Abuso em relacionamento aberto: quais os sinais?
Relações não-monogâmicas nem sempre são saudáveis e podem, sim, ocultar abusos: especialistas alertam sobre riscos e consequências

Mesmo que ainda carregue tabus, é fato que a não-monogamia é uma realidade cada vez mais comum entre casais progressistas, que fogem da norma tradicional e monogâmica de amar.
Mas não é por estar se tornando tão popular que o formato se torna imune a riscos. “Liberdade sem responsabilidade é só egoísmo disfarçado de modernidade”, declara Beatriz Brandão, psicóloga clínica formada pela PUC-SP.
O formato, algumas vezes, pode servir como desculpa para condutas tóxicas. Além disso, manipulações e tentativas de controle podem ser veladas e confundidas com as regras e acordos pré-estabelecidos entre os parceiros.
Vale frisar que não estamos dizendo que este é um problema exclusivo da poligamia, mas sim, da falta de ética relacional.
A seguir, entenda os principais sinais de alerta em relações não monogâmicas, segundo três psicólogas: Maria Eduarda Zucco, Beatriz Brandão e Ana Café!

1. Quebra de acordos
Quando uma das partes ultrapassa os acordos combinados ou os rompe com frequência, usando a não-monogamia como desculpa, é hora de acender o alerta.
Um caso semelhante acontece quando o casal define que só haverá envolvimento sexual com outras pessoas — mas mantém a exclusividade afetiva —, e, ainda assim, um dos parceiros decide manter encontros secretos com entregas emocionais. Isso também representa uma quebra de confiança.
2. Hierarquia como ferramenta de manipulação
Quando uma relação possui níveis hierárquicos — com um vínculo considerado superior aos outros —, a pessoa priorizada pode se aproveitar dessa posição para deslegitimar os sentimentos e necessidades dos demais, além de controlar a dinâmica dos outros relacionamentos afetivos. Isso pode se manifestar, por exemplo, na proibição de pernoites ou encontros de parceiros “secundários” fora de dias específicos, mesmo sem um acordo coletivo.
3. Controle e chantagem emocional
Isso pode ocorrer quando alguém tenta controlar os outros membros da relação (já que a não-monogamia inclui poliamor e relacionamentos abertos) por meio de chantagem emocional, alteração de regras sem aviso ou incentivando a competição entre eles.
Por exemplo, um parceiro pode decidir unilateralmente que apenas ele pode ter novos relacionamentos, sem a aprovação dos demais; ou fazer comentários comparativos como “você não é tão desejado quanto eu”, “vamos ver quem beija mais na próxima vez que sairmos” e até “se você não aceitar certos tipos de relações, vamos terminar”.
O que fazer ao identificar o abuso
- Faça o ‘Teste da Inversão’ sugerido pela psicóloga Ana Café, ao se perguntar: “Se eu estivesse fazendo com meu parceiro o que ele faz comigo, ele aceitaria?’ Ou ainda: “Se fosse uma amiga minha vivendo isso, eu acharia normal?”.
- Reavalie os acordos: rever o que foi combinado (ou deixar explícito o que foi só sugerido) pode ajudar a esclarecer abusos disfarçados.
- Converse com sua rede de apoio: amigos, familiares ou grupos de escuta podem oferecer acolhimento e perspectiva, o que ajuda a reconstruir os próprios limites, nomear o que está acontecendo e se fortalecer.
- Considere apoio jurídico, especialmente se houver violência psicológica, patrimonial ou moral.
Impactos do abuso emocional

Mas, afinal, quais são os impactos disso tudo? Assim como em outros modelos, a lista de efeitos negativos causados por uma relação amorosa tóxica é enorme. Dela, fazem parte sintomas como:
- Despersonalização: distúrbio de saúde mental que causa a sensação de estar desconectado de si, como se fosse espectadora da própria vida.
- Insegurança afetiva persistente: causada pelo medo constante de não ser suficiente ou, até mesmo, de sentir que nunca mais terá relações saudáveis.
- Confusão sobre os próprios sentimentos: gerada pela dificuldade em reconhecer seus desejos e anseios próprios, o que é fruto da manipulação.
- Retraumatização de feridas antigas: os abusos podem despertar lembranças de feridas antigas, principalmente se a pessoa já passou por experiências de abandono ou rejeição.
Inteligência emocional é requisito para qualquer relação

Diálogo constante e maturidade emocional são primordiais para quaisquer tipos de relação, mas para aqueles que são ‘abertos’, o cuidado deve ser, sim, redobrado.
Isso porque, nesse modelo, podem existir múltiplas relações acontecendo simultaneamente, o que exige um nível maior de escuta, empatia e clareza nos acordos e diálogos.
É com respeito e responsabilidade afetiva que se constrói uma relação não-monogâmica saudável. E para isso acontecer, os acordos devem ser explícitos, jamais implícitos.
Além disso, a comunicação deve ser constante e o cuidado e carinho mútuo precisam acontecer na mesma intensidade que em qualquer modelo de relação. “Não esqueça: sair de uma relação abusiva nunca é sinal de fracasso — é autocuidado em sua forma mais corajosa”, afirma Beatriz.
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