PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana
Imagem Blog

Roberta D'Albuquerque

Por Maternidade Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Roberta D'Albuquerque é psicanalista e autora do livro Quem manda aqui sou eu - Verdades inconfessáveis sobre a maternidade

Doce de jaca

Memórias construídas não a cimento e tijolo, mas a jaca, açúcar, coco e jogos de talheres incompletos

Por Da Redação
16 jul 2018, 21h58
 (maroke/ThinkStock)
Continua após publicidade

Pai, mãe e duas filhas tinham o desejo de ter uma casa na praia. Moravam pertíssimo do mar, morariam quase na areia alguns anos depois dos dias da “faca de se jogar fora”, e ainda assim nutriam a fantasia da casinha avarandada, com uma rede para cada um, um terraço cheio de vento quente, uma padaria para comprar pão doce de goiabada ruim (mas bom), um carro com o porta-malas cheio às sextas-feiras, um domingo de volta para a cidade. Tinham os quatro o sonho de construir memórias de veraneio.

Nunca compraram a casa, chegaram a ter um terreno e um desenho na mão, mas venderam o lugar antes do primeiro tijolo. Vez por outra, separavam um janeiro para testar o litoral. Como se comprometer sem antes experimentar a geografia? Tamandaré, Carneiros, Serrambi.

Voltavam cheios de promessas e braços marcados de sol e muriçoca. Mas bastava março encostar em fevereiro e os planos das férias de julho se avizinharem para biquínis e projetos encontrarem espaço no fundo da gaveta.

Ontem, depois de um almoço no inverno paulistano gelado, tive a certeza de que mesmo sem a casa, vivemos uma infância de rede e vento quente. Veraneamos. Estávamos, meu companheiro e eu, em um restaurante nordestino, entregues a carne de sol, cuscuz e macaxeira molinha, queijo coalho e manteiga de garrafa.

Já certa de negar a sobremesa e partir para o café coado, na vontade de desabotoar a calça tamanha a devoção gastronômica, ouvi dele o pedido. Queria quebra-queixo e doce de jaca. Pelo menos uns vinte anos me separavam da última vez que comi jaca.

Continua após a publicidade

Já na primeira colherada do doce, lembrei-me de meu pai, que a cada uma das casas de temporada alugadas, emprestadas, visitadas, resmungava aos risos que a faca que descascara a jaca para o doce era agora de se jogar fora de tão grudenda.

Minha mãe levava os bagos da fruta para o fogo com água e açúcar e precisava de menos de meia hora para transformar os três ingredientes na melhor sobremesa do mundo. Lembrei-me de minha irmã me levando pelo braço enquanto perseguíamos o barulho do sininho do vendedor de quebra-queixo, patrimônio imaterial das tardes do litoral pernambucano.

Memórias construídas não a cimento e tijolo, mas a jaca, açúcar, coco e jogos de talheres incompletos. Viva Ana Maria, João e Poly: minhas férias, meus doces, o sol nordestino que carrego sempre comigo.

Continua após a publicidade

Veja também: Faltou? Jura?

Gente certa é gente aberta

Siga CLAUDIA no Instagram

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!

Receba mensalmente Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições
digitais e acervos nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.

a partir de 10,99/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.