Revelações da vida
Depois da separação, Nilva conhece Egídio em um laboratório fotográfico. O amor à primeira vista vira, então, uma aventura sem limites.
Para Nilva, não há obstáculos quando se ama.
Ilustração: Getty Images
Tinha acabado de voltar da minha viagem de férias. Meu padrasto alugou uma casa na praia. Fomos ele, eu, minha mãe, minha irmã e minha sobrinha. Apesar de adorar o mar, estava meio envergonhada. Triste por ter acabado um namoro, eu havia engordado. O maiô agora me apertava. Mesmo assim, me diverti. Quer dizer, tentei me divertir. Poxa! Uma relação de três anos acabara de ir para o espaço, mas estava me conformando. Ele era casado, com filhos. Eu não podia ter esperanças mesmo. A praia me distraía. Ficava tomando sol e, à noite, ia para a roda de samba. Cada moreno lindo! Se minha sobrinha não ficasse na cola, tinha arranjado até uma paquerinha. Fiz tantas fotos! A família inteira posou e minha irmã tirou várias de mim também. Disse que era para levantar o astral. “Você ficou ótima nesse maiô”, ela falava. Na volta, antes de seguir para o trabalho, resolvi levar o filme para revelar. Era uma loja nova. Ficava no shopping, próximo ao consultório do meu chefe. Entrei e esperei o balconista.
Tinha um monte de molduras e retratos de casais na entrada. Gente feliz, que se deixou fotografar e agora estava ali, só para me deixar com inveja. Casais, casais, casais. Por um momento, criei ódio da palavra. “Pode deixar o filme aqui”, resmungou um senhor, interrompendo meu rancor. Quando perguntei se dava para fazer umas cópias a mais, ele pediu um minuto e se dirigiu a uma sala de vidro. “Egídio, tem como duplicar essas daqui para amanhã?”, gritou. Seguindo-o com os olhos, senti uma tontura. O laboratorista era o homem mais lindo que já tinha visto em toda a minha vida! Apesar de baixinho, ele era um charme. Com umas covinhas sem igual no rosto. Logicamente, ele percebeu que eu o fitava. “Para amanhã de manhã”, sussurrou ao velho, dando uma piscadela pra mim. Peguei o recibo trêmula. Parecia que estava andando na corda bamba. Nem na época que conheci o Luiz, meu ex, tinha sentido aquilo. Como pode um homem que você nunca viu antes te deixar num estado desses?”, pensei. Fui para o trabalho atordoada.
Mal conseguia marcar as consultas na clínica. As outras recepcionistas ficavam me olhando. “Nilva, preste atenção, parece que viu lobisomem!”, brincavam. Mas eu sabia que o que tinha visto não era do outro mundo, não. O que passei era real. Amor à primeira vista. Não consegui dormir naquela noite. Fiquei acordada a madrugada inteira esperando o amanhecer. Na cabeceira da cama, o protocolo da loja. O nome dele, Egídio, parecia uma caixinha de música ecoando uma canção bem bonita. Um lado meu dizia: “sua boba, você nem sabe quem ele é…”. Outro contestava: “Você é solteira, livre e desimpedida, vá atrás!”. Mas, e se ele não fosse assim, livre como eu?