Casa colorida: No lar de Mari Sciotti, a alegria e a cozinha são as estrelas da casa
A chef do Quincho, empresária e mãe, faz de seu lar em São Paulo um lugar que combina história, memória e estilo
O aroma de ervas frescas e o som da brincadeira das crianças se misturam à rotina da casa de Mari Sciotti, chef e fundadora do restaurante Quincho, um dos endereços mais celebrados da culinária vegetariana paulistana.
No sobrado dos anos 1960, no bairro do Campo Belo, vive com o marido e sócio, Alexandre Diniz, e os três filhos — Theo, de 18 anos, Serena, de 6, e Santiago, de 1. O espaço é uma síntese da vida que ela construiu: vibrante e sem monotonia.
Formada em moda, atuou por alguns anos na área, mas migrou para a gastronomia ainda muito jovem, e ao longo dos anos se tornou referência da cena vegetariana no Brasil. À frente do Quincho, ela consolidou um trabalho pautado por uma cozinha criativa, natural e ética, conquistando prêmios e reconhecimento do público e da crítica — este ano, o restaurante foi eleito o melhor vegetariano de São Paulo pelo júri da Folha de S.Paulo.
Mas, para além das panelas, também se dedica a pensar sobre o papel da comida e da casa na construção de uma vida mais consciente e equilibrada. “Eu vejo a cozinha como um espaço de liberdade e de escolha. Quando a gente entende que pode cozinhar por prazer, por afeto e não por obrigação, a relação com a comida muda completamente”, reflete.
“Essa casa me permitiu realizar sonhos e me dá todos os dias a sensação de que consegui viver como sempre quis”
Mari Sciotti, chef de cozinha
É esse mesmo olhar que ela leva para a casa em que vive há quinze anos — um lar com paredes coloridas, papéis de parede estampados e móveis de família, onde a rotina de três filhos, encontros com amigos e momentos de silêncio dividem espaço com a personalidade que construiu ao lado de quem ama.
“Sempre sonhei em ter uma família e construir um espaço que fosse nosso. Essa casa me permitiu realizar sonhos e me dá todos os dias a sensação de que consegui viver como sempre quis”, resume.
Um lar que cresce junto
Mari mudou-se em 2010, pouco depois de se separar do pai de seu filho mais velho, Theo. “Eu procurava uma casa para poder morar com meu filho e constituir a nossa família”, lembra. O espaço, um sobrado antigo, foi sendo transformado aos poucos. A primeira grande intervenção veio por necessidade estrutural, mas cada reforma posterior ganhou também uma dimensão de expressão pessoal.
Ao longo dos anos, a casa foi se adaptando à família que cresceu ali. Após a chegada de Alexandre, o casal teve Serena e Santiago, e o lar se encheu de movimento e rotina compartilhada. Mari conta que sempre teve uma relação forte com as artes e que vê na casa uma extensão de sua personalidade.
A residência abriga móveis de família, como um aparador de quase 100 anos que era de sua bisavó e um espelho igualmente antigo. Outro destaque é o pôster “Mais Amor, Por Favor”, criado pelo artista Ygor Marotta em 2009, com quem trabalhou como figurinista, para uma série de lambe-lambes, e que acabou se tornando lembrancinha de seu casamento.
O lar também passou a abrigar espaços multifuncionais, pensados para receber amigos ou simplesmente permitir momentos de pausa na rotina intensa. Para Mari, esses ambientes simbolizam a ideia de que a morada está sempre em transformação, acompanhando as mudanças de quem vive ali. “A gente precisa ser primeiro dentro para depois ser fora. Se a sua casa está uma bagunça, como você vai para fora ter outra energia?”, reflete a empresária.
Lugar de autonomia
O coração da residência é a cozinha, espaço de encontros, aprendizado e reflexão sobre protagonismo. Mari defende que cozinhar não deve ser visto como obrigação ou lugar de opressão, mas como um exercício de independência.
