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A leveza do verão

Mãe, jornalista, produtora cultural, dona de casa. Maria Dolores fala sobre o verão de uma maneira bem pé no chão, que provavelmente você vai se identificar

Por Maria Dolores
12 dez 2019, 17h43
 (bgton/ThinkStock)
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Eu deveria escrever sobre a leveza do verão. Mas eu só consigo pensar no ar condicionado que não posso instalar no meu apartamento. O prédio é antigo e a rede elétrica não comporta. Amanhã tem reunião de condomínio. Vou ser a primeira a chegar, embora nunca tenha participado. Quero saber quanto falta na caixinha para fazer a obra e trocar a fiação de 1974 por uma que aguente um ar central. Moro no décimo quinto andar. O apartamento é arejado e ventilado na maior parte do ano. Mas justo nos dias e noites mais quentes o vento desaparece e, quando vem, também é quente.

Em uma tarde de desespero, comprei pela internet cinco ventiladores. Escolhi o modelo turbo max com as pás de diâmetro mega. Quando as cinco caixas chegaram meu marido não quis receber a entrega, achou que eram cinco máquinas de lavar ou qualquer outro eletrodoméstico desse porte. O resultado é que eu tenho cinco trambolhos espalhados pela casa e o barulho de uma turbina de avião quando estão ligados ao mesmo tempo. Para não incomodar o vizinho de baixo, coloco cada um deles em cima de um tapete ou toalha para amortecer a vibração.

Sempre fui contra ar condicionado. Dá choque térmico, o ar fica cheio de poeira, ácaro e eu sinto frio. No verão passado resolvemos fazer uma viagem para a praia com a família. Eu, meu marido, nossos três filhos, sogra, sogro, mãe, irmã, cunhada, cunhado, sobrinhos, tia, tio e prima. Dona da iniciativa, fiquei responsável por alugar a casa. Apesar dos alertas de outros integrantes da comitiva, acabei alugando uma casa com ar condicionado em apenas um dos quartos. Era mais barata, pé na areia, tinha estilo rústico – o principal, no meu ponto de vista – e ventilador em todos os outros cômodos. “E nem é tão quente assim em Ubatuba”, eu defendi.

Foi um dos piores calores que passei. E dos piores calores que passou por Ubatuba, segundo tudo quanto é morador, dono quiosque e mercearia. Além da temperatura fora do normal, o sol entrava pela casa o dia inteiro. A água da piscina ficava de morna para quente e a churrasqueira, bom, era impossível acender o fogo, porque havia sido construída colada na parede da sala e da cozinha. Ninguém sobreviveria. Não havia lugar para ficar que não fosse insuportável. Eu tentei levantar o ânimo das pessoas e mostrar o lado bom, afinal éramos uma família unida e divertida, mas eles não estavam num clima de otimismo como o meu.

Fazia tanto calor que organizamos um sistema de revezamento do único quarto com ar condicionado, dando prioridade para as crianças, que começaram a vomitar e ter diarreia logo no primeiro dia, seguidas pelos adultos, um a um. Fui das poucas a não ficar doente e, prêmio maior: não ganhei inimizade de ninguém, embora duvide que qualquer um deles aceite novamente a viajar comigo como guia.

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Desde então comecei a rever minha resistência ao ar condicionado e, agora, com os ventiladores-trambolhos-turbinas no meu caminho e o calor que só faz aumentar, me rendi. Não sou mais a mesma. Mas o verão também não. Eu nem lembro de ter ventilador em casa quando era criança no interior de Minas. O máximo que a gente fazia era abrir as janelas de par em par e deixar o ar circular. Nos dias mais quentes, brincávamos com água na mangueira e, quando chovia, nadávamos na enxurrada na beira da calçada – para o meu pavor, quando penso nisso hoje em dia. Quando me mudei para São Paulo, há quinze anos – e até bem pouco tempo – também não tinha ventilador e muito menos esse tipo de preocupação.

Admito que estou com dificuldade em lidar com esse clima um nível acima de quentura. Talvez eu devesse fazer como um amigo meu: abstrair. Respirar fundo para ver se o calor passa ou se me acostumo, enquanto o condomínio parlamenta se troca ou não a fiação. Falando em abstrair, acho que abstrai um pouco demais. Era para ter escrito uma crônica sobre a leveza do verão.

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