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Traços de autismo, traços de amor

Colunista da CLAUDIA FILHOS, a jornalista Chris Flores conta a história de Laudirene, uma mãe que ensina a cada dia seu filho, Gabriel, a ser carinhoso, a abraçar e a beijar.

Por Chris Flores
Atualizado em 22 out 2016, 23h25 - Publicado em 24 fev 2015, 05h00
Getty Images
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Laudirene sempre quis ser mãe. Planejou sua vida para isso. Trabalhou, cuidou da carreira, casou e decidiu ter seu filho com exatos 35 anos – nem muito nova, nem muito velha. Tudo estava dentro dos conformes. Mas os imprevistos começaram a acontecer. Na gravidez e na vida de seu bebê. No primeiro pré-natal, ela descobriu um diabetes gestacional e precisou ficar internada durante 11 dias, para ajustar dieta e insulina. Laudirene desejava tanto aquele bebê que esquecia os problemas de saúde e só pensava em como seria a carinha dele. No primeiro ultrassom, soube que tinha um anjo a caminho: Gabriel.

O menino nasceu forte e bem esperto. Com 10 meses, já andava; e, como os dentinhos nasceram antes do previsto, Gabriel estava pronto para ir à escolinha. Lá, como toda mãe, Laudirene começou a comparar o desenvolvimento dele com o de outras crianças, e algo chamou sua atenção. Com 1 ano e meio, o filho ainda não falava. Todos diziam que era paranoia de mãe, mas ela sabia que algo estava estranho. Aos 2 anos, nada de falar ainda, e ela levou o filho à fonoaudióloga. Mesmo assim, Gabriel não conseguia desenvolver a fala. Depois de muitas consultas, com vários médicos, de diversas especialidades, um neurologista chegou a um diagnóstico: traços de autismo. O mundo de Laudirene desabou. Como um menino ágil e extremamente inteligente poderia ser autista?

Da indignação à tristeza, do desespero ao amor, ela foi redescobrindo o próprio filho e aprendendo como poderia ajudá-lo a ser feliz e a interagir com um mundo não muito simpático às diferenças. Laudirene percebeu que estava em uma luta solitária. Viu que muitos especialistas não sabiam o que fazer. Depois de procurar alguns médicos, encontrou um neuropediatra que o seu coração dizia ser seu futuro grande parceiro. E foi. Esse doutor formou uma equipe de especialistas, com fonoaudióloga e psicóloga, para cuidar do Gabriel. Com essa ajuda, ela descobriu que, por ter um filho fora do padrão, teria uma caminhada longa, mas que poderia crescer junto nesse desafio.

Toda essa luta por uma qualidade de vida melhor para Gabriel foi travada sozinha. Com empresa no Brasil e negócios na Ásia, o pai se mudou para o outro continente e deixou Laudirene sozinha com o menino. A divergência do casal se deu por ele acreditar que o filho poderia ser cuidado em qualquer lugar do mundo e que a mulher não deveria se preocupar mais com o filho do que com o marido. Mesmo tendo a sede de sua empresa do outro lado da rua da casa do filho, quando vem ao Brasil, o pai quase não o procura e nem ajuda financeiramente. Mas isso não abala Laudirene tanto quanto o medo de que o filho sofra preconceito. Ela se esforça para mostrar ao menino que o amor é o principal elemento de socialização. Ensina Gabriel a ser carinhoso, a abraçar, a beijar. E ele aprendeu direitinho. A fala melhorou bastante, apesar de ainda ser um grande desafio. Já completa frases como “boa noite”, com a ajuda e a paciência da mãe. Seu maior sonho é que ele se torne o mais independente possível e que seja feliz. “Para mim, ele é mais do que perfeito, é tudo na minha vida”, diz, com a emoção que só as mães podem sentir.

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