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Tati Bernardi se despede da vida virtual: “Adeus, redes sociais”

A convite de CLAUDIA, a escritora escreveu sobre o eterno conflito que é tentar viver uma vida mais desconectada

Por Tati Bernardi*
24 abr 2017, 16h24
 (*/ThinkStock)
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Decidi que o Facebook é um atraso na minha vida, que o Instagram está me dando tendinite e que o WhatsApp oferece aos meus pais e amigos a sensação de que estou no cômodo ao lado totalmente desocupada. Tem gente que grava áudio de meia hora apenas pra reclamar de constipação intestinal. Vocês estão perdendo o controle.

Então escrevi um longo texto de despedida, cheio daqueles clichês sobre aproveitar a luz da minha varanda ao cair da tarde, colher fruta do pé, caminhar descalça em um parque, sobre a importância de nos olharmos profunda e presencialmente nos olhos, sobre essa coisa toda chamada contato humano.

Mentira, eu jamais escreveria essas chatices que emocionam a tia Cidinha. Eu apenas disse que estava muito ocupada e que, apesar de ser completamente viciada em saber o que todos vocês, sobretudo os menos interessantes, fazem da vidinha, daria um tempo das redes sociais e dos aplicativos de papo infinito. Seria muito difícil viver sem saber que sobremesa você fotografou, que vestido de renda branco você usou, que foto do seu filho numa poltroninha ao lado de um ursinho “seis meses, cinco dias e duas horas” você postou. Sim, mas eu sobreviveria. Até porque é preciso focar no trabalho pra sobreviver.

Acontece que, após publicar minha carta de desintegração, achei por bem acompanhar seus desdobramentos. Quem iria ao meu pseudovelório virtual? “Não, por favor, não faça isso, você alegra meu dia”, imploraram alguns. “Já vai tarde, te acho uma sonsa”, comemoraram outros (pra sempre me perguntarei por que pessoas que não gostam de mim me seguem,  leem o que escrevo, e comentam diariamente nas minhas páginas). Achei educado responder aos queridos e necessário bloquear os indigestos.

Daí, achei educado responder à tréplica amorosa dos fofos e desbloquear os desgraçados (eles têm o direito de me odiar, ora essa!). Segui respondendo infinitamente para alguns e bloqueando e desbloqueando eternamente outros, e novamente. Então achei importante avisar que “assuntos de trabalho” seriam tratados por e-mail.

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Depois achei que meu e-mail pessoal não deveria estar assim tão exposto. E mandei mensagens privadas a todas as pessoas que poderiam tentar me procurar pra falar de trabalho. E os amigos que iriam me procurar para festas, jantares, saudades? Mandei a eles também mensagens privadas com meu celular. Mas será que lembrei de todos? Criei então um grupo grande de conhecidos pra avisá-los de que eu não participaria mais de nenhum grande grupo de conhecidos.

Tenho um vício terrível chamado explicação. E porque os outros têm um vício terrível chamado provocação, escrevi mais e mais cartas de despedida. Textos pra explicar que não era pra sempre. Textos pra explicar que não era nada pessoal. Textos pra explicar que ironia não é pra todos. Textos pra explicar por que eu estava me explicando. Textos dizendo que eu não devia nada a ninguém. Textos explicando por que, mesmo não devendo nada a ninguém, eu ainda devia essa e mais essa explicação.

E, ao fim de dez dias tentando escrever minhas últimas palavras nas redes sociais, achei mais fácil desistir de desistir e postei uma foto do pôr do sol na minha varanda. Às 4 da manhã, acordei com uma angústia terrível, só pacificada ao ver mais de 50 likes.

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*  Tati Bernardi é escritora, redatora, roteirista de cinema e televisão. Seu livro mais recente é Depois a Louca Sou Eu (Companhia das Letras)

tati-bernardi
(*/Divulgação)
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