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Filler fatigue: os problemas do uso frequente de preenchedores

Excesso de procedimentos e uso inadequado podem piorar os sinais do envelhecimento, ao invés de amenizá-los

Por Da Redação
6 nov 2022, 08h38
filler fatigue
Preenchimento pode parar de ser a solução, e continuar usando torna a pele ainda mais enrugada.  (Hero Images/Getty Images)
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A indústria da beleza evoluiu muito nas últimas décadas e trouxe diversos arsenais para o campo de batalha na luta para manter a pele tratada contra os sinais de esgotamento. Os preenchedores, queridinhos do momento, entram nessa onda com a promessa de retardar o envelhecimento e são feitos aos montes no consultório. O que muita gente não imagina é que o uso frequente e inadequado pode ter o efeito contrário, se transformando em um vilão do rejuvenescimento. O efeito, aliás, ganhou até nome: filler fatigue.

“Há pouco tempo, os conceitos da cirurgia plástica eram baseados em retirar o que estava sobrando: pele demais na face, bolsas sob os olhos. Com o tempo, percebemos que apenas retirar não conferia resultados naturais. O rosto continuava cansado, olhar fundo, testa muito maior, ‘cara de plástica’. Com estudos de anatomia mais aprofundados e melhores exames de imagem, passamos a entender mais sobre o envelhecimento da face e começamos a tratar diversos planos do rosto. Conforme envelhecemos, a estrutura óssea da face muda, perdemos espessura em algumas áreas e temos menos sustentação dos tecidos ligados a essas estruturas, compartimentos de gordura diminuem, músculos e ligamentos têm sua função modificada, a pele perde colágeno e espessura. Então essas alterações devem ser tratadas em conjunto. Surgiram então os preenchedores”, explica a cirurgiã plástica Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

“O problema é o uso frequente, repetido e inadequado que profissionais de estética fazem do preenchedor, criando o que ficou conhecido como Filler Fatigue, ou fadiga do preenchedor, que acentua os sinais do envelhecimento”, alerta.

Hoje há uma imensidão de tipos de preenchedores, com consistência, durabilidade e, obviamente, preços diferentes. É um procedimento simples e rápido de ser feito: no próprio consultório aplica-se uma, duas ou várias seringas no rosto do paciente, que sai estufado e sem nenhuma ruga. “Mas o uso incorreto – e o problema está no diagnóstico e na indicação de como e quando usar – criou uma legião de pessoas com idade indefinida, sem identidade, muito diferentes do que eram, sem expressão, com rosto não muito humano, mas sem qualquer ruga. Nesse cenário surgem modas como harmonização facial, demonização facial e pillow face (cara de travesseiro)”, fala.

Segundo a cirurgiã plástica, os preenchedores, os bioestimuladores de colágeno, a toxina botulínica e as tecnologias são armas de um arsenal enorme que devem ser utilizadas para conferir um envelhecimento belo, tornando as pessoas mais felizes consigo mesmas. “Bons profissionais são capazes de utilizar todos esses recursos para tratar estruturas de forma independente e harmônica. E como o paciente não muda de rosto, apenas melhora e rejuvenesce, não vira notícia e ninguém nem mesmo percebe que algum procedimento foi feito. É necessário conversar com o paciente e ouvir o que ele realmente deseja, entender a anatomia desse desejo e traduzi-lo em técnicas e procedimentos adequados”, explica.

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Efeito rebote

O problema é que, quando o arsenal é pequeno, por exemplo, apenas com preenchimento e toxina botulínica, não só o resultado é comprometido, como também pode ser prejudicial. “Um rosto envelhecido pode ser comparado a um balão vazio: você enche o balão de ar para que fique todo esticado e brilhante. Mas ao esvaziar fica mais enrugado do que antes, sendo necessária então uma quantidade ainda maior de ar para manter o balão ‘desenrugado’. Este é o conceito que está sendo chamado de ‘filler fatigue’. O uso excessivo desses preenchedores, que tem um efeito temporário, distende mais e mais os tecidos, assim criando a necessidade de cada vez mais preenchedor e, logo, piorando os sinais de envelhecimento”, esclarece Beatriz.

Fazer ou não preenchimento?

Depois de ler isso, é provável que você esteja se perguntando: mas, afinal, preencher é bom ou não? “É ótimo! Conseguimos restaurar estruturas profundas como a parte óssea, repor compartimentos de gordura perdidos, melhorar a proporção das estruturas da face e até melhorar a qualidade da pele. O problema está no diagnóstico e se há necessidade de preencher. O paciente procura um consultório a partir do que ele vê no espelho. Por exemplo, o famoso bigode chinês, que é o sulco nasogeniano. A causa desse sulco mais profundo pode ser a diminuição do compartimento de gordura da maçã do rosto pela idade ou emagrecimento. Simplesmente preencher esse sulco pode dar a impressão de um rosto mais pesado, mas repor essa gordura de forma adequada estende os ligamentos e reposiciona todas as estruturas, produzindo realmente um efeito lifting. Ou então, se os compartimentos de gordura estiverem adequados, a causa pode ser flacidez dos ligamentos. Nesse caso, seria errado preencher qualquer coisa. O tratamento mais adequado pode ser através do uso de tecnologia, como o ultrassom microfocado, ou mesmo cirurgia de face”, pontua.

A especialista relata que já atendeu pacientes querendo operar as bolsas sob os olhos e melhorar as olheiras, mas que foram tratados com preenchedor na região das maçãs do rosto, sem necessidade de cirurgia. “Ou ainda pacientes que vieram para colocar preenchedor nas olheiras e indiquei a cirurgia das pálpebras, retirando as bolsas. Com frequência recebo pacientes lindas que há anos fazem preenchimentos e tratamentos estéticos com colegas dermatologistas, que, enxergando que não é mais possível tratar a flacidez, conscientemente indicam uma cirurgia de face. De forma inversa, muitos pacientes me procuram para realizar cirurgia de face e indico tratamentos estéticos, retardando em alguns anos os procedimentos mais invasivos. Ou ainda, durante a cirurgia de face, utilizo preenchedores de ácido hialurônico ou gordura como complemento”, explica a especialista.

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Segundo a médica, o envelhecimento é multifatorial. “Temos ferramentas cada vez melhores e mais eficazes para manter a aparência saudável, incluindo bioestimuladores de colágeno, preenchedores, tecnologias incríveis, toxina botulínica, que devem ser utilizadas com muito critério e conhecimento. Além disso, filtro solar e dermocosméticos devem ser usados com orientação médica e diariamente. E lembre-se: dieta adequada, não fumar, fazer exercícios físicos com regularidade, cultivar amigos, dormir bem e, obviamente, cuidar da pele são medidas de estilo de vida que por si mudam o envelhecimento. O melhor investimento que você pode fazer é de dentro para fora”, finaliza.

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