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Consumo excessivo de pornografia: entenda como afeta a sua vida sexual

Além de reforçar padrões machistas, o consumo em excesso traz uma dessensibilização do prazer

Por Kalel Adolfo
10 out 2023, 07h39
Em excesso, a pornografia pode diminuir a nossa capacidade de sentir prazer.  (Elton Xhafkollari (Getty)/Reprodução)
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A pornografia, sem sombra de dúvidas, é alvo de inúmeros debates acalorados: há quem a defenda, afirmando que não faz mal a ninguém; já outros a crucificam, apontando que o consumo é extremamente prejudicial à mente humana, ajudando a reforçar estereótipos e padrões sexuais irreais.

A verdade é que, tão importante quanto a discussão acerca do que é certo ou errado, é refletirmos sobre a frequência em que inserimos a pornografia no dia a dia. Em excesso, esse estímulo pode sim trazer prejuízos à vida íntima, afetiva e emocional.

Pensando nisso, entrevistamos as especialistas Luana Couto — psicóloga e terapeuta clínica — e a educadora sexual Luana Lumertz, que esclarecem as principais dúvidas acerca do assunto. Confira:

Pornografia é parâmetro para a vida sexual?

Seja pela ausência de uma boa educação sexual na escola ou dentro de casa, muitos recorrem à pornografia para aprenderem mais sobre o prazer. O grande problema disso é o viés fictício da indústria pornográfica. “Os filmes não reproduzem a realidade. Com isso, criamos expectativas e, logo em seguida, nos frustramos por não conseguir colocar algo cinematográfico em prática”, pontua Lumertz.

Ela cita como exemplo o squirting: segundo a especialista, a prática, extremamente valorizada em produções pornográficas, é atingida por somente 5% das mulheres. “Nesses vídeos, tudo é muito rápido e instantâneo. Quem assiste acaba acreditando que o sexo se resume apenas a penetração, submetendo mulheres à fetiches indesejados.”

Efeitos nocivos do consumo excessivo de pornografia

Couto explica que, no cérebro, os efeitos do consumo de pornografia são similares ao abuso de cocaína. “A mente responde a esses estímulos produzindo dopamina em níveis mais elevados do que em experiências cotidianas. Entre os efeitos, estão o prazer, a satisfação e a motivação. Acontece que, à medida que a pessoa consome a pornografia repetidamente, os níveis de tolerância a este neurotransmissor aumentam”, revela.

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Para manter os efeitos, a psicóloga aponta que o cérebro passa a intensificar o volume, o gênero e o tempo de consumo. “O conteúdo precisa ser cada vez mais estimulante. Em outras palavras, o indivíduo começa vendo cenas ‘comuns’ entre casais e, com o tempo, passa a buscar categorias pornográficas cada vez mais extremas, podendo chegar a um nível que, para se satisfazer como antes, fica praticamente impossível”, alerta.

Prejuízos da pornografia para os relacionamentos

Neste espaço de tempo, Couto esclarece que o cérebro passa a criar padrões de realidade distorcidos, tornando o sexo com a parceria da vida real sem graça e desistimulante. “É importante destacar a repercussão para os jovens que, cada vez mais cedo, estão acessando esses conteúdos, algumas vezes desde a infância. Isso é um enorme agravante, pois estes adolescentes estão conhecendo o próprio corpo e entendendo sobre prazer através de um modelo ‘irreal’, antes mesmo de iniciarem uma vida sexualmente ativa.”

Em longo prazo, a psicóloga revela que essas pessoas podem questionar a própria capacidade de sentir prazer através do sexo, graças às expectativas falsas que foram absorvidas com o pornô.

Consumo de pornô x relacionamentos sérios

Para Lumertz, o consumo de pornografia por casais (em conjunto ou individualmente) não é um problema, desde que ambos continuem conectados na relação. “A grande questão começa quando um dos parceiros se afasta, evita o toque, foge dos beijos, desvia do contato. Quando não conseguimos mais cultivar momentos de qualidade e intimidade com alguém, recorrendo ao pornô como estímulo exclusivo, é necessário redobrar a atenção.”

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Como saber se consumo pornografia em excesso?

Um dos principais sinais de vício, segundo Lumertz, é a dessensibilização erótica: o cérebro necessita de um estilo mais agressivo, intenso e explícito para alcançar o tesão. “A desumanização das mulheres é um outro sinal. Isso significa as enxergarmos como meros objetos de satisfação do prazer masculino”, afirma.

Se masturbar utilizando somente a pornografia também é um sintoma de dependência. “Um agravante é sermos capazes de atingir o orgasmo apenas através do pornô”, revela.

Ela relembra que, sempre que falamos em vícios, há um malefício constante: o prejuízo de outras atividades do dia a dia, como trabalho, relacionamentos, lazer e bem-estar. “A pessoa não consegue ter momentos de tédio. Sempre que possível, ela busca esse prazer instantâneo da masturbação, utilizando os filmes para suprir essa necessidade.”

É possível sair do vício sozinho?

Sair de um vício sem auxílio profissional, apesar de não ser impossível, é improvável. Couto pontua que tanto a nossa forma de pensar, quanto os nossos hábitos e o ambiente em que vivemos influenciam nessa questão. Portanto, o melhor caminho é buscar um especialista na área (médico, psicólogo, terapeuta sexual, etc) que possa apoiar o paciente no entendimento de seu caso, alcançando a melhor estratégia desde o desmame até a remissão e manutenção.

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Existe pornografia saudável?

Por fim, Lumertz revela que não existe uma forma de consumo (ou estilo pornográfico) que seja absolutamente saudável. Contudo, o que percebemos atualmente são narrativas alternativas que fogem dos padrões machistas da indústria: “Cada vez mais, vemos produtoras mulheres criando um conteúdo mais realista, que não seja agressivo ou artificial”, aponta.

Dito tudo isso, temos vários tipos de estímulo, e tudo bem a pornografia ser um deles. Contudo, ele não pode ser o único: “Podemos variar através de um livro, um conto erótico, imagens. O ser humano sempre vai buscar formas diferentes para se excitar. O que eu recomendo é sempre alternar os estímulos e nunca ficar dependente de uma única maneira para atingir o orgasmo”, conclui.

 

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