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‘A mulher que não enxerga ganha confiança quando sabe se maquiar’

Curso de automaquiagem ensina deficientes visuais a conhecer as próprias feições e a fazer uma make completa, com direito a delineador e cílios postiços

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 24 fev 2023, 12h58 - Publicado em 9 Maio 2017, 20h25

Superar desafios faz parte da vida de quem tem pouca ou nenhuma visão; a maioria de nós nem percebe, mas o mundo é quase todo feito para quem enxerga. E dentro do universo das mulheres cegas ou com baixa visão, há aquelas que não aceitam a ideia de limitações e querem tudo, inclusive se maquiar sozinhas.

Desde o ano passado, uma iniciativa da Laramara (Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual) em parceria com a rede de salões de beleza Jacques Janine atende o anseio dessas mulheres. São seis aulas com duas horas de duração comandadas pela maquiadora e consultora de imagem Chloé Gaya.

Nelas, alunas de todas as idades (a mais nova até hoje tinha 18, as mais velhas estão na casa dos 70) e com diferentes tipos de deficiência visual aprendem a conhecer as próprias feições, a escolher as melhores cores para sua pele e até a passar delineador e colocar cílios postiços.

maquiagem
(Celina Germer/Divulgação)

“Sempre aprendo muito com todas. Elas me ensinaram que não há impedimento físico quando você quer muito alguma coisa”, diz Chloé, que defende que “a maquiagem acaba revelando o melhor de uma mulher, mesmo que ela não veja o resultado final”.

A seguir, a maquiadora fala sobre a importância desse curso para a autoestima feminina, as técnicas utilizadas por ela e como fica o dia a dia das alunas quando acabam as aulas.

 

Diante de todas as necessidades de mulheres com deficiência visual, por que a maquiagem pode ser considerada importante?

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A mulher que não enxerga é muitas vezes esquecida quando o assunto é aparência, mas a maquiagem a muda por dentro. A mulher que não enxerga ganha confiança quando sabe se maquiar, se apresenta para o mundo de outra forma. Não é só se ver, é se sentir. Pode parecer pequeno para algumas pessoas, mas é uma questão de autoestima. Todas temos o mesmo direito à autoestima.

Como são a compreensão e a assimilação do próprio rosto por mulheres que não enxergam ou enxergam muito pouco?

São bem diferentes, de acordo com o caso. As que têm baixa visão conseguem se enxergar em espelhos de aumento bem iluminados, são as que efetivamente se veem. Aquelas que perderam a visão ao longo da vida recorrem muito à memória da época em que enxergavam e se maquiavam, então elas entendem suas fisionomias. Já as que nasceram sem visão são as que normalmente precisam aprender a conhecer o rosto.

maquiagem deficiente visual
(Celina Germer/Divulgação)

De que maneira você consegue fazer as mulheres que nunca enxergaram conhecerem as próprias feições?

Pelo tato. Tocando o rosto enquanto ouvem as explicações, elas conseguem identificar o que é o côncavo dos olhos ou onde ficam as olheiras, por exemplo. Também temos seis maquiadoras que vão orientando as alunas. Todas recebem atenção especial, independentemente da deficiência visual.

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As que têm baixa visão ou já enxergaram também fazem o reconhecimento pelo tato?

Fazem, a didática é a mesma para todas. Mesmo quem já enxergou ou enxerga pouco sempre tem mais a explorar no próprio rosto. Todas temos, na verdade.

 

As cores são fundamentais na maquiagem. É possível uma mulher que nunca enxergou absolutamente nada entendê-las?

É possível, sim. Procuro basear as explicações de o que são as cores nas sensações gerais das pessoas. Então as cores frias, como o azul, eu ligo ao gelo, ao frio, enquanto as quentes eu relaciono ao verão, ao calor, ao fogo. Todas conseguem compreender, porque as sensações são universais. Também damos consultoria para que cada uma saiba quais tons ficam melhores em suas peles.

maquiagem deficiente visual
(Celina Germer/Divulgação)

 

E a identificação das cores nos produtos propriamente ditos, como é feita? Como a mulher que não enxerga ou enxerga muito pouco saberá se está pegando um batom rosa ou um vermelho, uma sombra marrom ou verde, por exemplo?

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Isso também varia. Para algumas, a melhor identificação é por meio de etiquetas em braile. Para outras, o ideal é bolar um esquema que associe a cor a uma textura de uma etiqueta. Um batom rosa pode ser reconhecido por um papel aveludado, enquanto um vermelho pode ter uma etiqueta áspera, e assim por diante. A Laramara detecta a melhor maneira para cada aluna e coloca em prática.

 

Em quanto tempo essas mulheres aprendem a se maquiar?

O curso é dado em seis aulas de duas horas de duração cada. Elas aprendem o passo a passo já na primeira aula, e ele é refeito em todas as aulas seguintes. Ou seja, todo o passo a passo é feito pelo menos seis vezes. Isso é importante para a memorização. A ideia é reforçar os gestos, a maneira correta de fazer a maquiagem, porque se maquiar é hábito.

 

Como fica a vida delas depois do curso, na vida real mesmo? Que feedback você tem das alunas das edições anteriores?

Elas contam que gostam de ter alguém da família ou uma amiga para opinar sobre as maquiagens que fazem sozinhas, mas aos poucos vão se libertando desta necessidade de avaliação do outro. O objetivo do curso é dar a elas autonomia e independência. E maquiagem é um treino contínuo, tanto para quem não enxerga quanto para quem enxerga.

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O curso está em sua terceira edição neste mês de maio, e no segundo semestre de 2017 deverá ser aberta uma nova turma. Para informações sobre vagas, deve-se entrar em contato com a Laramara, pelo telefone 11 3660-6400. As aulas são na cidade de São Paulo.

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