Paula Pimenta: Beleza além das “gotas da juventude”
General manager Latam da The Body Shop, escritora e palestrante, chama para si a responsabilidade de transmutar o etarismo
Se você estivesse no comando de uma grande marca, arriscaria trocar o nome do seu produto que é um best-seller disparado? Na contramão da máxima “em time que está ganhando não se mexe”, a The Body Shop fez exatamente isso com o Drops of Youth. Em português claro, o sérum oferecia “gotas da juventude”, numa formulação antioxidante poderosa (que, de verdade, deixa a pele macia e com mais viço). Mas havia um problema: a terminologia que associava beleza à pouca idade.
“Mudamos para sermos fiéis àquilo que acreditamos”, conta Paula Pimenta, general manager Latam da The Body Shop, além de escritora e palestrante. “Assumimos o risco e fizemos um relançamento contando toda a história por trás do Edelweiss, um nome inclusive difícil de falar para nós, brasileiros, mas que hoje vende ainda mais do que antes.”
Por trás do sucesso está a tecnologia — desenvolvida com ingredientes veganos à base de uma flor que cresce na região montanhosa dos Alpes e ajuda a aumentar a resistência da pele contra fatores agressores do meio-ambiente, como a poluição — e também a fidelidade a uma visão de mundo feminina desde 1976, quando a marca foi criada em Brighton, no sul da Inglaterra. “A Anita Roddick fundou a The Body Shop quando já tinha duas filhas, a necessidade de empreender veio mais madura. Comprei num sebo o seu livro Body And Soul e fiquei apaixonada: ela decidiu não investir em marketing com supermodelos, e achava um absurdo o cliente pagar caro pela embalagem que no final seria jogada fora”, conta Paula, sem esconder sua admiração pela empreendedora visionária, defensora do comércio justo na esfera social e ambiental e contrária ao teste em animais até sua morte, em 2007.
Na trajetória pessoal e profissional de Paula, igualmente, não faltam passagens inspiradoras, que nos lembram que sempre é tempo de cultivar transformações que venham para o bem. Engenheira de alimentos por formação, essa mineira que morou no interior do Pará e depois em Goiânia (GO) saiu da área técnica para a área de qualidade dentro da Natura & Co (dona da The Body Shop desde 2017) encorajada por uma líder mulher, que acreditou que ela daria conta. E deu mesmo.
“Tinha muitas nóias e dúvidas, mas falei com meu marido: ‘Burro montado só passa uma vez’ ”, lembra Paula, sempre com bom humor. “Aproveitei a oportunidade e fui liderar um time mais experiente do que eu, um movimento que foi fundamental para quebrar barreiras, saber fazer perguntas, ouvir, mergulhar.” Na diretoria de atendimento ao cliente, fortaleceu a visão de relacionamento com a consumidora e conexão com sua expectativa. “Me trouxe ainda mais empatia”, conta ela, com carinho pela época.
Quando chegou o desafio de assumir a The Body Shop no Brasil e na sequência na América Latina, o alinhamento com os valores de Anita Roddick tornou tudo mais simples. “Conhecer a história dela destravou alguma coisa dentro de mim. Estar em uma marca que tem essa história, que acredita no que eu acredito, é um presente. O que mais me pega é o empoderamento feminino. Os lares são sustentados por mulheres. Desde a criação do mundo, a mulher tem um papel tão importante. Entender o poder que a gente tem para fazer um mundo mais justo e melhor me faz não ter medo de nenhum desafio.”
Mas e quando os obstáculos passam pela nossa própria autopercepção, por aquela voz sussurando insistemente na cabeça quando estamos diante do espelho que deveríamos buscar rejuvenescer? Aos 43 anos hoje, Paula coloca sempre em primeiro plano a tranquilidade, a temperança e o equilíbrio emocional que ganhou com a experiência. “Se tivesse a chance de voltar a ser a Paula de vinte e poucos anos, não trocaria nunca. Com o privilégio de fazer aniversário, vêm cicatrizes e aprendizados”, diz ela. E completa: “É muito mais fácil passar pela vida nessa idade, com a sabedoria que eu ganhei ao longo desses anos. Viver mais um dia é envelhecer mais um dia, quero encontrar formas de passar por isso bem”.
Desenvolver internamente essa maturidade não exclui a necessidade de fazermos mudanças estruturais na forma como a sociedade impõe padrões de belezas etaristas. Aqui, Paula Pimenta volta a inspirar-se em Anita. “Na década de 1990, ela criou a boneca Ruby e afirmou: ‘Existem 3 bilhões de mulheres que não se parecem com supermodelos e apenas oito que se parecem’”, conta. Além da foto da linda boneca de barriga saliente e coxas grossas, o anúncio da época dizia: “Conheça sua mente, ame seu corpo”. Outras iniciativas da marca que ajudam na desconstrução de preconceitos incluem a escolha de pessoas comuns para as campanhas, lançadas sempre sem uso de programas de tratamentos de imagem, como o Photoshop. “Se você quer evitar rugas, não sorria. Se quer ficar perfeita, não pode viver. Temos o privilégio de envelhecer”, completa Paula, sorrindo de orelha a orelha.