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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Devemos mudar nossos julgamentos para avançar contra o assédio

Em O Escândalo três jornalistas denunciam assédio sexual no ambiente de trabalho, mas não antes de julgarem uma às outras duramente

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 11 jan 2020, 18h59 - Publicado em 10 jan 2020, 15h30

Eu tinha muita expectativa de como o filme O Escândalo iria tratar a história da queda de Roger Ailes, CEO da Fox News, que foi demitido após várias denúncias de assédio sexual, incluindo por parte das estrelas do canal, Megyn Kelly (Charlize Theron) e Gretchen Carlson (Nicole Kidman). A queda de Ailes marcou um importante freio do assédio (aceito) nas redações até então. O filme é didático, mas sua busca pelo equilíbrio o fez ser frio, quase parecendo com medo.

Para o público brasileiro, os nomes que desfilam na tela não têm o mesmo peso que tem no mercado americano. Megyn Kelly e Roger Ailes eram referências do jornalismo de TV Paga americana, com uma agressiva Fox News ganhando voz (e audiência) em um momento político em que eles se posicionaram como a plataforma dos conservadores. Ailes era o que já chamávamos na época de ‘jornalista da antiga’: com posições fortes, influência política e mão firme na condução do trabalho. John Lithgow é um super ator que traduziu muito bem a arrogância de um homem que não via nada de errado no que fazia. Porque a ‘cultura’ da época era essa.

O sentimento imediato é que a história – quase inacreditável – não conseguiu passar 100% sua importância justamente porque foi dirigida por um homem. No entanto, em uma entrevista à Mariane Morisawa, na CLAUDIA desse mês, Charlize Theron ressaltou que justamente ter um homem na direção do filme era essencial porque “a transformação de verdade só vai ocorrer de verdade se os homens forem incluídos nessa conversa”. Ela tem razão, mas  – como mulher que conviveu em redações quando assédio era tratado como ‘questão cultural masculina’ – fiquei um pouco frustrada.

A competitividade feminina sempre foi associada à algo negativo e isso ainda não mudou. A desconfiança que tratamos uma as outras vai mudar no DNA das próximas gerações, mas ainda machuca muitas mulheres hoje. Em O Escândalo, a personagem fictícia de Margot Kiddie costura os testemunhos de várias vítimas com o arco mais pertinente. Como jovem ambiciosa, ela recusa a tentativa de orientação que recebe da jornalista mais velha em decadência (Kidman). Essa, por sua vez, não se relaciona com a estrela do momento (Theron), que também não a leva em consideração. Até aí, é a questão do poder e tempo, não do assédio ou julgamento. As três são cientes do jogo e de alguma maneira o usam a seu favor. Apenas quando perde tudo que a personagem de Kidman decide chutar o balde, não antes. Silenciosamente, ela julga as colegas por aceitarem o que ela mesma aceitou no passado. É acusada de rancor como motivação. No entanto, quando a personagem de Kiddie se vê sendo assediada, ela pede ajuda, mas recebe negativa de uma amiga.  Kelly (Theron), espera até o momento em não estará sozinha para poder se posicionar. O filme bate na tecla da culpa do ‘por que não falou antes?’, mas a cena em que Kate McKinnon abandona Margot Kiddie à própria sorte, para mim, foi mais importante e infelizmente, não explorada. O silêncio não era apenas de quem passava pelo assédio, era o julgamento das outras mulheres de que ‘se topou o risco’, não tinha mais direito de falar. Nós temos ainda que mudar esse raciocínio. Por isso, mesmo raso, O Escândalo é interessante porque para mudar, o julgamento entre mulheres também precisa avançar.

 

Leia também: Charlize Theron e Margot Robbie discutem filme sobre assédio sexual 

+ Donna Rotunno: A advogada que está defendendo Harvey Weinstein no tribunal

Veja o trailer de O Escândalo

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