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Papo Aberto: Trisal indesejado no Carnaval

Em 2016, Fernanda* esperava vivenciar de tudo num bloquinho de Carnaval… Menos se ver envolvida numa trama digna de novela mexicana

Por Em depoimento a Kalel Adolfo
19 fev 2023, 08h31

“A Larissa* é uma amiga de anos, daquelas que você cultiva bastante intimidade. Sempre a ajudei com tudo, inclusive a juntá-la com uma de suas ex-namoradas, a Carol*. Apesar de ter bancado a cupido nessa história, todos diziam que ela, na verdade, era louca por mim. Eu percebia uns olhares, ouvia uns comentários, mas não passava de uma leve desconfiança. Eu preferia ficar na minha. Achava que a galera estava viajando em acreditar que a menina tinha segundas intenções. Mas aí… Veio o Carnaval.

Nós três estávamos animadíssimas para curtir o feriado juntas, pesquisamos bloquinhos para ir, nos preparamos e fomos cantar e dançar um pouco de Sidney Magal na Zona Sul de São Paulo. Chegamos logo cedo e já começamos a tomar caipirinha, cerveja, catuaba — inclusive falamos inglês com o povo do rolê. No final da tarde, acabei vomitando por conta dos exageros, mas como estava divertido, não quis ir embora. Até que começou a chover!

Imagine a cena: eu, maluca, ‘pós-PT’, vestida de marinheiro e ensopada. Como já estava ali, resolvi aproveitar a água caindo do céu para continuar curtindo, enquanto as meninas se protegiam embaixo de um toldo de estacionamento. Claro, deixei o celular antes com a Lari, para não estragar, e fiquei lá pulando sob a tempestade. Foi quando percebi a tal da Carol me olhando sem parar, mas como eu estava tão bêbada, taquei o foda-se e acreditei que estava vendo coisas.

Depois da insanidade, decidi finalmente ir para baixo do toldo pegar meu celular. Nessa hora, a namorada da minha amiga (que estava do lado dela) correu na minha direção e me deu o maior beijo. Eu travei, fiquei em choque, sem reação alguma, assim como a Larissa. A única coisa que fiz foi afastar a cabeça para trás porque não esperava aquilo. Fiquei sóbria na hora, e o clima pesou.

Para disfarçar, a Carol lançou que tinha errado a mira, que queria me beijar na bochecha. Mas ninguém acreditou. Nisso, a minha amiga saiu andando e foi se proteger da chuva em outro lugar. Enquanto eu imaginava o que eu poderia fazer para contornar a situação, a menina já tinha chamado um Uber e se enfiado no carro. Só tive tempo de convencer a doida da Carol a acompanhá-la, porque nem isso ela queria fazer. Voltei para casa arrasada, né? A Larissa não falou nada comigo, e eu temi que aquele fosse o fim da nossa amizade. Dormi triste e humilhada.

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Quando acordei na manhã seguinte, vi que ela tinha mandado mensagem. Contou da briga que tiveram (e da resolução dela) e me chamou para acompanhá-las num almoço naquele mesmo dia. E fica pior, viu? Ela ainda queria ir num outro bloquinho (!!!). Eu recusei, mas ela insistiu tanto, que acabei indo.

Enquanto comíamos num boteco, dava para cortar a tensão com uma faca. Mal senti o gosto da comida, e ninguém falava nada. E quando já estávamos na calçada em direção ao segundo bloco, a Lari disse que havia esquecido algo no bar e deixou a Carol e eu sozinhas esperando. Aí ela já veio aproveitar para me abraçar e minha única reação foi dizer: “Sai daqui”. Nisso, a Larissa voltou, ouviu toda a confusão, mas fingiu não ter visto nada.

ENQUANTO COMÍAMOS NUM BOTECO, DAVA PARA CORTAR A TENSÃO COM UMA FACA. MAL SENTI O GOSTO DA COMIDA, E NINGUÉM FALAVA NADA…

Fernanda*

Chegou num ponto que eu não sabia se ela estava sendo irônica ou se realmente estava calma, porque não tinha como ficar de boa com aquela situação. No fim das contas, descemos a Augusta, [as três] de mãos dadas para não nos perdermos e, obviamente, a namorada dela ficou fazendo carinho na minha. Foi tudo muito constrangedor, não consegui nem beber nem dançar.

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Ainda bem que elas não estão mais juntas. Passou um tempo, e minha amiga disse para deixar tudo quieto, mas isso meio que virou uma piada interna no nosso grupinho. Ninguém fala mais disso, mas quando lembramos do bloco do Sidney Magal, caímos na gargalhada. Aliás, hoje, a Lari namora a ‘ex-melhor amiga’ da Carol. Ela ficou puta, claro, não quis saber mais de ninguém e está  longe de nossas vidas. Ufa.”

*Os nomes foram alterados para garantir o anonimato dos participantes. Para contar sua história, escreva para papoaberto@abril.com.br.

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