Trocaram nossas lindas filhinhas na maternidade!
Depois de dez meses de desconfiança, as duas crianças fizeram o exame de DNA. Sofremos muito com a descoberta, porque o nosso amor já era incondicional

Da esquerda para a direita: as mamães Milena e Sandra, com as filhas Beatriz e Maria Fernanda
Foto: Márcia Motoda
A história da Milena
Dona da história: Milena Filetti Mustafe, 42 anos, professora, São Joaquim da Barra, SP
”Sua filha é tão criativa. Ela disse aos coleguinhas que foi trocada na maternidade, acredita?!”
”Acredito, sim”, respondi à professora da Maria Fernanda.
Meu parto ocorreu as 7h20 da manhã do dia 7 de fevereiro de 2003. Escolhemos um lindo nome: Beatriz. Foi um dia de alegria, tivemos nossa tão esperada menina! Mas algo estava errado.
Quanto falatório!
Minha sogra foi a primeira a desconfiar. ”Essa menina não se parece com ninguém!”, disse ela, 20 dias após o nascimento. Com o tempo, todos notaram o óbvio. Menos eu e meu marido. Estávamos tão empolgados com nosso bebê! Em casa temos o cabelo liso. A Bia era linda, mas tinha as madeixas bem enroladinhas. Realmente, nada a ver com a gente.
Começaram os comentários maldosos. Moro em cidade pequena. Aí, já viu, né? Minha reputação foi abalada. Chegaram a dizer que tive caso com meu cunhado, filho adotivo da minha sogra. Graças a Deus, meu marido nunca duvidou de mim.
Coisa de novela
Fizemos o exame de DNA. Afinal, não tínhamos o que esconder. Quinze dias depois, surpresa: a Beatriz não era nossa filha. Meu bebê foi trocado na maternidade! Escândalo. Aparecemos nos jornais da cidade e até na tevê.
Mas minha menina já tinha 10 meses. Nosso amor por ela era infinito. Que sofrimento! Ainda assim, precisávamos esclarecer a situação. Anunciaram o caso na rádio da cidade. Pedimos, então, para que os pais de crianças nascidas naquele dia fizessem o exame. E descobrimos nossa menina.
A dor da destroca
Recorremos à Justiça para consertar aquele grande erro. Foi sofrido para todos. Até a juíza do caso chorou. Ela determinou que, ao completarem 1 ano, as crianças fossem destrocadas.
Fizemos a festinha de aniversário das duas juntas. Não foi bom, éramos todos estranhos. Um mês depois, as destrocamos. Dia horrível. Foi como se perdesse uma filha viva. Meu marido não aguentou ir. Eu e a outra mãe choramos demais. Fizemos tratamento psicológico por um ano e recebemos visitas da assistente social por cinco meses, para acompanhar a adaptação das crianças.
Elas viraram irmãs
As meninas cresceram e hoje estão com 7 anos. Estudam na mesma escola e são como irmãs.
Trocam batom, bolsinhas, levam lanche uma pra outra. Fazemos questão que mantenham este contato para sempre!
Brinco que vivemos como casais que se separaram. No início, podíamos ficar com a Beatriz a cada 15 dias, e eles com a Maria Fernanda. Agora, sempre que queremos, as pegamos. Tudo o que compro pra uma, a outra ganha igual. Meu marido já recebeu uma ótima proposta de trabalho em outra cidade e não deu pra topar. Não posso viver longe da Bia.
Entramos de novo na Justiça. Agora contra o hospital, por danos morais, materiais e, principalmente, por mexerem com o rumo de duas famílias. Eles pagarão com dinheiro esse vazio no meu peito que nunca será preenchido.