“Eu vejo a cozinha como um lugar muito empoderador. Você não tem como ter qualidade de vida sem se preocupar com o que está comendo. Não precisa ser um grande chef de cozinha, cozinhar todo dia, mas todo mundo precisa saber fazer seu próprio alimento”, afirma.
“É importante ensinar que a casa não é só da mãe, nem da mulher, é de todo mundo que mora nela”
Mari Sciotti, chef de cozinha
Ela explica com clareza: “Se você não fizer, alguém vai fazer — o aplicativo de delivery ou a indústria. E aí você está colocando algo essencial da vida nas mãos de alguém que não está nem aí para você.”
E vai além: “Para meu filho homem, sempre fiz questão de que entendesse o valor de cuidar da casa, de lavar a louça, de participar dos afazeres domésticos como parte da responsabilidade dele, mas também do cuidado. É importante ensinar que a casa não é só da mãe, nem da mulher, é de todo mundo que mora nela”.
“A cozinha não é prisão: ela é liberdade. É o lugar onde a gente decide, cria, cuida da gente e dos outros”
Mari Sciotti, chef de cozinha
A chef acredita que parte do discurso feminista, ao buscar libertar as mulheres de papéis tradicionalmente impostos, acabou também afastando muitas delas da cozinha. “Quando a gente começou a se empoderar, a conquistar o mundo lá fora, acabou se afastando de um lugar que é extremamente potente. A cozinha não é prisão: é liberdade. É o lugar onde a gente decide, cria, cuida da gente e dos outros.”
Para Mari, a importância desse espaço vai além da prática cotidiana: “Historicamente, a comida sempre teve um papel revolucionário, inclusive para as mulheres. As sábias, consideradas bruxas, usavam a cozinha como lugar de cura. Cozinhar é transformação, é autonomia, é poder — porque a gente não está dependendo de ninguém para nutrir nossa vida”. Esse pensamento se reflete no cotidiano da casa: todos participam do preparo e do cuidado.
“A cozinha sempre vai ocupar um lugar central porque ela reflete tudo: como a gente se sente, como a gente cuida da vida, da família, do corpo, da mente. É um espaço de escolha e de liberdade se a gente deixar ser.”
Pausa que acolhe
O mezanino acima da garagem, concebido posteriormente em uma das reformas conduzidas pelo casal, se tornou um dos espaços mais simbólicos da casa. Foi ali que Mari viveu alguns de seus momentos mais íntimos.
“Eu acordava às 5 horas da manhã, ia para o mezanino e via o dia ainda escuro. Eu rezava, meditava, ficava com meus pensamentos e via a rua começar a se movimentar. Virou meu lugar de reza”, conta, lembrando do período após a perda de sua filha, Celeste, durante o parto. “Tem também esta Nossa Senhora Aparecida, que é muito especial”, diz, apontando para um cantinho da sala reservado para sua fé.
“Eu perdi uma filha no dia de Nossa Senhora, desde então fiquei realmente devota. Minha sogra me deu a imagem, e ela fica ali para abençoar a nossa casa. Quando Santiago nasceu — ele veio depois da Celeste — eu levei a imagem comigo para a sala de parto”, recorda. A experiência marcou profundamente sua relação com o lar, que passou a representar um abrigo emocional.
Hoje, a chef associa esse mesmo espaço a uma nova fase da vida. Com Santiago um pouco maior, tem retomado a rotina de acordar cedo e reservar alguns minutos para si, num gesto de reconexão e calma antes do dia começar. Entre os ambientes da casa, ela valoriza aqueles que transmitem acolhimento. É ali que a família se encontra, se alimenta, se reconecta — mas também onde encontra equilíbrio para lidar com perdas e desafios. “Essa casa acolheu a nossa história. Meu filho mais velho nem se lembra da vida sem ser aqui. É meu lugar no mundo”, conclui.
CRÉDITOS DE PRODUÇÃO
Texto Marina marques
Fotos Wesley Diego Emes
Edição de arte Laís Brevilheri e Luana alves
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