um mundo diminuído, incerto e inseguro. Clara, já coloca dúvidas em suas certezas infantis. Aurora quer ser igual ao que ela vê no cotidiano limitado dessa quarentena sem data para findar. 

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Portanto, querida colega que “só queria ajudar”, eu às vezes choro na frente das crianças. E elas choram na minha frente. Chorar é verbo que transita em todos os corpos. E nos acalentamos e damos colo e entendemos, cada uma com uma compreensão de si e da vida, que aquele é um momento de dor que precisa de acolhimento e compreensão: é um “amaternar” recíproco em tempos de aridez de afetos coletivos.

Eu recebo os pequenos braços à minha volta e as envolvo em meu grande colo. As pessoas, crianças e adultas, têm sentimentos e vulnerabilidades. Ser humano é ser movido por emoções e atitudes. Minhas filhas estão aprendendo que casas se constroem para além de paredes e colunas, pois o amálgama primordial é o “amaternar” da vida: prantos, abraços, colos, beijos e sorrisos disponíveis 24 horas em nossa família. Dias mulheres virão!

Vamos conversar?

Se quiser entrar em contato comigo, Ana Carolina Coelho, mande um e-mail para ana.cronicasdemae@gmail.com ou direct no meu Instagram (@anacarolinacoelho79). Será uma honra te conhecer! Quer ler as outras Crônicas de Mãe ? Clique aqui e acompanhe as próximas!

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